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As mentiras contadas em Excel

Um meme fabuloso é compartilhado sem dó nem piedade nas redes sociais desde anteontem. Trata-se de apenas uma frase: “Mais mentiras são contadas em Excel do que em Powerpoint”. Esta frase começou a circular por conta do escândalo das Lojas Americanas, que apontou inconsistências contábeis no valor de R$ 20 bilhões. Como consequência, o CEO Sergio Rial, que tinha assumido o cargo em 2 de janeiro, renunciou à posição de comando na empresa. As ações da companhia caíram 77 % no pregão de ontem, perdendo mais de R$ 8 bilhões de valor.

Vinte bilhões de reais. Trata-se de uma soma extraordinária. A primeira pergunta que se faz é: como é que essas contas foram maquiadas? A segunda: como é que se consegue mexer em um balanço a partir de uma soma tão vultosa? Por fim, a terceira: como é que os auditores não perceberam nada (não houve ao menos nota explicativa)?

Essas questões serão respondidas ao longo dos próximos meses. Mas essa situação traz grande insegurança aos investidores. Afinal, essa maracutaia ocorreu em uma das maiores varejistas do mercado, controlada pelo triunvirato corporativo mais famoso do país: Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles.

Se houve inconsistências contábeis em uma empresa como a Americanas, já que o grupo 3G somente deveria contratar somente a fina flor dos fornecedores, o que dizer de empresas menores, que têm de trabalhar com colaboradores mais modestos?

A frase sobre as mentiras do Excel me faz lembrar de duas situações.

A primeira ocorreu no início dos anos 1990, quando estava na equipe que fez a primeira tentativa de colocar a Editora Abril no mapa da Internet. Para montarmos um business plan com as perspectivas de mercado, tivemos a ajuda preciosa de um consultor americano, Vincent Giuliano.

Vince já tinha ultrapassado a barreira dos sessenta anos de idade há muito e, baixinho, tinha uma semelhança física impressionante com o personagem Yoda, da série Guerra nas Estralas. Quando estávamos montando a previsão de faturamento e curva de usuários (naquele momento, os portais também ofereciam acesso discado aos usuários), chegamos à conclusão de que precisaríamos de um benchmark – e havia um dentro do grupo, a TVA. Em nossa cabeça, poderia haver alguma semelhança entre o mercado de internet e o de TV por assinatura.

Um executivo da consultoria contratada pela TVA foi convocado para nos apresentar um powerpoint que explicava o crescimento da TV. Os números apresentados no Excel, entretanto, me pareceram muito exagerados e sugeriam um crescimento agressivo demais.

Como o material era otimista demais e já possuía alguns anos, pedi para ver a previsão de assinantes para todo o mercado naquele ano. Era o dobro do que tínhamos no momento. Fiz essa observação e ouvi uma série de explicações sobre a diminuição de investimentos nas redes de cabo. Na saída da reunião, Vince, que não tinha acreditado nas previsões apresentadas, cochichou: “A planilha aceita qualquer coisa”.

A curva de crescimento de assinaturas na TV a cabo, como se sabe, foi bem mais lenta e a implementação deste negócio, hoje na mão de empresas telefônicas, quase quebrou a Abril e a Globo, que controlava a NET. Não foi um malabarismo contábil, como o da Americanas, mas uma decisão errada tomada a partir de um arquivo de Excel.

Em termos contábeis, porém, tivemos um caso recente no mercado. O IRB tinha um balanço com inconsistências significativas, que só foram de fato levadas a sério quando um novo CEO assumiu a operação: Antonio Cássio dos Santos. Suas providências foram simples. A primeira foi republicar as demonstrações financeiras com os números corretos. Logo após, providenciou duas chamadas de capital entre os principais controladores, totalizando cerca de R$ 6 bilhões (segundo estimativa de especialistas) e reergueu a empresa.

A diferença entre Americanas e IRB foi a de que Antonio Cássio ficou na companhia e a recuperou. Sergio Rial, por sua vez, preferiu renunciar e se colocar como uma espécie de assessor do Conselho. Entende-se as razões de Rial para a sua renúncia. Afinal, ele aceitou gerir uma Americanas que só existia no papel. Para essa nova empreitada, no entanto, seria preciso de um executivo que soubesse comandar uma virada difícil de jogo, tirando o máximo de uma equipe chocada com a realidade que se apresentou à sua frente.

Alguém como Antonio Cássio dos Santos. Ou o próprio.

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Comentários

Uma resposta

  1. O Sr Antonio Cássio dos Santos ao assumir a IRB demonstrou transparência ao mercado ao readequar as demonstrações contábeis, mas acima de tudo teve o compromisso e apoio dos controladores no aporte necessário a operação, fato este que, a tornou saudável financeiramente e operacionalmente.
    Apesar das explicações do CEO Sr. Sergio Rial quanto a renúncia, tem se uma duvida, se o mesmo teve apoio dos controladores para eventuais aportes ou se a decisão foi e/ou será adentrar na RJ.
    O equívoco contábil em não registrar adequadamente as despesas financeiras (juros bancários) na apuração do lucro da cia por vários exercícios tornou a Americanas uma das ações desejadas do mercado criando um falso cenário de resultados

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