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Haddad, quem diria, virou o queridinho da Faria Lima

Nada como um dia pós o outro. Esse clichê representa o cenário que cerca o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Logo após a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva, o nome do ex-prefeito de São Paulo começou a ser ventilado como o novo czar da economia. A reação da chamada Faria Lima foi péssima, assim como a dos empresários. Os eleitores de Centro e de Direita viam em Haddad um representante da esquerda e das feitiçarias econômicas heterodoxas.

Hoje, com praticamente um mês e meio de governo, o cenário é bem diferente.

Lula, ignorando os conselhos do ministro da Fazenda, vive cutucando o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto e clamando pela queda de juros – quando todos sabem (o presidente da República inclusive) que abaixar as taxas quando os preços estão em alta é turbinar o processo inflacionário.

Além disso, o fogo amigo do PT está concentrado em cima de Haddad. Quem pilota a metralhadora petista é o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, que sempre acalentou o desejo de ser ministro da Fazenda (apesar de economista, Mercadante só ocupou cargos fora de sua esfera de atuação, sendo ministro da Educação, da Casa Civil e da Ciência e Tecnologia nos mandatos de Lula e de Dilma Rousseff).

Os economistas do PT, liderados por Mercadante, querem uma condução econômica muito diferente da que defende Haddad. A cartilha heterodoxa prega juros baixos (mesmo com inflação em alta) e bastante dinheiro público despejado no mercado. O ministro, apoiado pela titular do Planejamento, Simone Tebet, prefere uma abordagem clássica para combater a inflação e já apresentou um plano com corte de gastos públicos.

A prioridade de Haddad é a reforma tributária, tanto que levou para a sua equipe o economista Bernard Appy, autor do texto de uma proposta de mudanças fiscais que transita há tempos no Congresso Nacional. Esse tema, porém, é alvo da mais recente queda de braço entre o ministro e o presidente do BNDES.

Mercadante já avisou que vai fazer um seminário, com a participação do economista André Lara Rezende, para definir uma proposta de arcabouço fiscal para o Brasil. As ideias resultantes da discussão serão encaminhadas a Lula e a Haddad. Na prática, Mercadante quer interferir em um processo que não é de sua responsabilidade – e provavelmente colocar na mesa conceitos que estejam alinhados com teses difundidas na Unicamp, berço da heterodoxia brasileira.

Diante disso, empresários e banqueiros começaram a se articular em favor de Haddad. Ou seja, o ministro passou de rejeitado a queridinho da Faria Lima. Além de uma ironia do destino, este panorama pode ser resumido em outro chavão: “Não há nada tão ruim que não possa piorar”.  

André Lara Resende, embora defenda a autonomia do Banco Central, é um crítico da atual política monetária. Ainda nas primeiras horas da madrugada de segunda-feira, ele declarou, no programa Canal Livre, da Band: “A economia brasileira precisa ser desaquecida neste nível? Com a taxa de juros real mais cara do mundo hoje? Claramente não”.

Resende foi além: “Se a taxa de juros alta combatesse a inflação, nós não precisaríamos ter feito o Plano Real”. O conjunto de medidas que erradicou a hiperinflação no país, de fato, não se restringiu a uma política monetária apertada. Mas comparemos os juros praticados em 1996, 1997 e 1998 com a inflação do período. Para manter a moeda estável, o BC colocou os juros nas alturas – ao contrário do que prega o ex-banqueiro. Em 1996, a taxa Selic acumulada foi de 24,47 %, contra um índice inflacionário de 9,56%; no ano seguinte, a Selic foi de 22,35 %, para uma inflação de 5,22 %. Por fim, em 1998, os juros acumulados ficaram em 25,58 %. A inflação no período? 1,65 % ao ano.

O pai do economista, o escritor Otto Lara Resende, era um célebre frasista. É dele, por exemplo, a sentença que diz o mineiro ser solidário apenas no câncer. Esta máxima, repetida à exaustão em uma peça de Nelson Rodrigues, levou o autor a batizar o texto de “Bonitinha, Mas Ordinária ou Otto Lara Resende”. Se a proposta de juros baixos em cenário inflacionário fosse render uma peça de teatro, o título do espetáculo poderia ser o mesmo – e o subtítulo poderia passar de pai para filho.

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