São histórias sórdidas, mas indicam que a Lei pode funcionar, motivando mais vítimas em empresas, escolas e lares
Fragmentos de DNA, imagens, gravações de conversas ameaçadoras. As últimas três semanas do brasileiro não andaram fáceis nos noticiários, mas se algo deve ser elogiado é a coragem de denunciar maldades e abusos. Sem coragem, a vida de ninguém muda, principalmente em se tratando de vítimas. E o que isso tem com governança? Tudo.
Afinal, os três casos escabrosos não têm só relação com a justiça criminal. Para bater na mesa de um delegado, antes foi preciso ter a certeza que as organizações não tentariam esconder os escândalos, dando chance para perpetradores se defenderem melhor. Os episódios continuados de assédio sexual do presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães, são os mais bem documentados – e até os menos piores. Além de denúncias, constam gravações e até o testemunho de jornalistas de finanças que ouviram os comentários de caráter sexual de Guimarães sobre as funcionárias da Caixa. Ele pediu para sair. Como subproduto da mesma toxidade, a renúncia do vice-presidente de Negócios no Atacado, Celso Barbosa, veio dois dias depois. O fato de as vítimas serem concursadas foi uma garantia fundamental e os processos devem continuar.
DNA
No caso do anestesista assediador de parturientes sedadas em São João de Meriti, na Baixada Fluminense, nem compliance foi preciso. Sob a desconfiança de técnicas e enfermeiras, foi filmado, denunciado e levado à cadeia por uma delegada em menos de 24 horas. Para melhorar, o flagrante contou com componentes forenses. Foram recolhidos do descarte da sala de parto as gazes e as vestes cirúrgicas usadas pelo médico Giovanni Quintella. Uma análise deve detectar a presença de esperma. Nem seria preciso. O vídeo captado por um celular escondido garantirá sua condenação e perda de diploma. Por enquanto, já ganhou uma cela individual em Bangu para a garantia de sua integridade física. O vídeo foi óbvio, mas sem a popularização dos documentários e séries policiais, como “CSI”, “Lei & Ordem: SVU” e “Bones”, pouca gente saberia coletar DNA suspeito sem titubear.
Por fim, há o vice estadual do PL, acusado pela filha de assediar suas duas netas adolescentes desde a infância – assim como fez com ela no passado. Figura política influente na região de Mogi das Cruzes, as queixas contra José Renato da Silva foram proteladasaté que a filha, Cíntia Lira da Silva, descobriu os ataques às filhas. Secretária municipal em Suzano, temia por seu futuro profissional e pelo sustento da família. Ao colher provas para ir em frente como se estivesse em uma investigação, encontrou apoio psicológico para si e para as garotas, devendo apresentar testemunhas.
Adolescentes
Essas histórias sórdidas que não deveriam ser contadas com tanta frequência mostram que a sociedade amadurece contra algumas barbáries. E como na ficção, indicam que a Justiça pode ser feita, motivando mais gente por aí a denunciar em empresas, escolas e lares. Mas há muito para avançar. Nesta quarta-feira (13), a Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE) 2009/2019, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revelou que 14,6% dos adolescentes, ou seja, um a cada sete, sofreram algum tipo de violência sexual, o que incluindo as 5,6% vítimas de relação sexual forçada. As informações foram obtidas com estudantes do 9º ano do ensino fundamental, grupo que inclui adolescentes de 13 a 15 anos das capitais brasileiras.
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