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O que Argentina e EUA podem nos ensinar sobre inflação

Dois exemplos que vêm de fora podem ensinar muito ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Um deles é a eleição de Donald Trump. A vitória inquestionável do republicano ganhou bastante impulso por conta da inflação americana, que tornou o custo de vida muito alto nos Estados Unidos. Outra situação que precisa ser analisada de perto é a da Argentina. O presidente Javier Milei conseguiu baixar o índice inflacionário para 2,7% em outubro – é o resultado mais baixo desde novembro de 2021, quando o país ainda se recuperava dos efeitos recessivos da pandemia de Covid-19.

Vamos deixar de lado, por um instante, a antipatia que figuras como Trump e Milei podem causar. No caso do americano, ele percebeu rapidamente que precisaria mostrar a escalada dos preços como algo que estava impedindo o povo de realizar o típico sonho americano – uma casa própria com um carro na garagem. Tal estratégia pode ser replicada facilmente no Brasil, especialmente se o governo continuar a postergar medidas de contenção dos gastos públicos.

Já o cenário argentino mostra que houve coragem na adoção de medidas que restringiram ao máximo as despesas estatais. Jogou-se o país em uma recessão, é verdade, mas o combate à inflação implica mesmo uma rigidez de princípios para enxugar a liquidez e fortalecer a moeda. Além disso, Milei desafiou as lideranças peronistas ao cortar determinados benefícios concedidos a trabalhadores e a estudantes. Não houve medo de ser impopular – apenas a determinação de fazer a coisa certa, que era reduzir o déficit público e ajustar demanda e oferta.

No Brasil, vivemos uma expectativa de que a espiral inflacionária possa voltar. Em outubro, o índice acumulado em doze meses extrapolou o teto de 4,5% — e a expectativa dos investidores é a de que isso possa piorar sem medidas para reduzir o déficit público. Essa expectativa pode jogar a cotação do dólar para cima. E dólar alto significa inflação em crescimento.

Por isso, a demora em definir uma estratégia clara para o corte de gastos públicos é perniciosa, gerando insegurança e insatisfação. E quando os investidores se sentem inseguros e insatisfeitos, o mercado de câmbio acaba sendo atingido e provocando uma dança indesejável de cotações.

Apesar de aguardado com ansiedade, o conjunto de medidas para reduzir as despesas do governo não deve trazer nenhuma iniciativa bombástica, como desvincular determinadas despesas à correção do salário-mínimo. Fazem parte deste grupo uma parcela significativa dos benefícios pagos pela Previdência, o abono salarial, o seguro-desemprego e o Benefício de Prestação Continuada (conhecido pela sigla BPC).

Trata-se de uma despesa anual que ultrapassa a casa de R$ 1 trilhão – e, de 1997 a 2023, estes desembolsos passaram de 5,4% para 9,8% do Produto Interno Bruto. Isso significa 50% do orçamento federal. Alguns técnicos do Ministério da Fazenda querem mexer neste vespeiro, mas enfrentam a resistência do presidente Lula e de toda a bancada do PT.

Neste pormenor (o de mexer em tabus trabalhistas), o exemplo da Argentina é educativo. Cortaram-se benefícios que pareciam intocáveis, criando uma certa revolta. Mas, com a inflação domada (pelo menos, por enquanto), os opositores de Milei se acalmaram.

No Brasil, o governo precisa entender de uma vez por todas que a inflação é um assunto importante e que faz a diferença nas eleições majoritárias.  E produzir mudanças estruturais, não cosméticas, para reduzir suas despesas. Só assim poderá acalmar investidores, banqueiros e empresários.

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