A mediana da receita anual deles foi de R$ 77,3 mil, enquanto a das mulheres ficou em R$ 58,5 mil, uma diferença de 32%.
A desigualdade de renda entre homens e mulheres se estende para além do mercado formal de trabalho. Um estudo do Banco Central, com base em dados de 2023, aponta que os microempreendedores individuais (MEIs) do sexo masculino faturam significativamente mais do que as mulheres da categoria. A mediana da receita anual dos MEIs homens foi de R$ 77,3 mil, enquanto a das mulheres ficou em R$ 58,5 mil, uma diferença de 32%.
Os dados foram extraídos da análise de transações financeiras de cerca de 5 milhões de MEIs ativos no Brasil, abrangendo 511 atividades econômicas em 5.568 municípios. A pesquisa levou em consideração recebimentos via Pix e outras movimentações bancárias, identificando que 55% dos empreendedores utilizam a mesma conta para despesas pessoais e empresariais.
Divisão de gênero no mercado MEI
Os números revelam uma clara segregação por gênero entre as atividades econômicas dos microempreendedores. No topo da participação feminina está o setor de serviços de beleza, como cabeleireiros, manicures e pedicures, que registrou 355 mil MEIs mulheres em 2023. A receita média anual nessa área foi de R$ 71 mil. Em contrapartida, os homens predominam em setores como o transporte rodoviário de carga, que teve 92 mil registros e receita média de R$ 101 mil.
Setores com maior participação por gênero:
- Cabeleireiros, manicure e pedicure: 355 mil mulheres, receita média de R$ 71 mil.
- Transporte rodoviário de carga: 92 mil homens, receita média de R$ 101 mil.
- Atividades de estética: 96,6% de mulheres, receita média de R$ 78 mil.
- Obras de alvenaria: 94,7% de homens, receita média de R$ 116 mil.
O estudo também revela que as atividades tradicionalmente associadas ao universo masculino tendem a gerar maior faturamento. Um exemplo é o setor de “obras de alvenaria”, no qual 94,7% dos MEIs são homens, e a receita média anual chega a R$ 116 mil, a maior entre todas as categorias analisadas.
Fatores que influenciam a desigualdade
A disparidade de 32% na mediana de receitas entre homens e mulheres reflete padrões culturais e estruturais que impactam o mercado de trabalho. Profissões ligadas ao setor de serviços e estética, majoritariamente femininas, geram menos receita que atividades como transporte e construção civil, ocupadas principalmente por homens.
Além da escolha da área de atuação, outros fatores podem contribuir para essa diferença. O acesso a crédito, redes de contatos e a sobrecarga com responsabilidades domésticas, que ainda recaem mais sobre as mulheres, são barreiras que dificultam a ampliação dos negócios femininos. A ausência de dados sobre carga horária também impede uma análise mais detalhada da produtividade entre os gêneros.
Crescimento dos MEIs e impacto econômico
Criado em 2008, o regime de Microempreendedor Individual tem atraído cada vez mais brasileiros. Em 2023, cerca de 5 milhões de MEIs estavam ativos, parte de um total de 15,5 milhões de registros acumulados desde sua criação, segundo o Ministério do Empreendedorismo. Esse modelo empresarial tem sido uma alternativa para trabalhadores autônomos, principalmente em momentos de crise econômica.
A formalização como MEI possibilita acesso a benefícios previdenciários, como aposentadoria e auxílio-doença, além de permitir a emissão de notas fiscais. No entanto, a pesquisa do Banco Central excluiu casos de “pejotização”, quando profissionais são contratados como empresas para driblar encargos trabalhistas, mantendo o foco nos microempreendedores que atuam de forma independente.
Regionalização e perfil dos MEIs no Brasil
São Paulo lidera o ranking de estados com maior número de MEIs, com cerca de 4 milhões de registros em 2022, representando 27% do total nacional. Rio de Janeiro e Minas Gerais seguem com 1,5 milhão cada. O levantamento também aponta que 28,4% dos MEIs estavam inscritos no Cadastro Único (CadÚnico) em 2022, evidenciando que muitos microempreendedores vêm de perfis socioeconômicos mais vulneráveis.