Luanna Toniolo, CEO da TROC, Manuela Bordasch, CEO da Steel the Look e Push, e Patrícia Lima, CEO da Simple Organic, trazem dicas sobre o momento certo de fundar e vender a sua companhia
O que uma advogada, uma internacionalista e uma publicitária têm em comum? No caso da Luanna Toniolo, advogada e CEO da TROC, Manuela Bordasch, internacionalista e CEO do Steel the Look e Push, e da Patrícia Lima, publicitária e CEO da Simple Organic – ambas largaram suas carreiras de formação para realizar um novo sonho: empreender. Ambas conseguiram vender seus negócios para grandes empresas. E ambas seguem como CEOs das marcas que criaram.
Fazer uma transição de carreira é mais comum nos dias de hoje, assim como o aumento de mulheres que decidiram empreender no Brasil. Segundo uma pesquisa do Sebrae, com base em dados do IBGE, em 2022 o país tinha mais de 10 milhões de mulheres que apostaram em seu próprio negócio.
Essa vontade de empreender chegou em momentos diferentes para essas três empresárias, assim como o momento de vender.
Para contar mais sobre os desafios de suas carreiras, Luanna Toniolo, Manuela Bordasch e Patrícia Lima compartilharam no palco da PUSH, durante o Gramado Summit, realizado na última quinta-feira, os desafios de mudar de carreira, quando enxergaram a oportunidade de criar uma empresa e o momento ideal para vendê-la.
A moda reciclável que encantou a Arezzo
A ideia de criar a TROC surgiu nos EUA, quando Toniolo, já formada em direito, deixou de fazer um mestrado na área jurídica para apostar em um curso de gestão estratégica na Universidade de Harvard.
“Eu já sentia vontade de fazer uma transição de carreira, sempre soube que eu era apaixonada por moda, e vi no meu mestrado internacional a oportunidade de fazer essa mudança.”
Na medida em que estudava o comportamento de consumo na pesquisa de mestrado, Toniolo viu que sustentabilidade na prática poderia ser um bom caminho. “Naquele momento vi que era possível ser sustentável sem precisar mudar muita coisa no meu dia a dia. E foi aí que juntei a minha vontade de fazer algo com a moda e criei uma plataforma de compra e venda de roupas usadas, a qual existe há sete anos.”
Em 2020, ano que já era desafiador por causa da pandemia, Toniolo recebe uma proposta do grupo Arezzo. “Já tínhamos recebido rodadas de fundo de investimento, mas não de aquisição”, diz a CEO que acredita que além do segmento, o que chamou a atenção da Arezzo foi o propósito definido da empresa.
“No meu caso, eu não tinha feito a TROC para vender. Tanto que no dia que recebi a proposta achei uma ofensa, porque era como se eu estivesse vendendo o meu filho”, diz a CEO da TROC.
Apesar do sentimento, Toniolo percebeu que a oportunidade de negócio poderia levar a sua marcar para outro patamar no mercado. “O que me fez vender foi entender que eu alcançaria um espaço muito maior, que a marca iria muito mais longe e de forma mais rápida do que com o meu dinheiro”, diz. “E o outro lado bom de vender um negócio é que o empreendedor acaba tendo um pouco mais de respiro, afinal divide as responsabilidades e ideias com outras cabeças.”
Entre as expectativas da CEO da TROC está um projeto diferenciado em parceria com outros brechós.
“Surgimos 100% do digital, depois criamos algumas lojas físicas em São Paulo e Curitiba, e agora temos um projeto diferenciado de expandir a nossa marca. Estamos selecionando alguns brechós que tem alinhamento de cultura para ter um espaço interno para a TROC”, diz. “Para as pessoas que perguntam se não terá TROC em Campinas ou Rio, agora vamos falar que sim, a partir do final do semestre. Gosto muito de falar da união dos brechós, e isso vai acontecer em breve na prática.”
A venda da TROC aconteceu 75% em 2020 e a CEO teve um prazo de 3 anos para vender os restos das ações para o grupo. A venda parece que foi um bom negócio. A companhia vem crescendo ano após ano, segundo a CEO, que afirma que de 2022 para 2023 o crescimento foi de 60%, porcentagem que deve ser também atingida este ano, apesar do desafio logístico.
“A logística é muito cara. Recebemos peças do Brasil inteiro, mas estamos focando muito no público Sul e Sudeste, apesar de vender muito para o Nordeste também. Queremos expandir mais em peças de luxo, e não apenas peças premium, que são peças mais em conta.”
A formação em direito ajudou Toniolo em sua função como CEO. “Seja com contratos que diariamente eu tenho que ver e eu como CEO consigo ter segurança no que eu estou fazendo”, diz a CEO que confessa que antes de criar a TROC não usava roupas de brechó por não ser algo tão cultural como nos EUA.
“O mercado de brechó ainda é incipiente no Brasil, sabemos que temos um desafio grande pela frente. Enquanto nos EUA é um mercado de 80 bi, aqui no Brasil ainda está se desenvolvendo, e o fato da Arezzo adquirir a TROC há 3 anos isso já faz um movimento acelerado, mas a cultura ainda não chegou na massa e esse é o maior desafio da TROC”, diz a CEO.
A aposta da Magalu em um negócio que vai além do varejo
Formada em Relações Internacionais com ênfase em marketing e negócios pela Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), Manuela Bordasch decidiu empreender por curiosidade, porque sentiu falta no mercado de blogs sobre moda, de onde encontrar alguns looks. Foi assim que em 2012, durante seu trabalho de conclusão de curso de graduação, apostou no site Steel the Look, em que os usuários eram direcionados a locais onde poderiam encontrar a roupa que queriam. “Vi um gap no mercado de conectar marcas com os clientes e vimos que poderia ser um negócio rentável no digital”.
Além do STL, a executiva também fundou em 2018 o PUSH, uma frente de compartilhamento de experiências, normalmente realizado em eventos, onde temas relacionados à carreira e empreendedorismo são debatidos como propósito. “A ideia de criar o PUSH surgiu a partir de uma demanda de nossas leitoras, que demonstravam querer saber mais sobre empreendedorismo, dicas sobre carreira e oportunidades dentro deste universo.”
A formação de RI ajuda Bordasch até hoje como CEO também, principalmente quando o recorte é diplomacia e a questão cultural. “Como CEO de uma empresa de moda e lifestyle, aprendi muitos aspectos de diversas culturas e como se adaptar a elas.”
Essa expertise da democratização do conteúdo chamou a atenção da Magalu, segundo Bordasch, que comprou a companhia em 2021. “O propósito do Magalu, que é dar acesso a muitos o que é acesso a poucos, bateu com o do Steel the Look, que é democratizar a moda e a beleza. Acreditamos nesses propósitos para alcançar mais gente e levar a expertise para dentro do grupo,” afirma a CEO que viu nessa aquisição a oportunidade da marca ir mais longe.
Entre as expectativas para o próximo ano, além de apostar em mais eventos como o Gramado Summit, a expectativa de Bordasch é sobre novos projetos. “Vamos ter o lançamento do nosso podcast ‘The Look’, que é o olhar por dentro da indústria da moda”, diz. “Queremos mostrar para a audiência toda a potência da moda brasileira. Vamos trazer muitos nomes com autoridade na indústria, como Maria Prata, Daniela Falcão, Carol Ribeiro e Dudu Bertolini.”
Na contramão ao conteúdo que está cada vez mais rápido, a CEO afirma que quer aprofundar no conteúdo, principalmente relacionados sobre finanças. “Temos visto cada vez mais a importância da independência financeira feminina. Mulheres estão aprisionadas em muitos relacionamentos e até em empregos, porque não se sentem seguras para dar o próximo passo”, diz. “Conversamos muito com as amigas sobre saúde, filhos, beleza, mas pouco ainda sobre dinheiro, sobre como compraram um apartamento ou abriram uma empresa. Precisamos quebrar esse tabu, precisamos falar maus sobre a liberdade financeira”, afirma a CEO que reforça que a meta de faturamento da STL e Push esse ano é quadriplicar.
O produto que nasceu nos EUA e ganhou espaço na Hypera Pharma
“A Simple Organic nasceu de uma empresa de publicidade, por isso ela tem um peso de marketing tão grande”, diz Patrícia Lima que comenta que em uma viagem para os EUA viu o que hoje é o seu negócio. “Vi na Califórnia uma beleza natural de uma maneira que não existia no Brasil, com fórmulas limpas e minimalistas. Foi assim que criei em 2016 a Simple Organic.”
A companhia fundada por Lima conta com produtos veganos e orgânicos e chegou no Brasil quando não se falava muito de maquiagem natural e skincare.
O risco não era tanto ser a novidade, mas o quanto de caixa a companhia tinha para se sustentar. A publicitária confessa que chegou a pegar dinheiro de uma empresa que estava saudável, na época uma agência de comunicação, para investir na nova empresa. “Me chamaram de louca, mas segui com o investimento, porque eu acreditava que tinha mercado.”
E pelo jeito deu certo. Em 2020 a Hypera Pharma comprou a Simple Organic e o faturamento segue positivo, segundo Lima, que hoje é a CEO da companhia. “No ano passado crescemos 70%, o mercado de beleza cresce muito, além disso a Simple é um negócio nativo do digital e se une com sustentabilidade, por isso as expectativas continuam sendo de crescimento e devemos chegar a um aumento de 40% em 2024.
Para desapegar do negócio, Lima deixou passar 16 propostas de vendas, na 17ª foi que ela fechou a venda. “Quando a Simple nasce, ela nasce com o propósito de atender um desejo meu, mas os sonhos vão mudando com o tempo e é difícil você chegar aonde você quer sozinho”, diz. “A partir do momento que a primeira proposta surgiu, fui sonhando mais alto e esperei o momento certo para fazer a melhor escolha para o negócio. Eu preferi o comprador que tinha o mesmo propósito que o meu, e no caso da Hypera e da Simple era de democratizar a beleza natural para o maior número de pessoas.”
Como empreender ou vender uma empresa?
As executivas que passaram pela experiência de transição de carreira, criação e venda de uma empresa, deixam dicas para quem deseja empreender – e talvez vender o seu negócio.
Para quem quer empreender:
- Tenha uma reserva de emergência estruturada antes de empreender. “Momentos turbulentos virão e é preciso estar preparado para tudo”, diz Bordasch.
- Ninguém constrói nada sozinho, mas escolha muito bem quem estará do seu lado. “A pessoa que você escolheu para ser o seu sócio pode ser um precursor ou um detrator da sua jornada. Vemos muitos negócios acabar por sócios errados ou por time errado. A média das 5 pessoas que estarão com você todos os dias vai influenciar muito no que você vai ser”, afirma Toniolo.
- Comece! “Você vai aprendendo a empreender na jornada, você nunca estará pronto”, diz Lima.
Para quem quer vender:
- Preparação Emocional: Encarar a venda de uma empresa como uma etapa natural do negócio, não como uma perda pessoal. “Os sonhos vão mudando com o tempo e é difícil você chegar aonde você quer sozinho”, diz Lima.
- Avaliação de Oportunidades: Considerar propostas de aquisição como oportunidades para expandir e acelerar o crescimento da empresa. “O que me fez vender foi entender que a marca iria muito mais longe e de forma mais rápida dentro de uma grande empresa”.
- Escolha bem o Comprador: Selecionar investidores ou compradores que compartilhem dos valores e visão para o futuro da empresa. “É entender o momento da sua empresa e para quem faz sentido comprar, afinal, a ideia é que o negócio perdure”, diz Bordasch.
Luana, Manu e Patrícia seguem como CEOs das empresas que criaram e representam um número pequeno de mulheres que ocupam esse espaço. Segundo a 8ª edição “Women in the Boardroom”, pesquisa realizada pela Deloitte e divulgada neste mês, apenas 6% de CEOs são mulheres no mundo todo, mesmo com o avanço de 1% no ano anterior. Quando o recorte é Brasil – a representação de mulheres em cargos de CEO aumentou de 0,8% para 2,4% em 2023.
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Por Layane Serrano
Publicado originalmente em: https://encurtador.com.br/hpwy5