SÃO PAULO (Reuters) – O candidato a vice-presidente pelo PT, Fernando Haddad, rebateu nesta quinta-feira as críticas do presidenciável Ciro Gomes (PDT) à chamada chapa tripla anunciada pelo PT, e afirmou que abrir mão da candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva seria um desrespeito ao eleitorado.
Ciro afirmou na véspera que a chapa tripla do PT, formada por Lula para presidente e Haddad e a deputada estadual Manuela D’Ávila (PCdoB) como vices em momentos distintos da campanha, “engana flagrantemente” o eleitor.
Haddad disse a jornalistas após palestra para investidores em São Paulo que respeita Ciro e tem boa relação com ele, mas que diverge do pedetista sobre Lula.
“Com todo o respeito ao Ciro, porque, de novo, eu retribuo o gesto sempre fraterno do Ciro para comigo e eu próprio já tive vários gestos fraternos para com ele, é um respeito antigo,… então pacificada essa questão, de respeito e desejo de aproximação, nós temos uma avaliação diferente do Lula desde o princípio”, disse Haddad.
“Do nosso ponto de vista, desrespeito ao eleitor seria abrir mão do Lula. É uma divergência democrática, natural. Isso não torna o Ciro melhor nem pior, nem a mim, nem a Manuela. Existe uma percepção clara, firme, rígida do nosso lado de que desrespeito ao eleitor é abrir mão do Lula, que é quem o eleitor quer ver na Presidência da República”, acrescentou.
No último fim de semana, o PT oficializou a candidatura de Lula, que está preso desde abril, ao Planalto. Como o ex-presidente foi condenada em segunda instância por corrupção e lavagem de dinheiro, ele deve ter seu nome barrado da disputa eleitoral devido à Lei da Ficha Limpa.
Posteriormente, o PT anunciou uma aliança com o PCdoB pela qual Manuela assumirá a vaga de candidata a vice na chapa presidencial quando a situação jurídica de Lula se resolver. Até lá, o candidato a vice será Haddad, que, por sua vez, deve ficar com a cabeça de chapa se a impugnação do ex-presidente Lula se confirmar.
Haddad afirmou que o PT irá às últimas consequências e usará de todos os recursos judiciais possíveis para assegurar a presença de Lula, que lidera as pesquisas de intenção de voto, na eleição de outubro.
“Enquanto houver alguma esperança de legalidade nesse país, nós vamos apostar nisso, para garantir Lula na urna”, disse Haddad, que será o substituto de Lula na cabeça de chapa petista caso a candidatura do ex-presidente seja impugnada, segundo uma fonte disse à Reuters na semana passada.
“Nós não vamos abdicar do Lula. Eu vou dizer uma coisa aqui quase como uma previsão: o Lula vai voltar a ser presidente da República”, disse o ex-prefeito de São Paulo durante a palestra, organizada pelo banco BTG Pactual.
Também na palestra, Haddad reconheceu que a situação vivida por Lula e o PT é difícil, mas voltou a defender a insistência do partido na candidatura de Lula ao Planalto.
“Nossa situação é muito difícil, mas nós não vamos facilitar a vida dos nossos adversários jogando a toalha”, disse.
CONTROLE DAS INSTITUIÇÕES
Na palestra, Haddad, que também é o coordenador do programa de governo petista, defendeu um maior controle externo de instituições como o Judiciário e o Ministério Público, assim como a adoção de protocolos para os acordos de delação premiada. Além da condenação no caso do tríplex, Lula é réu em outros cinco processos e, em vários deles, há acusações de delatores contra o ex-presidente.
Lula, que nega quaisquer irregularidades, afirma ser alvo de uma perseguição política montada por setores do Ministério Público, da imprensa, da Polícia Federal e do Judiciário para impedi-lo de ser novamente candidato.
“Você tem que colocar um burocrata para fiscalizar o outro”, disse Haddad ao defender um novo modelo de controle externo. “Não funciona corregedoria formada por membros da própria corporação”, acrescentou ele, que defendeu benefícios menores a delatores, assim como punições mais severas a colaboradores que mentirem.
“Pegou 15 (anos de prisão). Colaborou, vai para 10. Mentiu, vai para 25”, disse o petista.
ROBUSTEZ FISCAL
Haddad também disse que um eventual governo petista eleito em outubro terá uma forte responsabilidade fiscal, como, na avaliação dele, ocorreu nos governos de Lula.
“Nós sim devemos adotar uma política fiscal robusta, que foi a marca dos governos Lula”, disse Haddad durante a palestra, lembrando que os governos do ex-presidente registraram superávits primários sucessivos.
Haddad disse aos investidores que Lula tem experiência na condução da economia.
O candidato a vice do PT também defendeu o crédito como ferramenta de desenvolvimento e tocou na questão dos spreads bancários.
“Pretendemos fazer uma discussão muito franca com o sistema bancário com relação aos spreads… Mas temos uma posição muito rígida em relação a isso”, afirmou. No programa de governo de Lula, o partido propõe taxar mais os bancos que não diminuírem o spread bancário.
(Reportagem de Eduardo Simões)