A causa virá da enorme expansão do crédito que ocorreu desde a Grande Recessão, sob Obama, Trump e Biden
Recentemente, o Presidente Trump ganhou as manchetes por se recusar, em duas ocasiões, a descartar a possibilidade de os EUA sofrerem uma recessão este ano. Os comentários foram feitos dias depois que o Fed de Atlanta anunciou que agora projeta uma queda de quase -3% no PIB no primeiro trimestre deste ano.
Esses acontecimentos, juntamente com o recente declínio do mercado de ações desencadeado pela reação do mercado aos planos tarifários de Trump, fizeram com que muitos oponentes políticos do presidente se juntassem a figuras do establishment midiático para causar o temor por uma iminente “Trumpcession” [como seria chamada uma recessão supostamente causada por Trump, em inglês].
É comum sentir a tentação de olhar para as últimas décadas de intervenções governamentais na economia e tentar enquadrar o establishment político de Washington dentro de alguma escola de pensamento econômico. Eles poderiam ser keynesianos ou monetaristas, neoliberais da Escola de Chicago ou adeptos iniciantes da Teoria Monetária Moderna.
Na realidade, o establishment político não segue uma filosofia econômica consistente. Não possuem uma explicação única e coerente para fenômenos como inflação ou recessões. E, ao não se comprometerem com uma explicação clara para essas crises econômicas, as figuras do establishment ficam livres para adotar qualquer justificativa que lhes pareça mais conveniente no momento em que tudo começa a desmoronar.
A Grande Depressão é atribuída a Herbert Hoover, que teria insistido cegamente em equilibrar o orçamento em meio a uma recessão severa. A Grande Recessão de 2008, dizem, aconteceu devido à falta de regulamentação adequada do setor financeiro por parte do governo. Já a recessão causada pela Covid-19 em 2020 teria ocorrido porque Donald Trump não restringiu nossas liberdades de forma rigorosa o suficiente para conter a pandemia, nem imprimiu e gastou dinheiro em volume suficiente para manter a economia funcionando normalmente.
Nenhuma dessas explicações chega perto de esclarecer como toda a economia se retraiu ao mesmo tempo. Mas todas elas servem para justificar a concessão de mais dinheiro e poder ao governo, razão pela qual acabam se tornando a narrativa oficial dominante.
Ainda é cedo para dizer se os indicadores oficiais apontarão que estamos, de fato, em uma recessão. No entanto, a reação observada recentemente diante dessa possibilidade revelou claramente qual será a narrativa que o establishment político pretende adotar assim que a recessão for oficialmente declarada.
Eles dirão que tudo estava indo muito bem depois que Biden assumiu e “fortaleceu” o governo federal para resgatar a economia do terrível primeiro mandato de Trump. Apontarão para os indicadores oficiais de crescimento econômico e do emprego divulgados sob Biden e celebrarão a conquista de uma “economia historicamente forte” — mesmo que, como nos disseram [7] na época, as pessoas que realmente viveram esse período fossem burras demais para entender o quão boa era a situação.
Então, Donald Trump voltou e desencadeou o caos com cortes insensíveis em programas do governo e tarifas sufocantes. E, em um esforço imprudente para enriquecer ainda mais seus amigos bilionários, ele afundou toda a economia americana.
O início do mês nos mostrou que a grande mídia está pronta para empurrar agressivamente essa narrativa assim que o limiar oficial da recessão for atingido.
A lição será, mais uma vez, que a economia entrou em colapso porque alguns políticos rebeldes fizeram coisas que o establishment político não aprova. Mas, assim como acontece com a explicação oficial das recessões anteriores, essa também será uma grande bobagem.
Cortar programas do governo é, por natureza, algo muito difícil de fazer sem causar algum caos econômico. E tarifas realmente são impostos destrutivos que são ruins para praticamente todo mundo no país. Mas nenhuma dessas coisas pode, sozinha, gerar o tipo de desaceleração econômica abrangente que define uma recessão.
Só existe uma coisa capaz de causar isso: a expansão artificial do crédito.
Quando novos fundos emprestáveis, que não são baseados em poupança real, entram na economia, toda a estrutura de produção é distorcida, incentivando projetos que não podem ser concluídos com os recursos disponíveis e que não estão alinhados com o que os consumidores realmente desejam. A produção é inflada além do que pode ser sustentado na prática, o que exige uma correção generalizada da economia. Isso é uma recessão.
Quem mais promove esse processo, de forma ampla e eficaz, são os cartéis bancários – também conhecidos como bancos centrais. Esse mecanismo beneficia os grandes bancos, funcionários do governo e empresas com conexões políticas, às custas de praticamente todo o resto da economia. E é um ciclo que a classe política americana mantém há décadas por meio do seu banco central, o Federal Reserve.
Quando a próxima recessão chegar – supondo que já não estejamos nela há anos -, a causa será a enorme expansão do crédito que ocorreu desde a Grande Recessão, sob Obama, Trump e Biden.
Isso não se encaixa bem no jogo simplista de culpa partidária que o establishment prefere que a gente jogue sempre que algo ruim acontece na economia. Mas essa é a verdade.
Não caia nessa quando os mesmos que estão no poder há décadas tentarem vender a próxima recessão, mais uma vez, como consequência de ainda não terem poder suficiente.
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Por Connor O’Keeffe
Publicado originalmente em: https://encurtador.com.br/CGYM0