Relatório da Business for Nature mostra que 2% do PIB global serve para financiar atividades que poluem, reduzem a oferta de água e afetam a diversidade
Os subsídios que prejudicam os ecossistemas, a vida selvagem e o clima chegam a quase US$ 1,8 trilhão por ano, informaram pesquisadores nesta quinta-feira (17). Apoiado pelo The B Team e pela Business for Nature, coalizão global de empresas que tenta impedir a perda de biodiversidade e promover a sustentabilidade, o estudo é o primeiro em mais de uma década a estimar o valor desses protecionismos antieconômicos que afetam o meio ambiente de modo quase invisível.
Por ano, o setor de combustíveis fósseis (petróleo, gás, carvão mineral e vegetal) recebe US$ 640 bilhões em apoio, atividades agrícolas danosas ficam com US$ 520 bilhões, enquanto o uso insustentável de água doce e gerenciamento de infraestruturas de saneamento – com água barata às empresas em detrimento dos consumidores domésticos – absorve US$ 350 bilhões. Esse apoio equivale a uns 2% do produto interno bruto global.
“A maioria das pessoas pensa que os subsídios são muito chatos ou um assunto completamente tabu (porque) estão arraigados em nossa economia”, lamentou Eva Zabey, diretora da Business for Nature. Contudo, quando projetados principalmente para impulsionar o crescimento via consumo sem planejamento, podem ser prejudiciais, pois acabam gerando outros custos, como a necessidade de novos investimentos em saneamento, elevação dos custos energéticos e redução da oferta de máterias-primas. “É necessário um novo sistema que equilibre as pessoas, a natureza e a economia, embora não possamos trocar (subsídios) da noite para o dia”, acrescentou Zabey.
Melhorar a conservação e o manejo de áreas naturais, como oceanos e áreas selvagens, é considerado crucial para proteger os ecossistemas da sociedade industrial. Um exempo simples são as florestas tropicais, derrubadas para acomodar a produção de commodities, como óleo de palma, soja e carne bovina. Outros subsídios insensatos são os que promovem o cultivo de biocombustíveis, quando estes causam desmatamento ou promovem o uso exagerado de defensivos agrícolas.
Negociações
Cerca de 195 países devem finalizar um acordo para proteger plantas, animais e ecossistemas – semelhante ao acordo climático de Paris – em uma cúpula da ONU, a COP15, agendada entre 25 de abril a 8 de maio, em Kunming, China. Contudo, a pandemia pode atrasar a reunião pela terceira vez.
Os pesquisadores pediram um compromisso dos governos de redirecionar ou eliminar todos os subsídios predatórios até 2030. Fazer isso pode dar uma contribuição importante para liberar os US$ 711 bilhões necessários a cada ano para interromper e até reverter parcialmentee a perda da natureza nesta década, além de cobrir o custo de atingir emissões líquidas zero.
No final de janeiro, um relatório separado do Banco Mundial descobriu que o reinvestimento dos atuais incentivos agrícolas em inovações para o clima, como suplementos alimentares para gado e sistemas de produção de arroz que usem menos água, poderia aumentar a produtividade e reduzir as emissões do campo em mais de 40%. Marco Lambertini, diretor-geral do WWF, afirmou que 2022 pode oferecer “uma oportunidade de garantir um mundo positivo para a natureza até 2030”.