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Americanas: será que o problema é maior do que parece?

Neste final de semana, o mercado financeiro vive a ressaca do escândalo envolvendo a Lojas Americanas. A notícia que a empresa tinha R$ 20 bilhões em dívidas não contabilizadas no balanço provocou uma queda recorde da ação das empresas nas bolsas de valores, chegando a uma baixa de 77 %. A tal ressaca, no entanto, tem tudo para se transformar em uma enxaqueca das bravas, pois se criou uma batalha jurídica entre a empresa, de um lado, e, de outro, fornecedores, bancos, acionistas minoritários e debenturistas.

Recapitulando: a companhia fez as chamadas operações de risco sacado, nas quais instituições financeiras pagam as mercadorias compradas pelos varejistas aos fornecedores (e ficam credores das redes de varejo). Tais operações, no entanto, não estão devidamente contabilizadas nas demonstrações da Americanas. Para tornar o cenário mais apimentado, analistas de mercado estimam que o total da dívida da empresa deve superar os R$ 40 bilhões.

Uma decisão judicial divulgada na sexta-feira suspendeu por 30 dias qualquer cobrança antecipada de pagamento da dívida por parte das Americanas – e a expectativa é a de que a empresa entre, logo ao final deste prazo, com um pedido de recuperação judicial.

No início, achava-se que o episódio seria uma fraude contábil orquestrada por ex-executivos da companhia. Afinal, a política de bônus do 3G sempre pressionou os funcionários a encontrar soluções heterodoxas para aumentar o caixa das controladas. Além disso, os antigos diretores da Americanas venderam cerca de R$ 212 milhões em ações da companhia no segundo semestre de 2022.

Hoje, porém, há a desconfiança de que tudo isso possa ser parte de um esquema ainda maior, engendrado para dar um calote gigantesco no sistema financeiro. Não seria a primeira vez que o Grupo 3G utilizaria artifícios de contabilidade para maquiar os balanços das companhias do grupo.

Um exemplo disso é o que ocorreu na ALL, um grande nome da logística que foi vendido para a Cosan. Havia uma prática da empresa conhecida no mercado: a partir de agosto, não se pagava nada aos fornecedores, que, sabendo disso, elevavam seus preços para compensar o atraso. Despesas operacionais chegaram a ser declaradas como investimentos e bolas de futebol, por exemplo, foram parar no ativo fixo da companhia. A ideia, com essa prática heterodoxa, era reduzir artificalmente os custos para anabolizar resultados (e elevar o valor da empresa). Só que, como no caso da Americanas, a verdade acabou vindo à tona: uma vez vendida a empresa, o novo dono precisou fazer um impairment (redução contábil dos ativos) de R$ 1,5 bilhão para compensar a contabilidade criativa do antigo controlador.

Em um evento, Jorge Paulo Lemann – o maior acionista do 3G – disse que o seu sucesso poderia ser explicado por três fatores: contratar as pessoas certas; fazer os ajustes sempre que houver necessidade; e ter sócios que pensem diferente de você. Talvez fosse o caso de Lemann adotar outro fator de sucesso em suas palestras: fazer de tudo para não pagar fornecedores e credores.

Não necessariamente nessa ordem.

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