Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), repercute o tombo na cotação do petróleo que provocou pânico no mercado financeiro nesta segunda-feira (9). Um dos principais especialistas do país na área energética, Pires fala dos impactos para a economia brasileira. Confira:
Por que houve uma queda tão brusca na cotação do petróleo?
Desde o ano passado já tinha uma desaceleração da economia que refletia no preço do barril. O petróleo é o primeiro que reage em situações assim, tanto para cima quanto para baixo. Veio então o coronavírus que acelerou a queda da economia mundial e reduziu ainda mais a demanda, pressionando novamente os preços. A Opep (Organização dos Países Exportadores do Petróleo), liderada pela Arábia Saudita, contava com ajuda da Rússia para dar um corte na produção e segurar cotação. O que não ocorreu. Sem acordo, houve a decisão unilateral da Arábia no domingo (8) de aumentar a produção e reduzir o preço. Foi uma medida tomada mais com o fígado do que com o cérebro.
Por quê?
Todo mundo sai perdendo. O petróleo na faixa de US$ 35 é fantasioso. O preço em torno de US$ 45 reflete mais o cenário com os impactos do coronavírus. Acho que a cotação não retorna muito cedo para a faixa de US$ 60, como estava antes. Vai precisar do mundo retomar o crescimento econômico. Então acho que todo primeiro semestre vai ficar comprometido. Os países vão ter que rever os planos de crescimento e observar qual vai ser o patamar de preço que vai ficar.
Quais são os impactos específicos para o Brasil?
Há um efeito generalizado. Hoje já vimos que as ações da Petrobras derreteram. A balança comercial vai cair. O preço da gasolina menor nas bombas diminui a arrecadação do ICMS e prejudica a receita dos estados. A arrecadação com royalties também fica comprometida. Prejudica até os biocombustíveis, que ficam menos vantajosos. Não dá para competir com o petróleo a US$ 30.
Por que variações bruscas dos preços do petróleo geram ondas de temor com a observada hoje?
Porque o petróleo é principal fonte de energia do mundo. Sem petróleo não há produção. O crash de hoje serviu para reforçar que o combustível fóssil continua sendo a principal commodity. O mundo precisa dele para crescer. Mas é um cenário que precisa se estabilizar nos próximos dias, senão vai virar um banho de sangue.