Exceto quando a empresa usufrui um monopólio garantido pelo governo
A petrolífera Exxon Mobil era a maior e mais valiosa empresa do mundo em 2013.
Em 2014, seu valor de mercado subiu ainda mais, e chegou a US$ 446 bilhões.
Em 2016, a imprensa dizia que, se ela fosse um país, sua economia seria maior que a da Irlanda.
No início de 2020, ainda antes da pandemia de Covid-19, o valor de mercado da empresa já havia desabado para US$ 262 bilhões.
Semana passada, a empresa simplesmente foi retirada do índice Dow Jones, um índice exclusivo do qual a empresa fazia parte há 92 anos. Seu valor de mercado caiu impressionantes US$ 270 bilhões desde o topo e hoje está em exíguos US$ 172 bilhões.
Segundo a reportagem da CNN, a “Exxon é hoje apenas um resquício do que já foi”. A empresa já teve, só este ano, um prejuízo de US$ 1,7 bilhão até o fim do primeiro semestre.
A realidade versus a fantasia
Mas como assim? Isso não é possível. A teoria defendida por intervencionistas e seguidores da tese do anti-truste é a de que grandes corporações não apenas dominam o mercado e estabelecem os preços que querem, como também vão continuamente se tornando cada vez maiores.
Segundo economistas keynesianos, grandes corporações em geral, e empresas petrolíferas em particular são “oligopólios”, o que as permite elevar os preços sempre que quiserem e auferir o volume de lucro que desejarem.
Defensores da intervenção estatal na economia passaram toda a sua carreira afirmando que é necessário o governo intervir e fatiar essas “grandes corporações”, pois elas detêm muito poder sobre os consumidores, os quais são explorados por elas.
Se o governo nada fizer, prosseguem eles, tais empresas crescerão a tal ponto que irão dominar a economia mundial.
Se isso é verdade, o que está havendo com a Exxon? Não apenas se trata de uma grande corporação, como também era, até bem recentemente, a maior empresa do mundo. Por que ela não continuou crescendo e monopolizando ainda mais?
Um fenômeno corriqueiro
O que está acontecendo com a Exxon (mais sobre as causas abaixo) é apenas mais uma demonstração prática, dentre várias, de que, não importa o tamanho de uma empresa, ela sempre pode perder sua fatia de mercado e até mesmo ser expulsa do mercado e ir à falência.
Em um livre mercado, quem define o destino das empresas é o consumidor. Ele é o soberano. Por meio de suas decisões de consumir ou de se abster de consumir, é ele quem decide quais empresas continuam existindo, quais vão à falência, e quais devem se reestruturar e passar por um redimensionamento (downsizing).
Em 2017, outra grande corporação foi à falência. A até então gigante e toda-poderosa Toys “R” Us, considerada uma das varejistas de brinquedos mais famosas do mundo, se não a mais famosa, pediu concordata e anunciou o fechamento de todas as suas 735 lojas nos EUA.
A rede tinha operações em diversos outros países, como Reino Unido, Canadá, França, Áustria, Suíça, Alemanha e em vários países da Ásia. Na Alemanha, na Áustria e na Suíça, a rede foi comprada por outra menor (a Smyths Toys). No Reino Unido e na França ela simplesmente fechou. Na Ásia ela ainda se mantem, mas reestruturada.
Até então vista como uma gigante imbatível, a empresa acabou tendo o mesmo destino de Kodak, Nokia e Blockbuster. Durante décadas, todas essas empresas pareciam imbatíveis e absolutamente dominantes em seus respectivos mercados. Hoje, no entanto, ou elas já foram absorvidas por outras empresas ou simplesmente declararam falência.
A Kodak, que por décadas reinou absoluta no mercado fotográfico, sucumbiu perante o surgimento das câmeras fotográficas digitais. Ela não soube adaptar seu modelo de negócios aos novos produtos que seus concorrentes haviam começado a oferecer de forma mais eficiente e com melhor custo-benefício do que a própria Kodak. A popularização dos smartphones e suas câmeras fotográficas cada vez melhores enterrou por vez a empresa, que pediu recuperação judicial em 2012.
A Nokia, que era onipresente no mercado de aparelhos celulares no início da década de 2000, sucumbiu ante a chegada dos smartphones. A multinacional finlandesa, que simplesmente dominou o comércio mundial de telefones celulares de primeira geração durante 13 anos, não foi capaz de bater os padrões de qualidade e funcionalidade dos novos aparelhos ofertados por outros fabricantes, como Apple e Samsung. Em 2007, a empresa ainda era a líder mundial na fabricação de celulares e detinha aproximadamente 40% do mercado mundial de telecomunicações. Em 2013, ela era apenas a 274.ª maior empresa mundial.
A Blockbuster, que já foi simplesmente a maior rede de locadoras de filmes e videogames do mundo, sucumbiu perante a chegada dos vídeos por streaming. O surgimento destes serviços tornou totalmente absurda e impensável a ideia de ter de sair de casa e ir a uma videolocadora para poder assistir a um filme. Os serviços de streaming concentraram a demanda doméstica por lazer em provedores como Netflix e Amazon Prime. E os próprios canais de TV a Cabo também adotaram esta tecnologia, como HBO Go, Fox Premium e Telecine Play, mostrando que querem saciar a demanda dos consumidores.
(E, para aumentar ainda mais a ironia da situação, a própria Blockbuster teve a oportunidade de comprar, anos atrás, a Netflix pelo módico preço de 50 milhões de dólares. Declinou. Foi à falência em 2010 e fechou todas as lojas que tinha. Eis aí um grande exemplo de incapacidade de antecipar a demanda dos consumidores.)
No caso da Toys ‘R’ Us, o crescimento da Amazon tornou obsoleta a fórmula de grandes estabelecimentos físicos ultra-especializados, que sempre foi a fórmula adotada pela outrora gigante norte-americana.
Quem manda é o consumidor
Esses exemplos de gigantes que sucumbiram mostra que, ao contrário do que muitos afirmam, o capitalismo não é um sistema econômico que privilegia as grandes empresas: o capitalismo é um sistema econômico que expõe todas as empresas — grandes, médias e pequenas — a um contínuo processo de concorrência, o qual é orientado pela satisfação das necessidades dos consumidores.
Em uma economia capitalista, quem está no comando são os consumidores. São eles que decidem o que comprar, quando comprar, de quem comprar e em qual quantidade. São suas decisões de comprar ou de se abster de comprar que determinam a viabilidade dos empreendimentos.
E, como consequência, somente aquelas empresas capazes de satisfazer, a todo e qualquer momento, as necessidades dos consumidores da melhor maneira possível conseguirão sobreviver neste processo competitivo, não importa qual seja seu tamanho.
É um grande equívoco imaginar que o capitalismo funciona primordialmente para beneficiar os produtores. Ao contrário: quem está no comando são os consumidores. Consumidores sempre estão interessados apenas em conseguir as melhores barganhas para si próprios. Eles não estão interessados em facilitar a vida dos empreendedores (e nem dos empregados destes empreendimentos).
Consequentemente, quem determina a sobrevivência de empresas, lucros, empregos e salários são os consumidores, e não os capitalistas. Os críticos do capitalismo jamais entenderam isso.
Há vários outros exemplos atuais de grandes produtores sendo impactadas de maneira inclemente. A internet reduziu a demanda dos consumidores pelos grandes jornais tradicionais, que hoje operam no vermelho. A Google alterou completamente a indústria de marketing. Uber, Lyft e Cabify afetaram severamente a demanda pela indústria de táxis, assim como o Airbnb afetou a indústria hoteleira (bem antes da pandemia de Covid-19).
O caso da Exxon
Dizer que a Exxon foi afetada pela pandemia de Covid-19, a qual derrubou os preços do barril de petróleo (o que, por si só, já refuta por completo a tese de que as petrolíferas são monopolistas que colocam os preços que querem no petróleo), seria um reducionismo simplório e errado: afinal, todas as petrolíferas foram igualmente afetadas pela pandemia.
Além de as preferências dos consumidores terem se manifestado, há também um outro fator envolvido: a possibilidade de uma má administração ou mesmo de decisões econômicas erradas.
Em específico, a Exxon fez um pesado investimento em gás natural entre 2008 e 2010, apostando que a demanda, e consequentemente o preço do produto, iria explodir com o tempo. Só que, de lá para cá, o preço do gás natural desabou. Confira no gráfico.
Evolução do preço do gás natural, em dólares.
A queda da Exxon, bem como das outras supracitadas, serve para mostrar como as leis anti-truste são ridículas e destrutivas. Em um livre mercado, uma empresa ser grande significa simplesmente que ela soube atender às demandas dos consumidores e tomou boas decisões administrativas. A partir do momento em que ela deixa de agradar aos consumidores ou toma uma má decisão administrativa ou de investimento, ela cai.
Agora, compare a Exxon com um genuíno monopólio, aquele que é amado por todos os esquerdistas e economistas keynesianos: os Correios. Esta empresa usufrui uma posição privilegiada na sociedade, pois uma lei federal a protege contra concorrência na entrega de cartas carta, telegramas, cartões-postais, malote e “correspondência-agrupada”. Se uma empresa privada tentar concorrer, um juiz federal imediatamente ordenará seu fechamento, com o empreendedor podendo até mesmo ir para a cadeia. Isso, sim, é monopólio. Isso, sim, é anti-consumidor.
Imagine se a Exxon tivesse pedido ao governo federal para ser beneficiada por um monopólio, como os Correios. Os estatistas iriam vituperar exasperados. E corretamente. E esse é o tipo de “grandeza” que é ruim — pois se trata de um tamanho que foi alcançado em decorrência de um privilégio monopolista garantido pelo governo, e não pela satisfação da demanda dos consumidores e por sólidas e sensatas decisões administrativas e de investimentos.
Para concluir
Se uma empresa se tornou grande atuando em um setor cuja entrada da concorrência é livre, não se preocupe. Ela cresceu porque soube satisfazer a demanda dos consumidores. Enquanto ela mantiver essa eficiência, não há nenhum motivo para preocupação.
E tão logo ela incorrer em más decisões administrativas ou de investimentos, ou tão logo ela deixar de satisfazer os consumidores, sua queda será iminente.
A única garantia de sobrevivência no capitalismo não é o tamanho, mas sim sua superior eficiência em servir os consumidores e sua qualidade administrativa. Aquelas empresas que forem bem-sucedidas em agradar os consumidores com bens e serviços que estes considerem atrativos serão aquelas que irão se manter no mercado e se dar bem.
Não é necessária nenhuma regulação estatal para impor tudo isso.
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Por Jacob Hornberger
Publicado originalmente em: https://www.mises.org.br/article/3287/mais-um-exemplo-pratico-de-que-no-capitalismo-quem-define-o-tamanho-das-empresas-eP-o-consumidor