O nome de um seriado televisivo produzido pela rede americana NBC em 2012, “O Novo Normal”, ganhou as conversas e “lives” do mundo inteiro. Desde que a pandemia do coronavírus começou, só se fala nisso – de que entramos num cenário totalmente diferente do anterior, no qual temos e teremos hábitos inéditos, que vão compor o que se chama de o “novo normal”.
Estamos usando essa expressão para praticamente tudo o que é diferente daquilo que experimentamos no passado – sendo que por “passado” entenda-se um cotidiano vivido dois meses atrás. A vida mudou e vai continuar mudando por muito tempo, até porque o conhecimento em torno do novo vírus ainda é escasso. Conforme as pesquisas avançarem teremos mais condições de saber como aumentar nossa segurança sanitária, eliminando procedimentos que podem ser considerados excessos e adotando outras medidas hoje desconhecidas.
Nesse “novo normal”, há hábitos que fazem parte de uma transição. Já outros farão parte de um legado que nos acompanhará por anos ou por décadas. Dentro desse cenário, o que é passageiro e o que é definitivo?
Haverá um divisor de águas entre hábitos transitórios e definitivos: a vacina contra o coronavírus ou uma droga profilática e potente. Essa descoberta não será divulgada em poucos dias. Mas os especialistas acreditam que haverá uma solução médica para a pandemia até o início do ano que vem.
Isso fará com que algumas das mudanças adotadas em nossas vidas sejam revogadas. Quais seriam essas mudanças?
Quando houver a descoberta de uma vacina, por exemplo, o uso de máscaras deixará de ser obrigatório. Uma minoria de pessoas vai continuar usando o acessório em ambientes fechados, uma vez que sempre teremos os traumatizados com a experiência da contaminação em massa. Mas a maioria dos brasileiros vai esquecer suas máscaras numa gaveta qualquer assim que a pandemia seja combatida por uma solução definitiva.
Ainda sobre esse momento transitório: o contato físico será comedido. Abraços efusivos, por enquanto, serão banidos. Mas retornarão com o tempo. Visitas aos mais velhos também passarão por novas regras. Algumas famílias ficarão segregadas. Outras, entretanto, vão se reunir de qualquer jeito – e poderão ser criticadas por isso. Hoje (10), no dia das Mães, teremos uma amostra de como cada unidade familiar vai se comportar daqui para frente.
O que acontecerá com os espaços públicos? Num momento inicial, deverá haver uma retomada tímida de restaurantes e bares. Mas muitas empresas já declararam que vão reabrir seus escritórios aos poucos, espaçando as estações de trabalho e mudando o ambiente corporativo. Esse rearranjo continuará com a chegada de uma vacina? Talvez não.
Mas haverá uma transformação nos escritórios. Em primeiro lugar porque muitas empresas vão adotar definitivamente o trabalho à distância, especialmente para o desenvolvimento de softwares e programação de sistemas. Num recente debate virtual de MONEY REPORT, por exemplo, a diretora do Pay Pal, Paula Paschoal, revelou que seus programadores estão ganhando muito em produtividade com o isolamento social, pois não perdem tempo com o trânsito nem são convocados para reuniões presenciais que travam a agenda. Com isso, a chance de esses profissionais continuarem em regime de Home Office após o fim da pandemia é enorme.
Ainda sobre os escritórios. Com menos estações de trabalho, é possível que existam três movimentos de evolução. O primeiro é a redução do espaço hoje utilizado. O segundo seria uma evolução no conceito de convivência dos colaboradores. Desde o surgimento de muitas fintechs, os escritórios ofereciam serviços para que os funcionários se sentissem em casa, com comida gratuita, academia e amenidades. Isso vai continuar depois do coronavírus? Talvez. Mas haverá mudanças na fórmula original. O que vai mudar, no entanto, ainda não se sabe. Por fim, o escritório talvez não receba tantos visitantes como ocorria até bem pouco tempo atrás. A proliferação das videoconferências se provou algo que veio para ficar, economizando tempo e combustível. Assim, é de se esperar um legado enorme na mudança do conceito nos ambientes dedicados ao trabalho – algo que virá para ficar, mas que ainda é cedo para prever qual serão os procedimentos que nos aguardam.
Como numa guerra, vamos perder ainda mais vidas para o coronavírus e teremos de lidar com pessoas afetadas pelo estresse pós-traumático. Isso vai causar algum tipo de cuidado para os afetados por esta síndrome – e forçar uma cultura de empatia no convívio entre amigos e familiares, sem contar fortes impactos na gestão de talentos no mundo empresarial.
A empatia terá de ser exercida não apenas em relação aos traumatizados, mas também junto àqueles que vão trabalhar em casa. Como todos perceberam, labutar nas próprias residências não é um passeio no parque, especialmente para quem família grande. Filhos podem criar demandas durante o horário comercial e isso, em alguns casos, traz dificuldades para aqueles que estão em Home Office. Especialmente em ambientes pequenos.
É de se esperar, ainda, um embate entre chefias que vão exercer atos empáticos e aquelas que manterão altos os níveis de exigência e intolerância.
Muitas pessoas voltarão ao trabalho do mesmo jeito que eram antes – com sangue nos olhos. Além disso, incomodados com a pasmaceira que enfrentaremos numa economia em recessão. É de se esperar, assim, que esse tipo de profissional vá esticar a corda ao máximo no comando de suas equipes. Haverá conflito com os comandados e com os colegas que terão uma atitude de maior tolerância com seus subordinados.
Quem vencerá? Vários consultores de Recursos Humanos afirmam categoricamente que as gerações mais jovens precisarão de maior compreensão para enfrentar as dificuldades de um cenário pós-pandemia. Tratá-los com rispidez e intolerância é o primeiro passo para perder talentos e talvez faturamento.
Nesse “novo normal”, todos estarão machucados por um tempo excessivo em isolamento e pela falta de resultados positivos, com as cobranças inerentes a qualquer fase recessiva. Quem conseguirá manter o equilíbrio emocional no trato com suas equipes? O andar de cima terá cabeça fria para absorver demandas emocionais de seus funcionários, que raramente apareciam em um ambiente corporativo? Vão ter sensibilidade para lidar com problemas que seriam classificados como banais até dois meses atrás?
Ainda não sabemos. Mas paciência e tolerância serão os novos talentos a serem perseguidos daqui para frente. Aqueles que conseguirem cobrar metas com jeito e saber motivar seus funcionários deverão ganhar destaque nas hierarquias corporativas. O chicote, em tempos de pós-guerra, nunca funcionou muito bem. E o fim da pandemia se assemelhará em muito ao pós-guerra, com grandes dificuldades de adaptação ao retorno das atividades habituais. Quem se comportar como no passado, nessa situação, pode quebrar a cara. Por isso, é melhor aproveitar o isolamento para exercitar a paciência. Ao contrário do que possa parecer, agora não é o momento que se precisará mais dela. A paciência será primordial depois que reabrirmos as portas dos negócios e ganharmos novamente as ruas. Pois será nesta hora que os problemas vão se multiplicar e os grandes desafios vão surgir. Sem sangue frio, não conseguiremos resolver nada. Mais uma vez, a tolerância será a ferramenta mais importante para se obter sucesso na vida profissional e na particular.