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O mercado financeiro se desencanta de vez com o governo

Pesquisa divulgada ontem pela Quaest mostra que o mercado financeiro se desencantou de vez com o governo. O estudo, feito junto a 105 profissionais do setor, apresenta um número preocupante para a administração federal: a avaliação do governo Lula é considerada negativa por 90% dos entrevistados (em setembro de 2023, 43% tinham a mesma opinião).

O pacote de corte de gastos públicos, considerado flácido pelos agentes financeiros, foi um fator preponderante para essa avaliação tão ruim. Mas a falta de tato das autoridades em atrelar o tal pacote à decisão de mudar as regras tributárias de quem ganha até R$ 5.000,00 ao mês e aqueles com uma renda superior a R$ 50.000,00 também influenciou o mau humor da chamada Faria Lima.

Lula tem 90% de desaprovação, mas os índices do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, não caíram na mesma proporção. Em setembro do ano passado, o trabalho de Haddad era visto como “positivo”. Agora, no entanto, essa é a opinião de apenas 41%.

Embora essa não seja uma avaliação boa, os 41% de Haddad são infinitamente melhores que os 3% de Lula. Isso quer dizer que existe um reconhecimento por parte dos executivos financeiros de que o ministro tem boas intenções, mas é atrapalhado pela agenda ideológica do presidente. De fato, o ministro já defendeu o corte de despesas estatais e as regras elementares de mercado, que parecem ser ignoradas pela maioria dos petistas. Esse esforço é percebido pelos entrevistados, que direcionam a sua frustração ao presidente da República.

Em declarações públicas, os banqueiros não são tão veementes e muitos colocam panos quentes na reação que o mercado apresentou. Mas isso não impediu o salto do dólar para o patamar de R$ 6,00. Os mais pessimistas falam em novo repique, desta vez para a casa de R$ 7,00. Mas esse cenário não parece ser factível – pelo menos com as atuais condições de temperatura e pressão.

É curioso ver que os agentes financeiros, em setembro do ano passado, quiseram acreditar no governo. Foi o auge da lua de mel entre bancos e o ministro Haddad – e a crença de que o titular da Fazenda teria força para realizar um trabalho minimamente sintonizado com as regras básicas que regem nossa economia. A dura realidade, porém, se impôs. Haddad não tinha tanto poder como parecia – e Lula foi cada vez mais impondo uma agenda de esquerda à atuação do governo. Diante desse esvaziamento, se o ministro fosse alguém ligado à iniciativa privada (como, por exemplo, Joaquim Levy no início do segundo mandato de Dilma Rousseff), talvez já tivesse pedido demissão.

Lula foi eleito em 2022 e, por isso, tem um mandato para governar o país. Isso não quer dizer, entretanto, que ele deva ser insensível ao que pensa o mercado financeiro e a sociedade de forma geral.

Tivemos na eleição de 2024 uma demonstração clara de que o eleitorado brasileiro não é ideologicamente alinhado à esquerda ou votou no presidente porque estava dando uma carta branca ao PT. Na verdade, Lula foi escolhido presidente muito mais por uma rejeição a Jair Bolsonaro do que por uma convicção de que o país precisava de uma guinada esquerdista.

Portanto, o Planalto precisa levar em consideração o que desejam os brasileiros e ter um mínimo de alinhamento com economistas e banqueiros. Não se pode mais fazer uma colcha de retalhos, como o pacote anunciado na semana passada, para empurrar com a barriga medidas importantes para o país.

Estamos vivendo uma época em que todos são implacáveis e incapazes de perdoar. Neste contexto, os agentes financeiros reagiram ao pacote – depois de um mês de enrolação – como se tivessem sido traídos pela atual administração. A paciência acabou por parte de pelo menos 90% destes profissionais. E, enquanto esse quadro persistir, o dólar continuará mais alto do que seria o desejável – e o recomendável para a economia brasileira.

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