Corte de impostos, crise energética e desconfiança de investidores provocam desvalorização frente ao dólar
A libra esterlina desvalorizou 20,7% em 2022. A moeda do Reino Unido começou o ano valendo US$ 1,35, mas caiu depois do fortalecimento do dólar. Nesta quinta-feira (29), está valendo US$ 1,09. O menor valor histórico da moeda britânica em relação ao dólar foi registrado na segunda-feira (26), quando quase emparelhou, atingindo US$ 1,03 para fechar o dia estável em US$ 1,08.
Para piorar, o novo pacote de política fiscal divulgado pela primeira-ministra do Reino Unido, Liz Truss, e pelo ministro das Finanças, Kwasi Kwarteng, em 23 de setembro, contribuiu para a acentuar queda por causar desconfiança. O Growth Plan 2022 estabelece uma redução na cobrança de impostos.
Com a medida, o governo britânico cancelou a elevação em 25% na tributação de empresas. A alíquota permanecerá em 19%. Também reduziu o imposto sobre rendas acima de £ 150 mil – de 45% foi para 40%. No entanto, estima-se que os cortes devem custar cerca de £ 45 bilhões aos cofres públicos até 2027.
Antes disso, em 21 de setembro, o governo anunciou que reduzirá pela metade o valor das contas de luz e de gás para empresas, mas sem informar quanto isso custará. O plano será adotado a partir de outubro e vai durar 6 meses. Desde o início da guerra na Ucrânia, em fevereiro de 2022, o Reino Unido sofre com a alta dos preços de gás e energia.
Ambos os comunicados não especificaram como serão financiados. A falta de detalhes provocou ceticismo nos investidores, que duvidam da capacidade do programa de corte ser uma solução para a crise econômica no país. Outro temor é que o pacote aumente ainda mais a inflação.
A taxa anual no Reino Unido chegou a 10,1% em agosto, a maior em 40 anos. Isso fez com que o Banco da Inglaterra subisse a taxa de juros para 2,25% em setembro, um aumento de 0,5 ponto em relação ao mês anterior.
Na terça-feira (27), o Fundo Monetário Internacional (FMI) criticou o corte de impostos e pediu uma reavaliação da iniciativa. “Dadas as pressões inflacionárias elevadas em muitos países, inclusive no Reino Unido, não recomendamos pacotes fiscais grandes e não direcionados neste momento. […] É importante que a política fiscal não funcione na contramão da política monetária”, disse.
Banco da Inglaterra
Depois dos anúncios de política fiscal, investidores começaram a vender seus “gilts” – os títulos públicos do Reino Unido –, em sinal de claro temor. A fim de evitar o colapso do mercado de renda fixa, o banco central britânico interveio. Em comunicado, a instituição declarou que começou a comprar títulos de longo prazo a partir da quarta-feira (28) e suspendeu a venda dos ativos.
Espera-se ainda que a instituição financeira anuncie um aumento de emergência da taxa de juros antes da próximo reunião de política monetária, marcada para 3 de novembro. Taxas de juros mais altas atrairiam investimentos aos títulos públicos do Reino Unido. Com isso, a tendência é que o valor da libra aumente. No entanto, a medida também aumenta custo dos empréstimos para famílias e empresas do país.