Edson Arantes do Nascimento morreu aos 82 anos para eternizar de vez o atleta Pelé
Ninguém engana a morte. Só é possível driblar a vida. Esse foi o último lance de Pelé, que faleceu nesta quinta-feira (29), em São Paulo, aos 82 anos, por falência múltipla de órgãos em decorrência de um câncer de cólon. Em sua despedida, Edson Arantes do Nascimento calou os fracos de memória, que desde a decisão da última Copa do Mundo, cogitam que o argentino Lionel Messi (13 gols em copas) possa ter jogado melhor que o brasileiro – no máximo das polêmicas inúteis do futebol.
Como em um drible sem bola, sua morte enterrou as dúvidas antes que seu corpo começasse a ser velado. A profusão de imagens ao lado de diferentes personalidades mundiais – presidentes americanos, a rainha Elizabeth II, líderes mundiais, alguns ditadores, artistas e anônimos aos milhares – provam que ele foi o pioneiro e mais longevo ídolo esportivo – talvez com seu contemporâneo Muhammad Ali (1942-2016) no encalço.
Para os mais jovens, basta prestar atenção no noticiário e nos documentários vindouros. Pelé foi gênio, como Maradona, Di Stéfano, Messi, Cruyff, Eusébio, Cristiano Ronaldo, Romário e Ronaldo, para falar apenas de atacantes (Beckenbauer, Platini, Zidane, Didi e Ronaldinho eram meias), porém sua presença foi maior, jogando quatro copas e vencendo três (uma delas graças a Garricha). Ainda na pré-história da preparação física, era espetacular na velocidade, criatividade, habilidade, força, impulsão e resistência. Assim, colocou o Brasil no mapa da bola a partir do Santos, o único time que jogou no Brasil, de 1956 a 1974.
Maior do século XX
Prestes a ser superado em gols na Seleção por Neymar, que tem 76 tentos em 123 jogos, contra 77 em 95 disputas, essa é só uma controvérsia vazia. Há episódios comprovando. Um dia foi assaltado. Quando os meliantes perceberam quem era, pediram desculpas e foram embora. Na Guerra da Biafra, em fevereiro de 1969, houve uma trégua para o Brasil jogar. Seus passaportes têm carimbos de 77 países. Sem jamais ter disputado olimpíadas, foi eleito o atleta do século XX.
Incensado por Nelson Rodrigues, Carlos Drummond de Andrade, Luis Fernando Verissimo, Rachel de Queiroz, Vinicius de Moraes, Fernando Sabino, ganhou do Nobel de Literatura, Mario Vargas Llosa: “Recebemos dele oferendas de rara beleza: momentos desses tão dignos de imortalidade que a gente pode acreditar que a imortalidade existe”. Di Stéfano definiu: “O melhor jogador de todos os tempos? Pelé. Lionel Messi e Cristiano Ronaldo são grandes jogadores com qualidades específicas, mas Pelé foi melhor”. Nelson Rodrigues foi dramático: “Quando ele apanha a bola e dribla um adversário, é como quem escorraça um plebeu ignaro e piolhento”. O diretor de cinema Pier Paolo Pasolini, lírico: “No momento que a bola chega aos pés de Pelé, o futebol se transforma em poesia”. Para quem não entendeu, Drummond: “O extraordinário, não é fazer mil gols, como Pelé. É fazer um gol como Pelé”. É por isso que, mesmo criticado na vida pessoal – como a filha falecida que jamais reconheceu -, seu legado supera de longe as falhas fora de campo. Sua morte cala quem jamais gostou de bola.
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O velório vai ocorrer a partir de segunda-feira (2), no Estádio do Santos, em uma tenda erguida no centro do gramado da Vila Belmiro – foi um pedido dos filhos. O enterro será na terça-feira (3), no Memorial Necrópole Ecumênica, em Santos. Será uma cerimônia familiar. Do cemitério é possível avistar o estádio.
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