O ministro da Economia, Paulo Guedes, defende que a desvalorização cambial favorece os investimentos no Brasil. Para ele, o atual cenário favoreceria as empresas estrangeiras a investirem no país por ter ganhos extras com a desvalorização da moeda. “O dólar foi lá em cima por causa desse barulho político, incerteza, briga, confusão. Os fundamentos econômicos estão sólidos, estão aí os gatilhos fiscais, os marcos regulatórios, o Banco Central independente, o déficit em queda”, disse nesta sexta-feira (19).
Culpar os ruídos políticos pelas incertezas que derrubam o real não é errado, mas a situação cambial em si gera uma cadeia de problema que hoje são as dores de cabeça que acabam indo parar nas mãos do Congresso e do Palácio do Planalto, mas que afetam mesmo é quem trabalha e produz. Indo pelo mais fácil, as constantes altas nos preços dos combustíveis ao consumidor nas bombas desaguam nos fretes, gerando uma cascata que encarece as mercadorias nos supermercados, contribuindo para a elevação da inflação (IPCA) e da taxa Selic. A situação é tão séria, que o ICMS se tornou um algoz pouco convincente na tentativa de tentar tirar o problema do Ministério da Economia. O ICMS é um tributo quase na ponta final do consumo. Seu papel é contribuinte à inflação, mas jamais sua causa.
O agronegócio também acaba absorvendo os danos cambiais, mesmo vendendo suas produções em dólar ao mercado internacional. Isso porque o setor utiliza uma série de insumos importados, como defensivos agrícolas específicos, sementes transgênicas e componentes de adubos. Fora isso, o maquinário utilizado no campo é em boa parte importado. Assim, aqueles que querem modernizar sua produção pagam mais caro, fazendo os ganhos das exportações perderem parte do efeito. A solução é não investir, provocando sucateamento ou perda gradual de produtividade em quem está descapitalizado. Outro setor ignorado é a indústria, que na base e na transformação dependem de importações de componentes.
Guedes continuou seu discurso em desfavor da macroeconomia para justificar o descalabro cambial que o país enfrenta. A independência do Banco Central (BC) é positiva, mas mostra efeitos no longo prazo e não se traduz em operações de swap cambial para manutenção de uma política monetária sólida. O ministro não comentou a ingestão as incertezas fiscais promovidas pelo aumento exorbitante e não estimado dos precatórios a serem pagos pela União e o desgaste criado pelo teto que a PEC que abre espaço orçamentário oferece. Em suma, quem sai ganhando com o desequilíbrio é o capital especulativo, que assumiu o lugar dos investimentos estruturantes que a economia brasileira tanto necessita para se modernizar. Algo que deveria estar no topo da agenda e das afirmações do ministro mais importante do atual governo.