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Reformas podem aliviar câmbio em cenário externo complicado

Economista e sócio da consultoria Tendências, Silvio Campos Neto segue boa parte dos analistas ao afirmar que a economia global deve desacelerar a partir de 2019. Um cenário de menor crescimento econômico tende a diminuir o apetite dos investidores por ativos de risco, como o real brasileiro, puxando o preço do dólar para cima. Na opinião de Campos Neto, a aprovação das reformas propostas pelo governo eleito, comandado por Jair Bolsonaro, seriam fundamentais para conter a escalada da moeda americana. Confira a entrevista concedida ao portal MONEY REPORT:

Qual é a projeção do dólar para o ano que vem?

Acreditamos que o dólar vai fechar 2019 em torno de R$ 3,75. Existem uma série de questões em aberto no exterior, como a guerra comercial, o risco de desaceleração das principais economias globais e o ajuste dos juros americanos. Há muitos ruídos lá fora, que devem pressionar o câmbio. O contraponto viria do cenário doméstico, com a aprovação da Reforma da Previdência e a continuidade de uma agenda econômica mais positiva, ajudando a aliviar as pressões.

E em um cenário mais pessimista, sem aprovação das reformas?

Aí teríamos, certamente, um número acima de R$ 4, possivelmente entre R$ 4,20 e R$ 4,30.

Podemos ter alguma surpresa positiva no front externo?

Existem várias incertezas no mundo. Alguns fatores podem puxar o dólar para baixo, como uma postura mais comedida do Fed (Federal Reserve, o Banco Central dos Estados Unidos), que pode interromper o ciclo de alta dos juros mais cedo do que se imagina.

E para o fim deste ano? Qual é a expectativa?

Trabalhamos com o preço de R$ 3,79, mas aí é uma questão de curtíssimo prazo, ficando ao sabor do mercado. A gente tem visto alguma volatilidade nesses últimos dias. Como não devemos ter nenhum evento excepcional até o fim do ano, essa volatilidade deve continuar até o dia 31, com o preço dependendo muito de como o exterior vai se comportar.

O câmbio que vocês projetam é atrativo para os investimentos em ações na bolsa brasileira?

Essa questão é muito relativa. Se o Brasil mostrar que não vai fazer o seu dever de casa, um câmbio a R$ 4,20 não vai garantir, por si só, o investimento em ativos locais. Se tomarmos as medidas necessárias para reverter o quadro atual, uma eventual valorização do real não seria um impeditivo para a entrada de investimentos, porque no fundo teríamos uma visão mais positiva do país e os prêmios de risco cairiam. Essa é uma variável importante para o mercado.

E como esse cenário para o dólar afeta o resto da economia?

Não teria grandes impactos. Mesmo oscilando, o câmbio não mudaria drasticamente de patamar. Portanto, este não seria um fator prejudicial ao comportamento da inflação, que deve seguir alinhada com as metas – nosso número para o ano que vem é de 4,2%, muito perto da meta de 4,25%. Em relação ao PIB, acreditamos em uma recuperação gradual, sem grande influência da questão cambial. A melhora viria do consumo e dos investimentos, impulsionados pelo aumento da confiança, apesar de nossa projeção ser conservadora para 2019 (crescimento de 2%). No que diz respeito aos juros, esperamos um ciclo de alta na parte final do ano, encerrando em 7,75%.

Bancos estrangeiros como UBS, Credit Suisse e Bank of America preveem um crescimento a partir de 3% no ano que vem. Existe um excesso de otimismo nessas análises?

Acredito que sim. A aceleração teria que ser muito intensa para alcançar esse patamar. Sabemos que o início do ano ainda vai carregar uma certa dúvida em relação ao avanço das reformas, fundamentais para estimular a melhora da confiança. Caso essa agenda se materialize, devemos observar uma aceleração que ficaria, em tese, mais evidente só em 2020. Além disso, uma agenda de concessões levaria tempo para se traduzir em melhora da atividade.

O governo vai ter quanto tempo para mostrar serviço?

Creio que o primeiro grande teste será em fevereiro, com a eleição das mesas diretoras da Câmara e do Senado. A partir daí, saberemos se as lideranças terão objetivos alinhados aos do governo, o que já seria um grande passo. Superada essa questão, fica a expectativa de votar a Reforma da Previdência, que ainda está em aberto, sem sabermos exatamente qual modelo vai ser proposto. Acho que o mercado espera ver essa questão encaminhada até março ou abril, com uma proposta robusta já em tramitação.

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