O ano novo começou em meio a uma onda enorme de incertezas. Qual será a atuação do governo em relação ao controle de gastos estatais? Até onde irá a alta de juros? Como se comportará a inflação? E o dólar? O governo conseguirá controlar o crescimento preocupante da dívida pública? Qual será, de fato, o papel do Banco Central no combate à espiral inflacionária, agora que finalmente Gabriel Galípolo (imagem) assumiu a presidência da instituição?
Em um cenário mais previsível que o atual, os economistas erraram bastante as previsões sobre o crescimento do PIB nos últimos anos. O que dizer, então, das previsões para 2025, que são elaboradas dentro de um cenário absolutamente nebuloso?
Segundo o Boletim Focus do Banco Central, que consolida a média dos palpites de 170 instituições do mercado financeiro, o Produto Interno Bruto do país cresceria 1,8% neste ano – um resultado 0,1 ponto percentual menor que o apurado em meados de dezembro. Outro levantamento, feito pelo jornal Valor Econômico, estabeleceu um percentual médio entre 76 previsões, chegando a 2% de elevação do PIB – mas a faixa dessas estimativas é muito elástica, pois parte de 1,3% de crescimento e vai até 3%.
Sempre houve descompasso entre expectativa e realidade quando o assunto é evolução do PIB. Mas, desde 2019, esse gap ganhou uma dimensão bastante expressiva. Em 2019, por exemplo, os economistas acreditavam em uma alta de 2,5%. O crescimento, no entanto, foi de 1,2%. No ano seguinte, a mira continuou fora de calibre. Mas, nesse caso, ninguém esperava a pandemia de Covid-19 que devastou a economia mundial. Dessa forma, o vaticínio de 2% de expansão virou, na prática, uma retração de 4,4%.
Para 2021, a expectativa registrada pelo Boletim Focus mostrava uma crença no crescimento de 3,4% para o PIB. Entretanto, a taxa de incremento ficou em 4,8%. Para 2022, esperava-se uma elevação de 0,4%. O resultado? Um salto de 3%. Já para 2023, com o governo petista, o mercado esperava um crescimento protocolar do PIB, chegando a 0,8%. No final daquele ano, houve um avanço de 1,5% no Produto Interno Bruto. Para o ano passado, falava-se em crescimento de 1,5%. Hoje, porém, acredita-se que o PIB tenha sofrido uma expansão de 3% a 3,5% em 2024 (o número oficial ainda não foi divulgado).
Os economistas argumentam que fenômenos repentinos, como choques nos preços das commodities e transformações climáticas, podem ter interferido na diferença entre o que esperavam os técnicos e aquilo que realmente ocorreu. Além disso, os especialistas não conseguiram estimar ao certo a mãozinha dada pela expansão dos gastos públicos e o chamado impulso fiscal dado à economia pelo governo.
Dessa forma, dizem os economistas, em um ano sem tantos acontecimentos inesperados, o Boletim Focus teria maiores chances de acurácia. Isso pode até ser verdade. Mas um importante ativo de quem estuda a atividade econômica é listar as possíveis intempéries pela qual os países podem passar – ou eventuais empurrões keynesianos que as autoridades possam dar ao PIB.
Por fim, muitos observadores acreditam que há mudanças estruturais existentes na economia que ainda não foram plenamente compreendidas pelos estudiosos da macroeconomia. Uma delas seria o verdadeiro alcance das reformas econômicas que começaram no governo de Michel Temer e avançaram durante a gestão de Jair Bolsonaro. Tais modificações teriam destravado certas amarras do ambiente de negócios e podem ter contribuído para resultados que superaram a expectativas.
Além disso, há quem defenda a tese segundo a qual os economistas ainda não compreenderam totalmente a importância do agronegócio na economia local e como seus principais agentes conseguem contaminar o restante da cadeia de negócios, impulsionando o PIB em um momento favorável, com safras enormes e grandes saltos nos preços de commodities agrícolas. O efeito contrário, de retração no agro, também pode não ter sido totalmente entendido pelos economistas na hora de calcular a performance da geração de riquezas na economia brasileira.
Outro ponto importante: a velocidade de recuperação de determinados setores econômicos também não teria sido capturada com precisão pelos departamentos econômicos dos bancos brasileiros.
Finalmente, há um desafio ao interpretar duas tendências aparentemente contraditórias: o consumo relativamente crescente dos trabalhadores versus um pessimismo que contamina os empresários (especialmente pela questão fiscal). Esse descrédito fez o dólar subir exponencialmente em 2024 e terá impactos inflacionários, além de puxar um novo repique dos juros. Como isso vai afetar a performance da economia nacional em 2025?
Com tantas incertezas, não é à toa que as previsões para 2025 partam de um crescimento de 1,3% e vão até uma expansão de 3%. Por isso, qualquer que seja o resultado aferido em dezembro, já temos uma certeza: uma boa parcela dos economistas terá errado novamente a mão em suas previsões em relação a esse ano.