Nem de longe sou um ecochato catastrofista. Nem daria, sendo um apaixonado por carnes vermelhas que acredita na importância das sementes transgênicas para vencer a fome. Mas entendo que preservar diferentes ecossistemas, fontes de água, oferecer saneamento, evitar o emprego descontrolado de defensivos agrícolas e liminar as fontes de energia fóssil podem melhorar a vida de todos. Negar tais questões parece ser o caminho para uma lenta desgraça econômica. Só a partir da geração de riqueza é possível criar um mundo menos excludente – o que também reside nas opções políticas. Vale do surgimento da agricultura até a nanorrobótica, a nova corrida espacial e as vacinas de RNA mensageiro. Para tanto, é preciso adotar a postura questionadora que baliza do empreendedor mais simples ao visionário tecnológico: “Dá para ganhar algum dinheiro com isso?” Por dinheiro, entenda-se o desenvolvimento de cadeias produtivas sustentáveis.
Feita a introdução, vamos ao que interessa. Passei os olhos nas dicas do Programa Ambiental da Nações Unidas (UNEP, na sigla em inglês) para enfrentar as mudanças climáticas. Na primeira olhada, mais uma daquelas aborrecidas exortações coach. Só que jamais ignoro um catálogo de categorizações. É um hábito que assumi descaradamente desde “A vertigem das listas”, de Umberto Eco, e dos livros da série “1001” discos, canções, lugares, quadrinhos, livros, filmes e sobremesas para ouvir, conhecer, ler, assistir e degustar antes de morrer.
Como era uma leitura durante o expediente, o modo jornalista foi acionado no automático. Por instantes esqueci o tom lúgubre de alerta do secretário-geral da ONU, António Guterres, durante a Conferência das Partes sobre Mudança do Clima (COP26): “Nosso frágil planeta está por um fio”. Ele está no seu devido papel político. O que me saltou aos olhos é que cada um dos itens é tema de algum negócio inovador. E todas as opções são capazes de tornar a vida mais suportável nas escalas social e pessoal. De uma forma voltada ao business, é o que tntamos fazer em MONEY REPORT. Confira o que sugere o UNEP:
1. Dissemine informações
Encoraje amigos, familiares e colegas de trabalho a reduzir a pegada de carbono. Junte-se a movimentos como o Count Us In (Conte conosco, na tradição literal), que visa inspirar um bilhão de pessoas a tomar medidas práticas e desafiar lideranças a reagir de forma mais corajosa à mudança climática. A organização da plataforma afirma que, se um bilhão de pessoas entrassem em ação, até 20% das emissões globais de carbono poderiam ser reduzidas. Você pode também aderir à campanha da ONU #ActNow (#AgirAgora, em português) sobre mudança climática e sustentabilidade.
Informação correta vale dinheiro. Gente que sabe o que está acontecendo pode, pelo menos, deixar de perder patrimônio ou recursos. O mundo está sempre mudando. Fique atento. É isso que MONEY REPORT tenta com seu boletim ESG.
2. Faça pressão política
Pressione políticos e empresas locais a se empenharem na eliminação e redução da poluição por carbono. O Count Us In oferece algumas dicas úteis para fazer isso. Escolha um assunto ambiental do seu interesse, decida uma demanda específica e marque uma reunião com a representação local. Pode parecer intimidante, mas sua voz merece ser ouvida.
Em resumo, excerça cidadania. Se bancos e empresas fazem isso com governos, a sociedade organizada também pode.
3. Mude seu meio de transporte
Os meios de transporte contribuem para cerca de um quarto das emissões globais de gases de efeito estufa, e muitos governos estão implementando políticas para descarbonizar a mobilidade em todo o mundo. Você pode começar essa mudança: deixe seu carro em casa e caminhe ou pedale sempre que possível.
No Brasil, opte pelo etanol e, quando der, adote o carro elétrico. Essas tecnologias já são aplicadas por Fiat, Chrysler, Mercedes, Embraer, Rolls-Royce, Tesla, Toyota, Volvo, VW, Xiaomi e por aí vamos.
4. Controle seu consumo de energia
Instale painéis solares. Seja mais eficiente: aumente a temperatura do ar condicionado em alguns graus, se puder. Desligue aparelhos e luzes quando não os estiver usando e, melhor ainda, sempre prefira produtos mais eficientes (dica: isso pode até dar algum dinheiro).
Em resumo, gaste menos em casa e na empresa.
5. Adapte sua dieta
Coma mais refeições à base de vegetais — seu corpo e o planeta agradecem. Atualmente, cerca de 60% das terras agrícolas do mundo são ocupadas por pasto, e muitas pessoas consomem mais alimentos de origem animal do que é considerado saudável. Dietas verdes podem ajudar a reduzir o risco de doenças crônicas, como as cardíacas, além do AVC, diabetes e câncer.
Ninguém está pedindo para você comer menos carne. Apenas consuma melhor.
6. Consuma produtos sustentáveis e de origem local
Para reduzir a pegada de carbono, opte por alimentos locais e da estação. Com isso, você estará ajudando as pequenas empresas e plantações da sua região e reduzindo as emissões de combustíveis fosseis associadas ao transporte e à armazenagem refrigerada. A agricultura sustentável usa até 56% menos energia, produz 64% menos emissões e admite uma maior biodiversidade do que a agricultura convencional.
Ainda sai caro no Brasil, mas é preciso tentar.
7. Não desperdice comida
Um terço de toda comida produzida no mundo é perdida ou desperdiçada. Segundo o relatório de Índice de Desperdício de Alimentos 2021 do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), a população mundial desperdiça um bilhão de toneladas de alimentos anualmente, o que corresponde a cerca de 8% a 10% das emissões de gases de efeito estufa. Aproveite toda a parte comestível dos alimentos que compra. Contribua para um sistema local de compartilhamento de alimentos.
É um ato de cidadania.
8. Vista-se com inteligência (climática)
A indústria da moda contribui com cerca de 8% a 10% das emissões globais de carbono — uma parcela maior que a combinação da quantidade emitida por voos internacionais e transportes marítimos — e o fast fashion (moda rápida, na tradução literal) criou uma cultura de descarte que leva ao rápido acúmulo nos lixões. Mas podemos mudar isso. Compre menos roupas e use-as por mais tempo. Procure marcas sustentáveis e serviços de aluguel em vez de comprar novos itens que serão usados apenas uma vez.
Melhor um blazer e um par de sapatos sóbrios e de qualidade do que cair na armadilha das tendências
9. Plante árvores
A cada ano, aproximadamente 12 milhões de hectares de floresta são destruídos e esse desmatamento, unido à agricultura e outras conversões de terras, é responsável por cerca de 25% das emissões globais de gases de efeito estufa. Podemos reverter essa tendência por meio da plantação de árvores, como um trabalho individual ou coletivo. Confira este guia do PNUMA para saber o que mais você pode fazer para ser parte da Década das Nações Unidas da Restauração de Ecossistemas.
Empresas podem investir em créditos de carbono. É para isso que eles servem.
10. Faça investimentos favoráveis ao planeta
Indivíduos também podem estimular a mudança por meio do direcionamento de suas economias e investimentos para instituições financeiras cujos recursos não apoiem indústrias que promovem a poluição por carbono. Isso envia uma mensagem evidente ao mercado, e muitas dessas instituições já oferecem formas de investimento mais éticas, permitindo o uso do dinheiro para encorajar causas que você apoia e evitar aquelas que não concorda. Você pode também verificar as políticas bancárias da sua instituição financeira e descobrir a classificação dela por meio de pesquisas independentes.
Basta ficar de olho na políticas de ESG das empresas com quem você se relaciona. Quem respeita as questões ambientais, sociais e de governança é mais respeitado, portanto, tem maior valor de mercado.