O desempenho da economia ainda não fez efeito no bolso da população. Seguimos mais pobres que antes da pandemia e colocar a responsabilidade no governo anterior é ineficaz
“Eu venço, nós empatamos, vocês perdem”. Essa máxima antiquada da toxidade corporativa tem validade, ainda mais se aplicada à política. Foi o que testemunhamos de modo velado após a reunião desta segunda-feira (18) pela manhã, promovida pelo presidente Lula (PT) com seu ministério no Palácio do Planalto. O objetivo era encaixar as metas do governo com as ações positivas das pastas para aliviar a perda de popularidade constatada em pesquisas. A causa são os efeitos econômicos da crise passada e do ambiente macro presente. O desempenho saudável da economia ainda não fez efeito no bolso da população. Mas a política não tem tempo para esses detalhes em ano de eleição.
Lula está um passo atrasado e tenta socializar esta fragilidade. Até o início da semana passada os analistas afirmavam que o governo não conseguia comunicar suas benfeitorias, enquanto a extrema-direita bombardeava as redes com críticas tanto fundadas quanto mentirosas. Quando saíram os dados do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) das Nações Unidas, a coisa ficou um pouco mais clara. O que foi constatado é que, na média, o brasileiro ainda ganha menos, vive menos e mantém os filhos na escola por menos tempo que em 2019, antes da crise pandêmica.
Não vale a pena esmiuçar a responsabilidade estrita do atual governo na composição e na reação ao cenário global. Mas é obrigatório a quem está no Planalto resolver o problema sem jogar para a torcida, o que não é pouco. O alívio dos juros, da inflação caindo e do emprego melhorando se mostram inócuos e distantes quando a inflação de alimentos bate na carteira.
Muito que ainda é pouco
Em 2023, o IPCA (inflação oficial) foi de 4,62%, com a variação dos alimentos despencando de 11,64% para 1,03%. Um resultado excelente. E apenas isso. Conforme a Pesquisa Nacional de Amostras em Domicílio (Pnad Contínua), o rendimento médio domiciliar per capita das famílias brasileiras avançou de R$ 1.625 em 2022 para R$ 1.893 no ano passado. Uma alta de 16,5%. Só que a partir de 2019, quando a renda era de R$ 1.419, a inflação acumulada do IPCA foi de 32,8%. As perdas cambiais, desabastecimentos, quebras de safra e desemprego não compensaram o ganho de mísero 0,6 ponto percentual na renda. Ou seja, a turma ainda está mais pobre e os salários de quem retorna ao batente, defasados.
Ao final da reunião de bronca-geral da República, Lula afirmou em coletiva que as medidas tomadas pelo governo até agora são “apenas o início”: “Por mais que a gente tenha recuperado o Farmácia Popular, o Mais Médicos, por mais que a gente tenha feito clínica, a gente ainda tem muito para fazer em todas as áreas. E muito não é nada estranho. É tudo aquilo que nós nos comprometemos a fazer durante a disputa eleitoral”, disse o presidente, esquecendo o preço dos alimentos. Preferiu falar da tentativa de golpe, citando Bolsonaro inelegível como “covardão”.
Mais sincero seria admitir que estas questões são apartadas. A população só vai ligar para intentona se tiver emprego e um pouco mais de renda para pensar no futuro. Foram estes pontos que tiraram Bolsonaro de Brasília e fizeram o PT chegar pela quinta vez à Presidência desde as eleições de 1989. O resto é bronquinha de chefe receoso.
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