Empresa é a primeira no Brasil a obter autorização para estudos com o extrato completo da planta, enquanto concorrentes focam no CBD isolado.
A GreenCare, farmacêutica brasileira especializada em cannabis medicinal, obteve a autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para iniciar pesquisas clínicas visando a produção de medicamentos à base de extrato de cannabis. A empresa se tornou a primeira no Brasil a receber essa aprovação, destacando-se em um mercado onde seus concorrentes trabalham principalmente com CBD isolado. A GreenCare anunciou que está investindo R$ 25 milhões em pesquisa e desenvolvimento para essa área.
De acordo com a regulamentação atual, apenas medicamentos à base de cannabis poderão ser comercializados no Brasil, com um prazo de cinco anos, que expirou em 2024, mas deve ser prorrogado. Durante esse período, as farmacêuticas precisam iniciar estudos clínicos e obter as devidas aprovações da Anvisa para comercializar esses produtos no país.
A autorização obtida pela GreenCare diz respeito ao uso do extrato de cannabis, que contém todos os canabinoides da planta, ao contrário de outras empresas, como a Prati-Donaduzzi, que receberam a aprovação para estudos com CBD isolado, uma das substâncias derivadas da cannabis. Atualmente, cerca de 60% dos produtos à base de cannabis comercializados no Brasil são feitos com CBD, mas os medicamentos com extrato completo da planta têm apresentado maior crescimento no mercado.
Indústria exige regulamentação
A indústria farmacêutica nacional tem pressionado a Anvisa para acelerar a regulamentação de medicamentos à base de cannabis e definir com clareza as regras para a transição entre os produtos importados e os produzidos localmente. Atualmente, muitos produtos à base de cannabis entram no país via importação e não exigem aprovação da Anvisa. Já os medicamentos fabricados no Brasil passam por avaliação rigorosa pela agência reguladora.
Em setembro de 2024, o Sindusfarma, sindicato da indústria farmacêutica, pediu à Anvisa a revogação da resolução RDC 660, que permite a importação de cannabis para fins medicinais. O sindicato argumenta que, com o crescimento do mercado nacional de cannabis medicinal e a aprovação de 37 produtos pela Anvisa, a importação de produtos já não é mais necessária. Além disso, o Sindusfarma destaca que os produtos locais são submetidos a rigorosos processos de aprovação, ao contrário dos importados, que muitas vezes não têm registro como medicamento em seus países de origem.
O volume de importações de produtos à base de cannabis não tem mais o mesmo ritmo de crescimento de anos anteriores. No primeiro semestre de 2024, foram feitas 75,8 mil solicitações de compras de produtos no exterior, representando um aumento de 14,6% em relação ao mesmo período de 2023. Entre 2019 e 2023, no entanto, a demanda por importações dobrava a cada ano.
Enquanto isso, o mercado interno continua em expansão. Entre janeiro e setembro de 2024, foram comercializadas 423,7 mil unidades de produtos à base de cannabis nas farmácias, um aumento de 75,8% em relação ao mesmo período de 2023. As vendas somaram R$ 163,6 milhões, o que representa um incremento de cerca de 35% em relação ao ano anterior. Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Canabinoides (BRCann), os preços dos produtos vendidos nas farmácias caíram 35% nos últimos dois anos, refletindo a maior oferta e a concorrência no mercado.