Políticos vivem o presente e não dão a devida importância ao futuro. Já os empresários não se deixam seduzir muito pelas facilidades do hoje e se preocupam mais com as incertezas do amanhã. Hoje, vemos exatamente como essa diferença pode se manifestar através dos números da economia brasileira.
O governo de Luiz Inácio Lula da Silva tem números positivos para mostrar em relação à taxa de desemprego e de poder aquisito. Para quem olha apenas para o cenário atual, a fotografia é bonita. Mas a inflação em alta e os gastos públicos sem controle geram insegurança em relação ao que vai acontecer em 2025 e 2026. O resultado disso é o dólar em explosão e as taxas de juros subindo. Enquanto os governistas enxergam apenas a economia do dia a dia indo bem, os homens de negócios temem pela integridade econômica futura a partir da irresponsabilidade fiscal demonstrada por Lula.
Nos dois primeiros mandatos do PT, não se levantou muito a questão dos gastos públicos porque o Brasil iniciava um forte processo de exportação de commodities ao mercado exterior (a China em particular). Com a receita aumentando, ninguém estava muito preocupado com as despesas.
Mas a conta chegou no governo de Dilma Rousseff. É bom lembrar que Dilma chegou a ter 72% de aprovação no início de seu primeiro mandato. Mas o impulso herdado por Lula perdeu embalo e o governo começou a estimular a economia através de desonerações fiscais e medidas artificiais para ampliar o consumo.
Essas manobras serviram para Dilma ser reeleita, mas já se falava, ao final de 2014, de um choque nas despesas públicas. No segundo mandato, ela optou por um ministro ortodoxo da Fazenda, o economista Joaquim Levy, que tentou colocar as contas estatais em ordem, mas foi seguidamente sabotado pelo PT.
Com saída de Levy, retomou-se a fórmula do mandato anterior, mas o consumo não respondeu. O resultado foi a alta da inflação combinado com uma atividade econômica em queda – algo que não acontece todos os dias no universo da macroeconomia.
O que se enxerga, hoje, é algo parecido. A chamada Faria Lima não confia mais na capacidade de gestão do orçamento por parte do governo – e essa desconfiança extrapola os limites do mercado financeiro. Boa parte das empresas também já se desanimou. O resultado dessa insegurança é a fuga de capitais, com investidores e companhias estrangeiras desprezando o real e preferindo a proteção da moeda americana. Um exemplo disso é a retirada de cerca de US$ 25 bilhões da bolsa de valores ao longo de 2024, quantia essa que era de investidores internacionais.
Dessa forma, a crise generalizada de desconfiança persiste e o governo nada consegue fazer para reverter o quadro, uma vez que continua a apostar no discurso de enfrentamento entre pobres e ricos — usando um argumento frouxo, o de que o andar de cima está sabotando a economia brasileira. O ministro Fernando Haddad ainda trabalha nesta semana, mas sairá de férias entre os dias 10 e 21 de janeiro. Ou seja, se até sexta-feira nada for anunciado para acalmar os investidores e segurar o dólar, somente daqui a duas semanas é que poderemos esperar alguma coisa neste sentido. Preparem seus corações.
(ATUALIZAÇÃO: O PRESIDENTE LULA CANCELOU AS FÉRIAS DE HADDAD — 13:00 de 06/01/2025)