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FGV: Efeito Trump gera incertezas no comércio exterior

Balança comercial de outubro registrou superávit de US$ 4,3 bilhões, levando o acumulado do ano para US$ 63 bilhões – US$ 17,8 bilhões a menos na comparação anual

A eleição de Donald Trump traz um cenário de incertezas e tensões no comércio mundial. Além de declarar que não apoiará as iniciativas relacionadas ao tema da transição energética em direção a fontes limpas, o presidente eleito dos Estados Unidos pretende elevar as tarifas de importações em 60% para a China, de 10% até 20% para outros países e, dependendo de negociações sobre emigração, em 25% para o México. Efeitos inflacionários, aumento da taxa de juros e valorização do dólar são alguns dos possíveis efeitos dessa medida que irão repercutir de maneira global. No Brasil, um dos impactos seria a menor margem de manobra para reduzir juros. A análise faz parte do Indicador de Comércio Exterior (Icomex) da Fundação Getúlio Vargas Instituto Brasileiro de Economia (FGV Ibre) desta sexta-feira (22).

No campo do comércio, medidas unilaterais de proteção poderão ensejar um acirramento do protecionismo no mundo, o que reduzirá o crescimento do comércio mundial. Ainda há dúvidas se Trump irá impor esse aumento generalizado para todos os parceiros, fora a China, ou usará essa ameaça como arma para extrair vantagens como acesso a mercados ou alianças contra China.

A participação do Brasil nas importações dos Estados Unidos foi de 2,6% e nas exportações de 1,2%, em 2022. Segundo os dados do software World Integrated Trade Solution (WITS) do Banco Mundial, entre os 116 países que os Estados Unidos têm superávit, o Brasil está na 7ª posição. O maior superávit é com os Países Baixos, seguido de Hong Kong, Cingapura, Austrália, Emirados Árabes e Reino Unido. Esse resultado poderia ser entendido como favorável ao Brasil. No entanto, basta lembrar que, quando no primeiro mandato Trump, por questões de segurança nacional impôs restrições para vários produtos siderúrgicos e de alumínio, o Brasil não foi excluído.

Os Estados Unidos são o segundo destino das exportações brasileiras, após a China. A diferença na participação dos dois países supera 10 pontos percentuais. No acumulado até outubro, a participação da China era de 29,3% e dos Estados Unidos de 11,6%. Ressalta-se que, durante esse ano, o desempenho das vendas para os EUA superou o da China. Entre o acumulado do ano até outubro de 2023 e 2024, o volume exportado para os Estados Unidos cresceu 11,5% e para a China, 3,9%. Na comparação mensal, o volume exportado para a China recuou em -10,2% e para os EUA aumentou em 7,7%.

Nas importações, a China lidera o aumento do volume importado na comparação mensal (63,6%) ou no acumulado do ano (38,6%). Para os Estados Unidos, as variações são menores, 4,3% (mensal) e 3,4% (acumulado no ano). Apesar da maior variação no volume importado do que exportado para a China, os preços de exportação recuaram 7,1% e os da importação 13,1%. No caso dos Estados Unidos, o resultado é o inverso, maior variação no volume exportado do que no importado, mas os preços exportados recuam 1,8% e os de importação aumentam 2,6%, o que ajuda a explicar o déficit comercial americano e o superávit com a China.

Balança comercial

A balança comercial de outubro registrou superávit de US$ 4,3 bilhões, levando o acumulado do ano até esse mês para US$ 63,0 bilhões, um valor US$ 17,8 bilhões inferior ao de igual período em 2023. Com esse resultado, o saldo para o ano de 2024 deverá ficar ao redor de US$ 75/78 bilhões. As importações continuam liderando a variação dos fluxos de comércio. Na comparação interanual do mês de outubro, as importações aumentaram em valor, 22,5%, e na comparação do acumulado do ano até outubro, 9,5%. As exportações recuaram 0,7% na base mensal e subiram 0,5%, na base de comparação do acumulado do ano.

Os preços das commodities exportadas continuam em queda em relação ao ano anterior e os das não commodities aumentaram. Em temos de volume exportado, a variação das commodities supera a das não commodities. Na comparação mensal, aumento das commodities (5,8%) e das não commodities, 3,6%.

Em termos de volume, a liderança das importações foi da agropecuária, na comparação mensal e no acumulado do ano. Na base mensal, o principal produto importado da agropecuária, trigo, com participação de 29,3% no setor, registrou aumento de 95% em toneladas. O segundo principal produto, frutas e nozes não oleaginosas, participação de 22,3% e crescimento de 35,7%, em toneladas. A cevada, com participação de 5%, registrou variação de 680%, em volume.

Na indústria de transformação, com aumento de volume em 33,4% no mês de outubro, os principais produtos importados foram adubos e fertilizantes (participação de 6,6%), óleos combustíveis (5,9%) e partes e peças para veículos (4,0%) com variações de 9,2%, 17,7% e +38,8%, respectivamente e em toneladas. Equipamentos de telecomunicações, participação de 2,5%, registrou variação de 88%, em temos de toneladas, na base mensal de comparação. A descrição dos principais produtos mostra que o aumento do volume importado não revela mudanças na pauta das compras brasileiras.

Na comparação do acumulado do ano até outubro, a variação do volume importado de máquinas e equipamentos da transformação foi de 24,8% e da agropecuária recuou em 7,3%. No mês de outubro, porém, a agropecuária registrou aumento de 33,8%. No volume importado da transformação, o aumento foi de 15,1%, no acumulado do ano, e de 7,9% para a agropecuária. No mês de outubro, a transformação registrou variação de 32,1% e a agropecuária de 6,7%.

(FGV)

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