Fatores como clima instável, alta da Selic, queda nas commodities e aumento dos custos de produção prejudicam a renda e estabilidade financeira dos produtores
O agronegócio brasileiro enfrenta um aumento expressivo nos pedidos de recuperação judicial, com crescimento de 529% no segundo trimestre de 2024. Segundo dados da Serasa Experian, divulgados nesta sexta-feira (25), o número de solicitações entre produtores rurais pessoas física saltou de 34, em 2023, para 214 no mesmo período deste ano.
De acordo com Marcelo Pimenta, head de agronegócio da Serasa Experian, fatores como o clima instável, a alta da Selic, a queda nos preços das commodities e o aumento dos custos de produção têm prejudicado a renda e a estabilidade financeira dos produtores. “Apesar do crescimento expressivo, ainda estamos falando de um número pequeno, considerando os cerca de 1,4 milhão de produtores que tomaram crédito rural nos últimos dois anos”, pondera Pimenta.
O impacto é ainda mais acentuado nos estados de Mato Grosso e Goiás, líderes na produção de soja e milho, onde o aumento dos pedidos gerou insegurança entre credores que operam nessas regiões. Mato Grosso registrou o maior número de solicitações, com 57 pedidos, seguido por Goiás, com 54. Outras regiões, como Minas Gerais (35), Mato Grosso do Sul (23) e Paraná (12), também apresentaram números preocupantes.
A pesquisa revela que arrendatários e grupos econômicos familiares relacionados ao agronegócio concentram a maior parte dos pedidos de recuperação judicial, com 99 solicitações. “Para esses produtores, que carregam compromissos financeiros mais elevados, o cenário é ainda mais desafiador”, afirma Pimenta.
A crise impacta produtores de todos os portes. Entre os pequenos, foram registrados 44 pedidos, enquanto grandes e médios contabilizaram 36 e 35 solicitações, respectivamente. Esses números indicam que as dificuldades financeiras atravessam diferentes segmentos do setor agrícola, que enfrenta um dos cenários econômicos mais complexos dos últimos anos.