Com algoritmos avaliados em até US$ 200 bilhões e uma base de 170 milhões de usuários nos EUA, o TikTok virou peça central em uma disputa geopolítica entre Washington e Pequim
Com 170 milhões de usuários apenas nos Estados Unidos e uso diário médio de 51 minutos por pessoa, o TikTok se tornou um ativo estratégico cobiçado por grandes nomes do mercado — entre eles Elon Musk, Larry Ellison, Microsoft e até o maior youtuber do mundo, MrBeast.
Diante da pressão do governo de Donald Trump para limitar a atuação da chinesa ByteDance no país, o aplicativo pode acabar nas mãos de investidores ocidentais. O próprio presidente já confirmou que há “muito interesse” na compra da plataforma e revelou conversas com quatro grupos diferentes sobre uma possível transação.
Entre as alternativas discutidas, o presidente mencionou uma possível divisão de propriedade em 50% entre “os Estados Unidos” e a ByteDance, sinalizando um caminho mais diplomático do que uma venda direta. Ainda segundo ele, o destino do app deve ser decidido antes do prazo anteriormente definido para 5 de abril.
Por que os EUA querem banir o TikTok?
O governo dos Estados Unidos argumenta que o TikTok representa um risco significativo à segurança nacional. Entre as principais preocupações estão:
- Coleta de dados sensíveis: o TikTok armazena informações de milhões de usuários americanos, que, segundo autoridades, poderiam ser acessadas pelo governo chinês.
- Espionagem e manipulação de conteúdo: há receios de que a China use o aplicativo para espionagem ou para influenciar de forma sutil as informações consumidas pelos americanos, moldando narrativas e opiniões.
- Leis chinesas de inteligência: a ByteDance está sujeita às normas da China, que exigem cooperação com os serviços de inteligência do país, ampliando os temores de uso político do TikTok.
Entre os nomes cogitados como compradores do TikTok estão:
- Larry Ellison, cofundador da Oracle
- Frank McCourt, bilionário americano
- Kevin O’Leary, investidor conhecido pelo programa Shark Tank
- Alexis Ohanian, cofundador do Reddit
- Jimmy Donaldson, o youtuber MrBeast
- Microsoft, segundo rumores citados pelo próprio Trump
- A startup de busca Perplexity AI, que teria sugerido uma fusão
Para Fabro Steibel, diretor-executivo do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio (ITS-Rio), “o Project Liberty representaria um uso mais social do aplicativo, priorizando a interação entre os usuários e o bem-estar digital”. “O principal entrante seria a Perplexity, concorrente da OpenAI, que busca se posicionar como alternativa tecnológica de destaque”, disse ele em entrevista à EXAME em janeiro.
O desafio da ByteDance
Apesar das ofertas, a controladora do TikTok, tem insistido que não planeja vender a plataforma. Além disso, o algoritmo do TikTok, seu principal ativo, pode ser excluído da negociação devido a a restrições impostas pelo governo chinês, tornando a venda ainda mais complexa.
Segundo Dan Ives, analista da Wedbush, o valor do TikTok varia consideravelmente dependendo de incluir ou não seu algoritmo. Com o algoritmo, a plataforma pode valer até US$ 200 bilhões; sem ele, a avaliação cai para cerca de US$ 40 bilhões.
A China já sinalizou que bloqueará a venda do algoritmo, tornando uma versão americana do TikTok menos competitiva e isolada globalmente. E os desafios técnicos para operar o TikTok sem seu algoritmo são enormes. Reconstruir o feed “Para Você” seria complexo, especialmente considerando que outras empresas já tentaram replicar essa tecnologia sem sucesso. Especialistas apontam que uma venda forçada pode levar à criação de uma versão exclusiva do aplicativo para os EUA, desconectada do resto do mundo, reduzindo o alcance e a atratividade global da plataforma.
A venda forçada é vista como mais um capítulo na disputa entre os EUA e a China. A ByteDance, proprietária do TikTok, resiste à venda devido à necessidade de aprovação do governo chinês, que não quer abrir mão de sua influência sobre a plataforma. Esse cenário cria incertezas legais e políticas sobre o futuro do aplicativo nos Estados Unidos.
Por outro lado, questões de segurança nacional continuam no centro das discussões. Especialistas em cibersegurança apontam que o governo dos EUA considera o TikTok uma ameaça devido ao potencial acesso do governo chinês aos dados dos usuários americanos. Mas críticos argumentam que as evidências contra o aplicativo ainda são amplamente teóricas.
O que acontece se o TikTok for banido?
Caso o TikTok tenha que encerrar suas operações nos EUA, as principais beneficiárias devem ser plataformas rivais como o Instagram Reels e o YouTube Shorts. Ambas já disputam a atenção dos usuários com funcionalidades semelhantes de vídeos curtos.
Segundo especialistas em marketing digital, o efeito dominó pode movimentar bilhões em publicidade. “Diversos diretores de marketing já indicaram que devem redirecionar seus investimentos para o Google e a Meta se o TikTok sair do ar”, afirmou Kelsey Chickering, analista da Forrester.
Além disso, plataformas como Twitch — popular entre gamers, mas em expansão para outros nichos — e o aplicativo chinês Xiaohongshu (conhecido como RedNote no Ocidente) também devem ganhar tração com o o vácuo deixado pelo TikTok.
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Por Tamires Vitoria