Na primeira quinzena de novembro, líderes globais se reunirão em Glasgow, na Escócia, para a 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, também conhecida como COP26. A reunião, que debaterá a mudança climática e definirá acordos entre países empresas para combater ameaças ao planeta, já vem sendo previamente abordada por entidades. Um exemplo é o webinar promovido pela Aberje na última semana, com Juliane Reinecke, professora de gestão internacional e sustentabilidade na Escola de Negócios do King’s College de Londres; Kat Thorne, diretora de sustentabilidade do King’s College de Londres e Cristiano Teixeira, diretor geral da Klabin.
Na ocasião, muito se falou de inclusão. “Os negociadores da COP26 terão um grande desafio para chegar a algum acordo. Nós sabemos onde queremos chegar, mas como fazer isso é o xis da questão, e também como alcançar esse objetivos de forma justa e inclusiva”, disse Juliane Reinecke, acrescentando que a proteção ao meio ambiente que temos hoje “não é suficiente”, considerando a extensão e a complexidade da questão climática.
Falou-se também do conceito de vulnerabilidade nos países. “Divulgou-se recentemente que a Suécia, a França, a Finlândia, a Alemanha e os EUA estariam no ranking dos menos afetados pelas mudanças climáticas, e os que correriam mais riscos seriam Nigéria, Bangladesh, Costa do Marfim, Tanzânia e Tunísia. Mas todos os países são vulneráveis, e serão afetados pelo aquecimento global. O Fórum Econômico Mundial estimou que, até 2050, 80% da população global será atingida pelas mudanças climáticas. Ou seja, todos nós somos vulneráveis”, afirma Reinecke.
Segundo ela, é importante pensar como balancear as responsabilidades de mitigar as mudanças climáticas, uma vez o papel das empresas em prol do cumprimento da meta zero de carbono até 2050, e outras ações são compromissos coletivos para garantir o proposto, e limitar o aquecimento global a 1,5 graus Celsius.
“Em menos de 10 anos, as emissões de carbono devem cair pela metade, essa é uma meta muito ambiciosa. Por um lado, está nas mãos de todos nós, inclusive das empresas, agir para começar a mitigar as mudanças climáticas e evitar que os piores efeitos aconteçam. Por isso, é muito importante que autoridades e governos do mundo todo definam o escopo e as regras”.
A pesquisadora lembra ainda que, em 2008, o relatório IPCC da ONU estabeleceu o prazo de 12 anos para reduzir o risco da catástrofe da mudança climática. “Ou seja, agora, temos apenas 9 anos. O relatório IPCC de 2021 apenas confirmou que os impactos no meio ambiente estão se acelerando”.
Para Kat Thorne também é importante que o viés do debate e dos compromissos firmados seja realmente efetivos. “O Reino Unido, como anfitrião, irá pedir que os países participantes estabeleçam metas mais ambiciosas de redução de emissão de poluentes, para 2030. Obviamente, o que queremos é ver essas metas acontecendo”, disse.
Em relação ao que se pode esperar da participação do Brasil e, em especial das empresas, Cristiano Teixeira, da Klabin se mostra otimista. “Se olharmos o que está na agenda oficial da conferência, e não nas redes sociais e outros meios, o Brasil reafirma o que ficou acordado no encontro recente ocorrido nos EUA, organizado por Joe Biden. O governo se compromete a zerar o desmatamento ilegal da Amazônia até 2030, e atingir a neutralidade climática em 2050, não mais em 2060”.
Brasil e as Mudanças climáticas
Para Teixeira, é fundamental que o Brasil contenha as ações ilegais de desmatamento da Amazônia. “Hoje, representamos 3% da emissão de gases poluentes, estando como o sexto maior emissor no mundo. Estima-se que 50% dessa emissão seja decorrente do desmatamento ilegal da Amazônia. É por isso que precisamos pressionar as autoridades para que inibam essas ações”, afirma.
Mas a principal medida, segundo ele, é deixar de utilizar o carvão e o gás natural como fontes de energia. “Esse é o passo mais difícil, basta ver a crise de energia que está acontecendo na China. O governo está tentando convencer as empresas a reduzirem o uso de carvão, e apenas esse anúncio já gerou uma crise. Imaginem o que pode acontecer no norte da Europa no próximo inverno, em países como a Alemanha, que depende do gás natural da Rússia?”.
O executivo aproveitou o espaço para contar as ações da Klabin em relação à proteção ambiental. “Agimos para neutralizar as emissões de carbono que resultam das nossas operações. Em relação ao COP26, temos buscado dialogar com os representantes brasileiros. Tenho ido a Brasília a cada 15 dias e conversado com negociadores oficiais que irão a Glasgow, para tentar influenciar as autoridades nos pontos que precisamos alcançar, e no que o mundo espera de nós”.
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Por Marina Filippe
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