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ANÁLISE-Eliminação da Argentina não surpreende após trajetória conturbada

Por Marcelo Androetto

KAZAN, Rússia, 30 jun (Reuters) – A seleção argentina foi eliminada da Copa do Mundo da Rússia neste sábado com uma derrota para a França nas oitavas de final, um resultado que não surpreende pelos problemas enfrentados desde as eliminatórias, e que certamente marcará o fim de uma geração que joga junta há uma década, sem jamais ter sido campeã.

A eliminação é resultado de um processo de ruína em que os sinais negativos já estavam claros desde muito antes de a bola rolar na partida em Kazan.

A Argentina terá de esperar ao menos mais quatro anos para erguer sua terceira Copa do Mundo –já se passaram 32 anos desde o título de 1986 no México– e Lionel Messi provavelmente terá de se conformar com a ideia de que jamais será campeão mundial vestindo a camisa da seleção argentina.

A eliminação argentina tem uma série de razões e responsáveis: alguns jogadores históricos de uma geração desgastada, uma comissão técnica fraca –que nunca encontrou sua formação titular– e dirigentes que foram somando erros e decisões difíceis de serem explicadas nos últimos anos.

A “albiceleste” esteve a sete minutos de ser eliminada do Mundial da Rússia ainda na primeira fase, sem ganhar nenhum jogo. Foi salva dessa catástrofe por um gol de MarcosRojo contra a Nigéria.

Conseguir a vaga, como segunda colocada do Grupo D, para enfrentar a França escondeu a campanha ruim da equipe do técnico Jorge Sampaoli, mas não muda o conceito: a Argentina fez uma Copa do Mundo decepcionante.

O processo vinha mal há tempos. Desde a Copa do Mundo de 2006 na Alemanha a Argentina já teve sete treinadores diferentes e ideias de jogo divergentes e até mesmo antagônicas.

Apesar de ter chegado à Rússia como atual vice-campeã mundial, foram muitas as frustrações acumuladas desde a derrota para a Alemanha na final de 2014 no Maracanã: também perdeu para o Chile nas finais das Copas Américas jogadas nos anos seguintes.

ELIMINATÓRIAS SOFRIDAS

A Argentina se classificou de forma sofrida para a Rússia. Foi apenas a quarta colocada das eliminatórias sul-americanas, assegurando a vaga apenas na última rodada. No total, foram três treinadores no período de classificação: Gerardo Martino, Edgardo Bauza e Sampaoli.

Para piorar, Messi só apareceu no Mundial em conta-gotas: errou um pênalti contra a Islândia, desapareceu em campo contra a Croácia, ressurgiu com um golaço na vitória sobre a Nigéria, e voltou a decepcionar contra a França.

Com quatro Mundiais disputados, o camisa 10 só foi o jogador decisivo que sua equipe necessitava em alguns poucos momentos, e também não teve ao seu lado uma equipe que tirasse melhor proveito dele, como ocorre no Barcelona.

Messi, que na Copa do Catar em 2022 terá 35 anos, continua sem conquistar nenhum grande título com a camisa da Argentina.

O técnico Sampaoli, por sua vez, se perdeu a partir das constantes mudanças de sistema e de nomes em seu pouco mais de um ano de trabalho.

Durante o Mundial, a imprensa argentina falou sobre um suposto complô de jogadores para que o técnico fosse demitido, algo que ambas as partes negaram.

Sua lista de convocados para a Copa também deixou mais perguntas do que respostas. Sampaoli descartou jogadores de grande presença na seleção como Lautaro Martínez e Ricardo Centurión, ou de comprovado sucesso na Europa, como Mauro Icardi.

E só devido a contusões de outros nomes decidiu levar o goleiro Franco Armani e o meio-campista Enzo Pérez, que acabaram se tornado titulares na Rússia.

Os dirigentes também não estavam à altura. Depois da

morte de Julio Grondona, que presidiu a Associação de Futebol Argentino (AFA) com mão de ferro por 35 anos, a disputa pela sucessão resultou em um eleição escandalosa que acabou com 38 votos para cada candidato, quando os eleitores eram 75.

Depois que a AFA sofreu uma intervenção, finalmente uma nova votação colocou Claudio “Chiqui” Tapia na primeira posição, mas ele foi responsável por erros que afetaram a preparação da seleção para a Rússia, como programar um amistoso em Jerusalém contra Israel que foi suspenso alguns dias antes de ocorrer por razões de segurança.

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