Por Marcela Ayres
BRASÍLIA (Reuters) – O estoque geral de crédito no país cresceu 0,7 por cento em junho sobre maio, a 3,130 trilhões de reais, com destaque para o aumento do apetite das empresas por financiamentos, movimento que teimava acontecer em meio à ainda lenta retomada da economia.
Mesmo num mês marcado pelos reflexos da greve dos caminhoneiros, o avanço no estoque de crédito das pessoas jurídicas foi de 1,2 por cento sobre maio, três vezes superior à expansão vista no crédito às famílias, divulgou o Banco Central nesta sexta-feira.
“É uma tendência que as pessoas jurídicas passem a crescer sempre o triplo das famílias? Eu diria que não”, afirmou o chefe do departamento de Estatísticas do BC, Fernando Rocha. “O que eu diria que parece uma tendência é o crescimento nos saldos tanto das pessoas jurídicas, quanto das pessoas físicas”, completou.
Segundo Rocha, o crédito para empresas continua sendo puxado pelas modalidades mais ligadas à necessidade de recursos em prazo mais curto, como desconto de duplicata e antecipação de faturas. Em junho, o financiamento às exportações também se destacou.
Segundo ele, o desempenho mais modesto do crédito às famílias foi impactado em junho pela redução do saldo no cartão de cartão de crédito à vista, afetado pela base de comparação, já que maio é marcado pelo Dia das Mães.
No acumulado do ano, o estoque total de crédito subiu 1,2 por cento, guiado pelos financiamentos às pessoas físicas, que cresceram 2,7 por cento. Entre as empresas, o estoque caiu 0,4 por cento.
Em 12 meses, o saldo de financiamentos no Brasil teve alta de 1,7 por cento, com elevação de 6,2 por cento para as famílias e recuo de 3,1 por cento para as companhias, divulgou o BC.
No fim de junho, o BC piorou sua estimativa para o mercado de crédito no país, com crescimento de 3 por cento em 2018, ante expectativa de 3,5 por cento. Neste cenário, estimou que o saldo das operações às famílias avançará 7,5 por cento, beneficiado pelo custo mais barato dos financiamentos e redução do nível de endividamento dos consumidores.
Mas, para as pessoas jurídicas, projetou recuo de 2 por cento no ano, “em contexto de desalavancagem das empresas e maior dinamismo nos mercados de capitais e externo”.
Olhando apenas para o segmento de recursos livres, em que as taxas de juros são livremente definidas pelos bancos, os juros médios caíram a 38,5 por cento ao ano em junho, sobre 39,2 por cento em maio, acumulando no ano queda de 1,8 ponto percentual.
O movimento se deu em meio ao ciclo de afrouxamento monetário promovido pelo BC, que levou a Selic ao seu menor patamar histórico, de 6,5 por cento ao ano.
Ao mesmo tempo, o spread bancário, que mede a diferença entre o custo de captação e a taxa cobrada pelos bancos ao consumidor final, passou em junho a 29,4 pontos percentuais no segmento de recursos livres, ante 31 pontos em maio. No semestre, a queda foi de 2,4 pontos.
Já a inadimplência no mesmo segmento foi a 4,4 por cento em junho, sobre 4,6 por cento em maio, acumulando nos seis primeiros meses de 2018 um recuo de 0,5 ponto.