Após seis semanas de teste, os resultados do projeto superaram as expectativas
Uma inovação promissora no campo da bioengenharia está proporcionando a pessoas amputadas a possibilidade de recuperar a mobilidade de suas mãos. Pela primeira vez, cientistas desenvolveram uma prótese controlada magneticamente, capaz de reproduzir movimentos a partir dos pensamentos do usuário, sem a necessidade de fios ou conexões elétricas. O dispositivo também é capaz de regular a força aplicada, permitindo o manuseio de objetos frágeis.
O projeto, liderado pelo pesquisador Christian Cipriani do Instituto de BioRobótica da Escola Sant’Anna, em Pisa, Itália, teve seus primeiros testes com o paciente Daniel, de 34 anos, que perdeu a mão esquerda em 2022. Após seis semanas utilizando a prótese, os resultados superaram as expectativas e foram publicados na revista Science Robotics.
Inovação no controle motor
Segundo Cipriani, o braço humano possui 20 músculos que controlam os movimentos da mão, e mesmo após a amputação, muitos pacientes relatam a sensação de que os músculos ainda respondem aos comandos cerebrais. A partir desse princípio, a equipe de pesquisadores desenvolveu um sistema chamado “controle miocinético”, que traduz os sinais residuais dos músculos do antebraço em movimentos da mão robótica.
Em abril de 2023, seis pequenos ímãs foram implantados no braço de Daniel, cuidadosamente alinhados dentro dos músculos para garantir que os campos magnéticos estivessem na direção correta. A mão robótica foi acoplada a um soquete de fibra de carbono, onde todos os sistemas elétricos foram instalados.
“Um dos maiores desafios foi localizar os músculos residuais na área da amputação”, explicou Lorenzo Andreani, responsável pelo procedimento. “Usamos imagens de ressonância magnética e eletromiografia para mapear esses músculos, mas a cicatrização e a fibrose dos tecidos exigiram ajustes durante a cirurgia”.
Desempenho surpreendente
Os resultados foram notáveis. Daniel conseguiu realizar tarefas que exigem precisão, como abrir um pote, fechar um zíper e cortar com uma faca, além de adaptar a força de seus dedos para manipular objetos delicados. O sistema também proporcionou uma sensação única para o paciente. “Este sistema me permitiu recuperar sensações e emoções perdidas: parece que estou movendo minha própria mão”, disse Daniel.
Para Marta Gherardini, principal autora do estudo, os resultados foram extremamente encorajadores. “Ver o nosso trabalho aplicado e trazer melhorias reais para a vida das pessoas é gratificante. Isso nos dá uma noção clara de que podemos avançar ainda mais nesse campo.”
Vídeo mostra a implantação cirúrgica da prótese e a utilização pelo paciente Daniel: