Não se trata exatamente de um conceito novo, eu sei. A primeira vez em que se falou de Social Shopping foi em 2005. Mas o conceito não chegou a pegar para valer aqui no Brasil, ao contrário do que acontece na China. Lá, aplicativos como o WeChat podem oferecer, além da interação entre pessoas, absolutamente tudo que existe no mundo do comércio e das transações financeiras. Em 2021, espera-se que essa modalidade movimente US$ 361 bilhões no mercado chinês, segundo dados da Insider Intelligence. Nos Estados Unidos, de acordo com o mesmo levantamento, o volume transacionado em comércio social é dez vezes menor: US$ 36 bilhões.
Embora engatinhando, o Brasil está entrando, desde a pandemia, neste universo: silenciosamente, várias empresas estão utilizando as redes sociais para vender seus produtos. Facebook e Instagram já embarcaram nessa tendência há algum tempo. Recentemente, no entanto, o WhatsApp vem sendo muito utilizado para realizar transações. O último empurrão para que essa tendência se consolidasse de vez foi o Pix, uma forma rápida e prática de se pagar pelas aquisições via rede.
O WhatsApp, atualmente, virou uma espécie de anjo da guarda do atendimento ao consumidor. Pode-se conversar com o Rappi sobre um produto que precisa ser substituído na compra de supermercado ou com corretores de imóveis, passando por docerias e lojas de roupas.
Realizar transações pelos grupos de rede social não é exatamente o conceito original de social shopping ou de social commerce. Essa definição original do fenômeno previa muito mais o engajamento de consumidores nas redes para discutir produtos e influenciar em uma determinada compra.
Mas já passamos dessa fase. Há até sites especializados em classificar produtos e serviços de acordo com a avaliação de seus clientes. Neste cenário, há embaixadores e detratores das marcas. Mas o que se vê hoje é a adoção de uma conta de WhastApp para vender, enquanto congêneres do WeChat (ou o próprio) não chegam no Brasil.
Por enquanto, o WhatsApp funciona muito bem – inclusive com fornecedores nos Estados Unidos, um país no qual há poucos usuários desta plataforma.
Neste momento, vê-se mais empresas pequenas utilizando este expediente. Mas o cenário pandêmico acabou por reformular o modelo de negócios dos restaurantes. Em um primeiro momento, as casas passaram a utilizar os serviços do Rappi e similares, mas hoje algumas estão brigando por conta das taxas de entrega e a comissão cobrada pelos aplicativos de delivery.
Uma das saídas para os restauranteurs foi apelar para serviços diretos através de conversas pelo smartphone. Neste caso, não há comissão e os pagamentos dos entregadores são fixos. Aparentemente, todos ganham – menos os aplicativos.
A criatividade do brasileiro fez surgir o cheque pré-datado e o parcelamento nos cartões de crédito, soluções tão brasileiras como a jabuticaba, e que deram impulso, por anos, ao comercial nacional. Percebe-se que o WhatsApp, associado às facilidades geradas pelo Pix, pode ir pelo mesmo caminho. A vantagem, no caso, é consultar grupos de amigos, rapidamente, sobre determinados produtos.
Já passei por essa experiência. Uma amiga perguntou aos membros do grupo o quais eram as opiniões sobre uma determinada raça de cachorro. A conversa flutuou um pouco, versando sobre a adoção dos animais e a eventual crueldade imposta pela exibição de filhotes nas vitrines de lojas. Mas o bate-papo terminou com a indicação de três vendedores de animais – um dos quais foi escolhido e acionado. Tudo pelo WhastApp.
Esse método pode parecer um pouco estranho para os mais velhos. Mas vemos que a tal aceleração digital está chegando a todos os cantos da economia. Se democratizarmos o acesso do e-commerce dessa forma tão simples e aprimorarmos a logística, teremos um mundo novo nas mãos, que pode modificar totalmente o varejo como conhecemos hoje.