O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), surpreendeu o Planalto nesta semana com a votação da PEC que tira poder do governo sobre o Orçamento – a pauta estava engavetada desde 2015 e foi votada e aprovada agora para desgastar o presidente e sua tentativa de fazer um ajuste fiscal.
A votação não teria sido possível sem a influência de Rodrigo Maia, deputado no sexto mandato e encarado pelos seus pares como um “político nato”. Segundo o cientista político e professor do Insper Leandro Consentino, a atuação de Maia em torno da votação da PEC do Orçamento é um “recado” ao presidente Bolsonaro de que o Congresso tem autonomia e poder para votar pautas contrárias ao Planalto, sobretudo quando se sente contrariado. “É como se os deputados dissessem ao presidente: ‘é melhor articular com o Congresso, ou vamos mostrar nossos dentes’”.
Após mostrar a força que a presidência da Câmara lhe proporciona, Maia decidiu dar uma trégua ao embate. Mas o temor de novas rusgas está longe de ter sido dissipado. “Maia é um político poderoso, que pode atrapalhar o Executivo a qualquer momento, pautando na Câmara temas que vão de encontro aos interesses do governo”, explica André Perfeito, economista-chefe da corretora Necton.
Na próxima semana, devem tramitar ao mesmo tempo na Câmara a reforma da Previdência e o pacote anticrime do ministro Moro, contrariando o Parlamento, que pretende dar preferência ao projeto que muda as aposentadorias.