Por Claudia Violante
SÃO PAULO (Reuters) – O dólar subia nesta quarta-feira e operava na casa de 3,50 reais pela primeira vez em quase dois anos, influenciado pelo cenário externo em meio a leituras de que o aperto monetário nos Estados Unidos pode ser mais firme do que o inicialmente previsto e afetar o fluxo de capital global.
Às 12:11, o dólar avançava 1,05 por cento, a 3,5058 reais na venda, depois de tocar a máxima de 3,5105 reais neste pregão. Se fechar no nível atual, será o maior patamar desde o começo de junho de 2016.
O dólar já havia subido nos quatro pregões anteriores, acumulando ganhos de 2,64 por cento. O dólar futuro tinha alta de 0,9 por cento.
“É fato que o intervalo de oscilação do dólar já mudou, mas é cedo para dizer qual é. Parece que 3,50 reais viraram novo teto”, afirmou o gerente de câmbio da corretora Fair, Mário Battistel. Até pouco tempo, o teto que o mercado trabalhava era de 3,30 reais.
A continuidade da valorização do dólar seguia refletindo as preocupações sobre possível aperto monetário mais forte do que o inicialmente previsto nos Estados Unidos, em meio às fortes altas dos rendimentos dos Treasuries norte-americanos nos últimos dias.
O papel de 10 anos seguia acima da barreira psicológica de 3 por cento, com a possibilidade de inflação maior nos EUA diante dos preços de commodities em alta e atividade econômica forte, além de preocupações com emissões mais pesadas de títulos do país.
Mais inflação demandaria atuação mais firme do Federal Reserve, banco central dos Estados Unidos, que poderia subir os juros mais rapidamente e acabar atraindo recursos aplicados hoje em outros mercados financeiros, como o brasileiro.
Neste cenário, o dólar atingia alta de quatro meses contra uma cesta de moedas e avançava sobre divisas de países emergentes, como os pesos chileno e mexicano.
O cenário político e jurídico local também justificava a cautela dos investidores nesta sessão, sem que um candidato que tenha demonstrado comprometimento com o atual ajuste fiscal despontasse nas pesquisas para o pleito de outubro.
Pesquisa Ibope feita no Estado de São Paulo para a TV Bandeirantes e divulgada na noite passada mostrou que o ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB), um dos preferidos do mercado, ainda não se firmou.
“O levantamento é ruim para o tucano, que governou São Paulo por muitos anos”, afirmou o gestor de uma corretora local.
No cenário jurídico, os investidores também reagiam com temor às eventuais implicações da decisão do Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) de retirar dos processos que estão nas mãos do juiz federal Sérgio Moro trechos de delações feitas por executivos da Odebrecht que implicam o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
“Há o temor de que abra alguma brecha que livre Lula”, afirmou Battistel, da Fair.
O ex-presidente, que lidera as pesquisa de intenção de voto, é considerado pelo mercado menos comprometido com o ajuste das contas públicas. Lula está preso após condenação por corrupção e lavagem de dinheiro.
O avanço do dólar tem levado muitos agentes do mercado a especular sobre eventual atuação mais forte do Banco Central no mercado cambial.
Por enquanto, o Banco Central só fez seu leilão de swap cambial tradicional, equivalentes à venda futura de dólares, no qual vendeu todo o lote de 3,4 mil contratos, rolando 2,210 bilhões de dólares do total de 2,565 bilhões de dólares que vence em maio.
Se mantiver esse volume diário e vendê-lo integralmente, o BC rolará o valor total dos swaps que vencem no próximo mês.
Em 3 de maio também vencem 2 bilhões de dólares em leilão de linha, venda de dólares com compromisso de recompra, segundo dados do BC.