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Especialista diz que metas agressivas estimulam corrupção nas empresas

A Operação Trapaça, realizada na segunda-feira (5) pela Polícia Federal, prendeu executivos da gigante do agronegócio BRF, entre eles o ex-presidente Pedro de Andrade Faria, acusados de fraudar resultados de exames de amostras de produtos. Novamente, o país vê grandes empresas envolvidas em corrupção e práticas antiéticas. Para entender por que casos como esse parecem cada vez mais comuns, MONEY REPORT conversou com Sérgio Lazzarini, professor da escola de negócios Insper e um dos mais renomados pesquisadores do Brasil sobre as relações entre o setor público e privado. Abaixo, os principais trechos:

 

O que explica a corrupção?

A corrupção acontece quando grupos querem capturar ganhos econômicos a partir de acordos ou transações sem respeitar leis ou princípios éticos. Há quem diga que a corrupção pode ser boa porque, no Brasil, a burocracia e outros problemas impõem dificuldades imensas na economia. Segundo essa linha, abrir um negócio no Brasil, por exemplo, é difícil e, para acelerar uma obra ou alvará, é vantajoso pagar propina para o agente público. No fim das contas, o país sai ganhando porque a obra gera empregos e melhora a infraestrutura. Mas o argumento é frágil porque a saída não é driblar o problema, mas resolver as ineficiências que dão origem ao problema.

Qual o efeito disso?

Ao “institucionalizarmos” um ambiente em que os problemas são resolvidos via pagamento de propinas, estamos ajudando a concentrar o poder e diminuir a concorrência porque há muitas empresas que não têm condições financeiras para entrar nesse jogo. Esse é outro efeito ruim da corrupção.

A corrupção está aumentando no Brasil?

Temos piorado nos rankings, como o da Transparência Internacional (o país caiu 17 posições na última edição, divulgada em fevereiro, e está na 96° posição entre os países menos corruptos, num ranking com 180 países). Há países muito mais corruptos, mas estamos longe da situação ideal. A percepção de que o país está mais corrupto aumentou em função de investigações e punições que hoje ocorrem. Isso é um fator positivo. Temos hoje instituições melhores do que há quinze anos.

Mas esses rankings pegam a grande corrupção. Também temos as chamadas “pequenas” corrupções. Por exemplo, pagamento de propina para escapar de uma multa de trânsito. Essas pequenas corrupções também são minimizadas com o combate à burocracia estatal. Um exemplo pode ser o Poupatempo, em São Paulo. Ao emitir documentos de forma rápida e eficiente, diminui-se a chance de que haja propinas no processo.

E  corrupção nas empresas?

Aí é o que eu chamo de corrupção sancionada. Por exemplo, um médico que receita uma medicação para um paciente e indica a marca do remédio e em qual farmácia comprar, sem levar em conta que o medicamento genérico pode ser mais barato ou que haja uma farmácia vendendo por um menor valor.

 Isso é corrupção?

Há uma linha tênue, mas pode ser chamado de corrupção sancionada pelas normas da profissão ou pelas empresas.

Por que isso ocorre?

Acho que é resultado da prática das empresas de colocar metas de desempenho sem se importar com o modo como elas serão atingidas. As empresas precisam estabelecer metas de desempenho, mas, junto, poderiam criar metas de qualidade e ética. Concordo que seja difícil mensurar essa segunda meta. Mas fato é que, por comodidade ou sem perceber, as empresas focam apenas nas metas numéricas que, quanto mais agressivas, mais incentivam o descumprimento da ética. A pessoa com essa meta é incentivada apenas a entregar o resultado e, para isso, pode adotar um comportamento anti-ético, como um vendedor que empurra um produto que o cliente não pediu. Esse tema foi examinado pelo economista Bengt Holmström, que ganhou o Nobel em 2016.

Como resolver o problema da corrupção hoje?

Precisamos de um ambiente institucional mais aberto, que facilite a entrada de novas empresas, para aumentar a competição. Essas investigações que estão punindo grandes empresas estão fazendo com que elas se tornem mais cautelosas. Estamos indo na direção correta. Precisamos criar um ciclo virtuoso, fazendo reformas para renovar o capitalismo. Hoje, o que me preocupa é ver a postura de setores que combatem a corrupção sendo lenientes com posturas antiéticas que lhes beneficiam.

Por exemplo?

Juízes que recebem auxílio moradia. Como eles vão combater a corrupção de terceiros se não abrem mão de privilégios? Outro exemplo são políticos corruptos. Nas duas situações, há perda de legitimidade. O país precisa fazer um esforço para acabar com privilégios setoriais.

Como o país pode fazer isso?

Com líderes que não tenham o rabo preso, que tenham reputação imaculada. Os grupos que eu citei há pouco precisam entender que parte do processo de combate à corrupção envolve a retirada de privilégios.

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Comentários

Uma resposta

  1. Por que existe CORRUPÇÃO?
    Porque existe IMPUNIDADE.

    Por que existe IMPUNIDADE?
    Porque existe INJUSTIÇA?

    Por que existe INJUSTIÇA?
    Porque existem PRIVILÉGIOS.

    Por que existem PRIVILÉGIOS?
    Porque existe o CORPORATIVISMO!!!

    Chegamos ao cerne da questão.
    Enquanto não for combatido sem tréguas o CORPORATIVISMO ( causa ) continuará a gerar todas as outras mazelas ( consequências ) na administração pública.

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