Abal alerta para risco de desequilíbrio no mercado global e concorrência desleal local devido ao desarranjo da cadeia
A decisão do governo dos Estados Unidos de impor uma nova tarifa elevada até 25% sobre as importações de aço e alumínio deve trazer impactos significativos para diversos setores industriais, especialmente a indústria automobilística estadunidense. As novas taxas anunciadas pelo presidente Donald Trump devem entrar em vigor em 12 de março e podem gerar aumento nos preços dos produtos finais para os consumidores norte-americanos.
A tentativa protecionista para tentar incentivar a indústria do país vai contra os ditames de mercado defendidos até ontem pelos EUA. A indústria automobilística depende amplamente do alumínio e do aço importados para a fabricação de carros e caminhões. Com o acréscimo tarifário, os custos de produção devem subir quase automaticamente sem que a produção local consiga atender a demanda aquecida artificialmente. Outro ponto sensível é que a indústria local é menos competitiva que a concorrência – incluindo a brasileira. Além do setor automotivo, a cadeia de suprimentos de embalagens, eletrônicos e construção civil também sentirá o impacto inicial – sem necessariamente uma reação local prevista. Ou seja, está no horizonte um desarranjo das cadeias, já que as alíquotas afetam os importadores americanos assim como os importadores.
A Associação Brasileira do Alumínio (Abal) manifestou preocupação com as novas tarifas, alertando para possíveis desequilíbrios no mercado global. Segundo a entidade, os países que perderem acesso ao mercado americano deverão buscar novos destinos para seus produtos, incluindo o Brasil, o que pode saturar o mercado interno e gerar concorrência desleal.
Atualmente, o Brasil representa menos de 1% das importações de alumínio nos EUA, mas, para a economia brasileira, a parceria é estratégica: 16,8% do alumínio exportado pelo país tem como destino os Estados Unidos, movimentando cerca de US$ 267 milhões em 2024.
A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) também criticou a medida, afirmando que os exportadores brasileiros serão diretamente afetados. A entidade defende um maior diálogo entre Brasil e EUA para minimizar os impactos negativos sobre o setor industrial.
Em 2018, Trump já havia imposto tarifas sobre o aço e o alumínio, mas na época concedeu isenções a alguns países, o que desta vez não ocorrerá. Ainda não está claro se a nova taxa substituirá a tarifa de 10% atualmente em vigor ou se será somada a ela, elevando o imposto total para 35%.
A expectativa é que as cadeias de suprimentos globais passem por um realinhamento, aumentando a incerteza nos mercados. Enquanto isso, entidades do setor seguem negociando com o governo brasileiro para buscar soluções que reduzam os impactos da nova política tarifária dos EUA.
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