Guia orienta população a se preparar para “emergências” por risco de guerra com a Rússia. Destaque para a resistência à desinformação e defesa da democracia

Em um cenário global cada vez mais imprevisível, a Suécia voltou a publicar seu guia de defesa civil, o primeiro desde o fim da Guerra Fria. A intenção é preparar seus cidadãos para crises e emergências por causa do risco de conflito com a Rússia. Intitulado If Crisis or War Comes (Se a Crise ou a Guerra Chegar), o material é distribuído pela Agência de Contingências Civis da Suécia (MSB) e não se limita a sugerir como sobreviver a desastres naturais ou ataques terroristas. A grande novidade é a ênfase na necessidade de resistência à desinformação, que, segundo as autoridades suecas, pode ser tão prejudicial quanto um ataque militar em larga escala.

Guerra invisível

Embora o guia não cite diretamente adversários específicos, a alusão à farta disseminação de informações falsas como forma de ataque às instituições reflete preocupações com a crescente onda de desinformação de fontes externas, especialmente da Rússia. Desde o aumento das tensões geopolíticas, a Suécia tem se preocupado com o emprego de fake news como arma de guerra. Por isso, o manual dedica duas páginas inteiras a alertar os cidadãos sobre o perigo das informações manipuladas.

A abordagem sueca é clara: em tempos de crise se torna crucial resistir não só aos ataques físicos, mas também às mentiras que se espalham rapidamente nas redes sociais. “O melhor caminho para combater a propaganda e a desinformação é fazer sua lição de casa”, diz o manual, sugerindo que os cidadãos usem múltiplas fontes confiáveis para confirmar a veracidade das informações que recebem.

Crises de todas as naturezas

Com 20 páginas, o guia oferece uma lista de itens essenciais para a preparação doméstica. Além de alimentos, água e meios para manter o calor – especialmente importante no clima rigoroso da Suécia –, o documento recomenda ter consigo medicamentos, produtos de higiene pessoal e combustível para o automóvel. A ênfase na preparação para o inverno severo, com temperaturas que podem permanecer facilmente a 30 graus Celsius abaixo de zero, são um risco que não pode ser ignorado.

A comunicação também ganha destaque. É sugerido que cada residência tenha um rádio com bateria recarregáveis ou uma manivela para recarga para acompanhar as instruções das autoridades durante emergências. As estações P4 da Sveriges Radio e Sveriges Television são identificadas como fontes confiáveis de informação.

A Defesa Total

O conceito de “Defesa Total” da Suécia, uma estratégia que envolve tanto forças armadas quanto civis, é central no guia. Com serviço militar obrigatório, a Suécia foi formalmente neutra durante a Guerra Fria, mas desenvolveu uma indústria bélica independente e eficiente para as necessidades locais. O país com um aparato de defesa que inclui reservas civis que podem ser convocadas rapidamente em situações de emergência. O governo sueco reconhece a crescente necessidade de reforçar a preparação da população para possíveis cenários de guerra, um reflexo da crescente instabilidade global.

Um alerta frente ao cenário atual

Embora o manual não mencione diretamente a Rússia, as implicações são claras. A crescente tensão, incluindo as ameaças contra a Suécia relacionadas à adesão ao bloco militar Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), leva o país a revisar suas estratégias de defesa. Além disso, ataques cibernéticos e campanhas de desinformação atribuídas ao Kremlin são apontadas como uma das principais ameaças à segurança sueca.

A país não está isolada nesta preocupação. EUA e países da União Europeia (UE) e Otan lidam com ofensivas de fake news. Longe de ser uma exceção, a Suécia abertamente está se preparando para enfrentar essas ameaças com uma série de medidas, como a criação de uma “linha direta do Facebook” para denunciar páginas falsas que se passam por fontes oficiais.

Preparação em tempos de incerteza

Diante do risco das ameaças híbridas, onde ataques militares se mesclam com ofensivas de desinformação, a Suécia diz que reafirma a importância de uma população bem informada e preparada. O manual deixa claro que para enfrentar crises é necessário não apenas garantir a sobrevivência física, mas manter a integridade da circulação das informações de interesse público. A recomendação é clara: duvide, investigue e prefira fontes confiáveis.