O dólar comercial fechou janeiro em queda de 5,6%, negociado por R$ 3,66, na maior desvalorização para o mês desde 2012. A moeda americana caiu na esteira do primeiro mês do governo Bolsonaro, que animou os investidores ao sinalizar uma política econômica de cunho liberal. Porém, passada a euforia inicial, veio a cautela. O dólar acumula alta de 1,26% em fevereiro, encerrando o pregão de sexta-feira (15) cotado a R$ 3,70. Na opinião do economista Sidnei Moura Nehme, diretor executivo da corretora de câmbio NGO, o avanço do real no primeiro mês de 2019 foi impulsionado por um excesso de otimismo do mercado, sem fundamentos sólidos. Para o analista, a moeda americana só vai tomar um rumo mais claro após uma conclusão em relação à reforma da Previdência. Confira os principais trechos da entrevista a MONEY REPORT:
O preço do dólar teve forte queda em janeiro, mas vai registrando avanço em fevereiro. Para onde vai a moeda americana?
Não há uma tendência sustentável neste momento. Como existe uma ansiedade em relação às reformas, toda vez que sai uma boa notícia, há um avanço. Essas oscilações não se sustentam, porque ocorrem pelo entusiasmo, sem fundamentos sólidos. Após um primeiro momento de euforia, percebe-se que existe um longo caminho até a aprovação final das reformas. Por conta disso, não há razão para precificar e abater o dólar, assim como não existem motivos para a bolsa explodir. Apesar de contarem com algum fundamento, esses movimentos são sobretudo especulativos. Não se pode precificar algo no futuro com um cenário tão incerto. Todos gostariam que a reforma da Previdência saísse agora, mas a discussão deve durar alguns meses e não sabemos qual projeto será aprovado e o quão ele será modificado no Congresso.
Esse movimento especulativo parte dos investidores nacionais?
Sim. Vamos pegar o Ibovespa como exemplo: se eles conduzirem a bolsa especulativamente para um preço alto, como 100 mil, 110 mil pontos, os estrangeiros não vêm mais, porque ela fica cara. Quando a ficha cai, o movimento diminui, pois a economia real continua ruim. A mesma coisa acontece com o dólar, que chegou a estar cotado a R$ 3,66 e pouco tempo depois já estava em R$ 3,76. Quem vai puxar o Ibovespa e o real para cima são os estrangeiros, que ainda estão cautelosos em relação ao Brasil.
Você trabalha com alguma projeção para o dólar em caso de aprovação da reforma da Previdência?
Se sair uma reforma consistente, acho que o dólar pode chegar aos R$ 3,40, mas nada muito abaixo disso. Para cair mais, a economia precisaria reagir muito, superando não apenas o problema fiscal.
E caso não haja reforma?
Creio que iríamos para o patamar de R$ 3,80, R$ 3,90.
E hoje, dá para precificar o dólar?
É complicado fazer isso no cenário atual. Creio que o preço de equilíbrio está em R$ 3,70, R$ 3,75 no máximo. Apesar do crescimento econômico fraco, temos um cenário inflacionário muito bom, com oportunidade até de reduzir os juros, e não temos um problema cambial, nossas reservas nos dão certa tranquilidade. Contudo, existe um excesso de otimismo que precisa ser contido pela sensatez.