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O valioso conselho de Damares a Galípolo

A senadora Damares Alves se notabilizou na vida pública por declarações enfatizando sua religiosidade ou opiniões conservadoras do ponto de vista comportamental. Mas, durante a sabatina que aprovou a indicação de Gabriel Galípolo à presidência do Banco Central, foi de Damares que veio um conselho que pode ser extremamente valioso ao economista.

A senadora disse o seguinte: “Não era fácil.. a lua de mel entre Paulo Guedes e Roberto Campos nem sempre foi de verdade. A sua lua de mel com [o ministro Fernando] Haddad vai acabar, se prepare, eu vou lhe informar isso. A lua de mel com [o presidente Luiz Inácio] Lula [da Silva] vai acabar, se prepare para isto. Mas é neste momento que um presidente de Banco Central vai ter um papel muito importante para o Brasil. Então, o que eu quero lhe dizer? Nunca, nunca, perca sua identidade, a sua autonomia, para agradar ao lado A ou ao lado B. Mantenha-se como presidente de Banco Central”.

Até agora, Galípolo vem se destacando justamente por sua independência como diretor de Política Monetária do BC. Em todas as votações do Comitê de Política Monetária que participou, teve uma atuação técnica e de alinhamento total com Roberto Campos.

A votação obtida no Senado (66 a favor e 5 contra) reflete a confiança que o novo presidente do Bacen conquistou entre os parlamentares de oposição – e essa é a mesma percepção que existe hoje em boa parte dos agentes do mercado financeiro, que apostam em uma condução técnica e racional por parte de Galípolo.

Ocorre que o Copom funciona por colegiado. São nove cadeiras: a do presidente da instituição e oito ligadas às demais diretorias do órgão. Hoje, a maioria do comitê que define as taxas de juros é composta por membros indicados na gestão de Jair Bolsonaro. Até 2025, no entanto, toda a diretoria do Banco Central será composta por profissionais indicados por Lula (evidentemente, com ingerência de Galípolo e Haddad).

Esse será o momento da verdade. Galípolo pode se manter fiel à condução técnica de seu mandato. Mas será acompanhado por seus colegas de Copom? Se os demais diretores forem nomes de sua indicação, tudo estará bem. Mas se os novos membros saírem da lista de Haddad (ou do presidente), pode haver um risco.

Como a senadora Damares ponderou, no futuro algum abalo da lua de mel que existe hoje entre o Ministério da Fazenda e o BC poderá ocorrer. Especialmente se o Executivo continuar a gastar recursos como se não houvesse amanhã e o BC tiver de promover altas seguidas nas taxas de juros para domar a expectativa de inflação. Para evitar dissabores, Galípolo terá de garantir a escalação de seu time para as diretoria do Banco Central.

Conseguirá?

Há grandes chances para isso. Apesar do diploma de economista, o novo presidente do Banco Central é político por vocação. Habilidoso e articulador, ele sabe como dobrar adversários intelectuais, nunca atacando de frente ou criando conflitos desnecessários. Mesmo assim, em algum momento, ele fatalmente terá de contrariar a vontade daquele que o colocou no cargo, o ministro Fernando Haddad. Ninguém sabe ao certo quando isso vai acontecer – mas com certeza acontecerá. Esta será a prova de fogo mais difícil da carreira de Gabriel Galípolo.

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