Na semana passada, o presidente Jair Bolsonaro alertou: “O Brasil está sem dinheiro”. Segundo ele, a crise financeira vai afetar a alimentação de recrutas do Exército e a concessão de bolsas de pesquisa. “Os ministros estão apavorados. Estamos fazendo milagre.”
Os sinais de que o Brasil pode ver um “apagão” no setor público só aumentam, embora o país ainda não esteja numa situação calamitosa. Nesta terça-feira (20), os jornais noticiam que pode faltar dinheiro para a restituição de Imposto de Renda e até para a emissão de CPFs.
A tendência é que notícias como essa sejam cada vez mais comuns.
Em sua coluna de domingo (18) na Folha de S. Paulo, o presidente do Insper, Marcos Lisboa, um dos economistas mais respeitados do país, reforçou o alerta à situação crítica das contas públicas. Ele chamou atenção para origem do problema: a quantidade absurda de despesas obrigatórias, como pagamento de aposentadorias, salários, transferências para estados e municípios. Como eles aumentam — e a arrecadação não — a saída é cortar as despesas discricionárias, como investimentos em pesquisa e emissão de documentos, como o CPF. Em 2019, o governo bloqueou R$ 33 bilhões dos R$ 129 bilhões previstos para esses gastos.
Segundo Lisboa, 90% da receita primária federal é destinada ao pagamento de despesas determinadas por lei — e 70% têm regras de reajuste. ” A continuar essa trajetória, o endividamento do governo poderá sair de controle, com a volta da inflação acelerada ou o não pagamento de obrigações assumidas. Quem viveu os anos 1980 sabe das consequências.”
Se o país insistir em viver na ilusão de que há dinheiro para tudo e para todos, não demora e quebraremos. E crises como essas costumam penalizar mais, como sempre, os menos favorecidos. Em 2019, a situação deve continuar ruim, mas administrável. A partir de 2020, os riscos aumentam.
Quem vai liderar esse debate para evitar que o mal aconteça?