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Como Alessandra Korap ganhou o nobel ambiental

Professora angariou reconhecimento internacional ao enfrentar mineradoras, garimpeiros, jagunços e o machismo de caciques para proteger a bacia do Tapajós

Desconhecida para quem não acompanha as questões ambientais amazônicas, a líder indígena brasileira Alessandra Korap Munduruku (38) foi agraciada neste final de semana com o prêmio Goldman Environmental de 2023 para a América do Sul e Central por seu trabalho para a preservação dos recursos naturais. Considerado o nobel ambiental, o reconhecimento é a prova que essa brasileira nativa faz muito mais que protestar. Ela coordena ações integradas no Brasil e no exterior contra projetos de exploração de cobre de grandes mineradoras. Anglo American e Vale têm interesse nas jazidas.

Pressionada, a Anglo American desistiu de 27 projetos de prospecção já autorizados pela Agência Nacional de Mineração (ANM) – incluindo 13 para cobre – em áreas reivindicadas por povos indígenas na bacia do Rio Tapajós, no Pará e Mato Grosso. O mesmo fez a Vale, que anunciou uma retirada semelhante de todas as licenças de prospecção em terras indígenas no Brasil. Entre 2011 e 2020, 97 pedidos de mineração foram registrados. “A decisão protege uma área criticamente ameaçada da Amazônia – a maior floresta tropical do mundo e um sumidouro de carbono globalmente significativo – de mais mineração e desmatamento”, afirmou a fundação Goldman Prize. A briga se deu por que a região cobre a terra indígena Sawré Muybut, que está identificada desde 1768 como lar dos munduruku (daí o sobrenome de Alessandra), mas nunca foi oficialmente demarcada e reconhecida pelas autoridades brasileiras. São 178 mil hectares ao longo do trecho central do Tapajós.

Advogados “brancos”

Antes de conseguir barrar as mineradoras, Alessandra teve a casa destruída e sofreu uma série de ameaças. Em outra ocasião, o ônibus que levaria um grupo que integrava para Brasília quase foi incendiado por jagunços. Seu trabalho começou em 2014, em Itaituba (PA), quando atuava como professora. O interior do município é habitado pelos mundukuru e começou a ser devastado por loteamentos irregulares. “Muitas vezes, íamos a um local onde costumávamos caçar ou colher frutas e, de repente, todo o terreno tinha sido limpado pelas máquinas. Daí nos perguntávamos: cadê o lago onde costumávamos pescar e brincar? Ele simplesmente não existia mais”, contou à BBC.

A partir daí ela começou a participar das idas dos caciques ao Congresso. Primeiro ela enfrentou o machismo dos seus líderes, que apesar de viajaram na companhia de mulheres e crianças para pressionar as autoridades, não lhe davam espaço. Depois, percebeu que seu povo não podia depender apenas de advogados “brancos”. Por isso, em 2018 foi cursar Direito na Universidade Federal do Oeste do Pará, em Santarém.

A intenção era representar os mundukuru se valendo das mesmas regras de quem os ameaçava. A essa altura, a o Médio Tapajos também era afetado por uma leva crescente de garimpeiros ilegais. Em 2019, ela procurou a Fiocruz em busca de ajuda. Um pesquisa a partir de fios de cabelo dos indígenas identificou que 58% possuíam níveis alarmantes de mercúrio no organismo. Altamente tóxico, o metal líquido é usado para separar o ouro das rochas e da lama de onde é extraído.

Ameaça na COP

Alessandra Korap organizou a resistência em termos jurídicos e políticos. Sempre pressionada, levantou fundos e fez contatos no exterior. Em novembro de 2021, quando participava da Conferência do Clima das Nações Unidas (COP 26), em Glasgow, na Escócia, ouviu de uma pessoa não identificado que deveria “deixar de misturar política e meio ambiente”. Era mais uma ameaça. Quando voltou, sua casa tinha sido invadida e seus computadores, roubados. A essa altura, seus esforços já davam resultado.

O perigo só virou notícia quando a Organização das Nações Unidas alertou publicamente o governo brasileiro que a líder deveria ser protegida. Nesta época, Anglo American e Vale já desistiam dos projetos. De acordo com a Fundação Goldman Prize, em 2022, uma pesquisa interna do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram) constatou que, pela primeira vez em décadas, nenhuma de suas 130 afiliadas tinha projetos em territórios indígenas. Mas os garimpos ilegais continuam. O trabalho desta brasileira está longe de terminar.

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