O cenário atual macroeconômico é preocupante. Além do dólar alto, temos uma inflação em expansão, juros negativos e descontrole fiscal. E, como o mercado financeiro trabalha com expectativas, parece claro que os investidores não estão confiando nas palavras do ministro da Economia, Paulo Guedes. O ministro afirma que tem o maior apreço pelo controle do déficit fiscal e que as necessidades de caixa para turbinar os programas sociais são ocasionais e não significam que haverá irresponsabilidade na gestão do Erário. O comportamento do dólar e dos juros futuros, no entanto, mostram que as expectativas da Faria Lima são diferentes.
Qual foi a última vez que vimos um cenário macroeconômico parecido com o atual? No final do primeiro mandato de Dilma Rousseff. Paulo Guedes nada tem a ver com Guido Mantega. Mas, mesmo assim, ambos conseguiram trazer a economia brasileira para um panorama em que houve e há desconfiança em relação ao controle das contas públicas.
O governo pode até justificar sua situação ao dizer que o teto de gastos sofre por conta da pandemia e da fome que se espalha pelo país. Na prática, é uma dinâmica que privilegia o assistencialismo social em detrimento de uma política conservadora de controle ao déficit. Ou seja, o governo Bolsonaro – embora totalmente diferente da gestão petista – está usando uma fórmula que guarda semelhanças com o que ocorreu durante os anos Dilma.
Há uma parcela considerável de eleitores que votou em Bolsonaro porque não concordava com a política populista do PT e preferia ver a economia ser tocada por técnicos liberais e preocupados em gerar superávits primários. Porém, o que vemos hoje é algo totalmente diferente.
Bolsonaro aposta nos beneficiados pelo novo Bolsa Família para ganhar novos eleitores e se reeleger. Mas deve dar adeus ao eleitorado que acredita em uma proposta econômica diferente. Conseguirá o presidente obter votos em um reduto (o dos beneficiados pelos programas sociais) que sempre foi petista?
Essa resposta será obtida em breve. Mas a espera será tensa – tanto para o governo como para a oposição.