O engenheiro paulistano Wilson Ferreira Júnior tem sido uma das vozes mais ativas na defesa da privatização da Eletrobras. O curioso é que poucas pessoas no Brasil conhecem tão bem a empresa quanto ele. Ferreira, afinal, é o presidente da estatal desde julho de 2016. Nesta entrevista, ele explica por que considera a privatização a única saída possível.
A Eletrobras deve ser privatizada?
Sim. Ela precisa ampliar a sua capacidade de investimento e isso só será possível por meio da privatização, que irá atrair novos acionistas, com mais recursos. Com a privatização, a Eletrobras será uma empresa mais ágil, eficiente e lucrativa.
O senhor poderia detalhar as dificuldades enfrentadas pela empresa?
A Eletrobras detém hoje 31% da geração e 47% da transmissão de energia elétrica no país. Apenas para manter essa participação, ela precisaria investir R$ 14 bilhões por ano, nos próximos dez anos. Mas a empresa não dispõe desses recursos.
O que mudará na empresa com a privatização?
Ela fica livre das amarras burocráticas de uma estatal, ganha agilidade e competitividade. Com capital privado e já beneficiada pelo processo de reestruturação em curso, a Eletrobras pode investir em novas tecnologias, sobretudo eólica e solar, que são o futuro da matriz energética brasileira.
Os críticos da privatização dizem que ela provocará o aumento de tarifas.
De modo algum. O Projeto de Lei estabelece que um terço dos recursos da desestatização será para abater a Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), um encargo importante que incide na conta de luz.
O modelo definido no Projeto de Lei da privatização não prevê que a União venda as suas ações. O senhor poderia explicar como isso será possível?
A União, hoje majoritária, não venderá nem uma ação, mas sua participação será diluída. Por exemplo, se a empresa vale R$ 30 bilhões e a União, BNDES, BNDESPar e fundos setoriais têm juntos 60%, pode-se dizer que eles possuem R$ 18 bilhões. Se a emissão for de R$ 12 bilhões em ações, a Eletrobras vai se transformar em uma empresa de R$ 42 bilhões. O governo manterá os mesmos R$ 18 bilhões e R$ 24 bilhões virão de novos investidores.
O senhor permanecerá à frente da empresa após a privatização?
Meu mandato foi estabelecido até abril de 2019 e vou trabalhar até o último dia na recuperação da companhia e no sucesso do plano de desestatização proposto pelo governo.