O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, emplacou uma importante vitória ontem – a de voltar a cobrar tributos sobre a gasolina e o etanol, ao contrário do que muitos petistas, incluindo a presidente do partido, Gleisi Hoffman, queriam. Economistas, banqueiros e empresários viam essa queda de braço com preocupação. Afinal, Haddad havia dito que essa cobrança era um ponto importante no equilíbrio das contas públicas. Caso a desoneração fosse mantida, o sinal de que poderia haver um desarranjo nas previsões de déficit fiscal seria aceso.
Ao mesmo tempo que Haddad queria a volta dos tributos se preocupava com os impactos que o reajuste dos combustíveis teria na inflação (ainda em alta). Um litro de gasolina, com o fim da desoneração, iria custar R$ 0,68 mais caro, o suficiente para turbinar a cadeia de preços. No final, uma solução pôde ser adotada para atender os anseios da Fazenda: a reoneração será feita em ondas, em doses mensais. Com isso, o impacto nos índices de preços será menor e, ao mesmo tempo, a arrecadação do Tesouro será vitaminada. Aparentemente, resolveu-se a questão sem grandes sobressaltos.
A vitória de Haddad deixa os representantes do mercado mais tranquilos. Mas é o típico caso em que a batalha foi ganha, mas o final da guerra – anabolizada por muito fogo amigo – ainda está longe de acontecer. Se é que haverá um desfecho nessa disputa.
O principal oponente do ministro da Fazenda (e candidatíssimo ao cargo) é o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante. Ele, com a colaboração de Gleisi, dispara a maioria dos petardos que hoje atingem Haddad.
Muitos apontam uma semelhança indesejável deste Lula 3 com a administração de Dilma Rousseff. Por enquanto, porém, a condução da economia está totalmente fora dessa paridade. As ações de Fernando Haddad são muito diferentes das de Dilma – quer dizer, do ex-ministro Guido Mantega. Haddad tem procurado respeitar as leis de mercado e tem sido elogiado pelo empresariado de forma geral. Se Mercadante conseguir aumentar seu espaço dentro da administração e obter o que tanto almeja – o posto de Haddad –, o panorama econômico brasileiro correrá enormes riscos de se deteriorar, como o que observamos no segundo mandato de Dilma.
Haddad rapidamente compreendeu que não haverá crescimento econômico firme com inflação. E está usando as ferramentas que pode para enxugar despesas e maximizar ganhos, sem elevar a carga tributária. Embora não seja exatamente um adepto do liberalismo, o ministro da Fazenda sabe que não pode subverter a ordem das leis econômicas – como muitos dos economistas do PT desejam fazer.
Ao se alinhar com os anseios do mercado, mesmo que involuntariamente, Haddad se transformou numa espécie de fiel da balança. Ele teria, neste Lula 3, um papel semelhante ao que Henrique Meirelles desempenhou nos dois primeiros mandatos petistas.
Se conseguir segurar a inflação e, a seguir, fazer a economia crescer, o ministro Haddad pode realizar dois feitos. Um é se tornar indemissível – uma capacidade que poucos titulares da pasta conseguiram nos últimos anos. O outro é se transformar em uma segunda versão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
Quando FHC foi nomeado ministro da Fazenda no governo de Itamar Franco, ninguém botou fé e houve um volume razoável de críticas em relação ao seu nome. Mas logo ele conseguiu botar o Plano Real de pé e pegar a inflação de jeito. Resultado: capacitou-se para ser candidato à presidência. O mesmo pode acontecer com Haddad. Mas, para isso, ele precisa se manter fiel à cartilha do livre mercado – e fazer a atividade econômica embicar para cima pelo menos nos dois últimos anos do mandato de Lula (isso se o presidente não resolver ser candidato à reeleição aos oitenta anos de idade). Mesmo assim, se Lula quiser ser reconduzido ao Planalto, vai ter de apostar suas fichas em quem esteja ao seu lado e próximo do empresariado. Por enquanto, na seara do governo, só tem um nome com essas características: o de Fernando Haddad.