A nova geração de investidores e consumidores está cada vez mais engajada em temas como proteção ambiental, causas sociais e governança (ESG, na sigla em inglês). Com isso, empresas e governos precisam se adequar se quiserem se manter relevantes no mundo dos negócios para esta e as próximas gerações de investidores. O assunto esteve na pauta da última edição do Fórum Econômico Mundial.
No caso brasileiro, a sustentabilidade é um assunto do tamanho da floresta Amazônica. De acordo com os dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) divulgados no início deste ano, os alertas sobre o desmatamento da Amazônia nos primeiros dois anos do governo de Jair Bolsonaro foram 82% superiores ao registrado nos três anos anteriores. Após as polêmicas envolvendo a questão ambiental, o presidente francês Emmanuel Macron afirmou: “continuar dependendo da soja brasileira é endossar o desmatamento da Amazônia”, acendendo um alerta na comunidade internacional. Nesta sexta-feira (5), o UOL revelou que um documento emitido pela França às organizações não-governamentais e a outros países afirmou: “os países do Mercosul devem respeitar seus compromissos no âmbito do Acordo de Paris, em particular no que diz respeito ao desmatamento”. A França busca aprovar leis que impeçam empresas locais de importar commodities sem o conhecimento de sua origem.
Macron é um crítico da política ambiental brasileira e já trocou farpas com o Bolsonaro sobre o assunto pelas redes sociais. O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, durante a reunião ministerial divulgada em abril de 2020 foi duramente criticado pelas suas falas sobre “passar a boiada” em relação as regras ambientais em benefício do agronegócio enquanto a população estava preocupada com a pandemia. “Tem uma lista enorme, em todos os ministérios que têm papel regulatório aqui, para simplificar. Não precisamos de Congresso”, afirmou Salles. Porém, a repercussão negativa do desmatamento e queimadas e a discussão de Bolsonaro com o líder francês pesam nas negociações do acordo Mercosul-UE – que enfrenta resistência entre os líderes europeus por esse e outros motivos de cunho protecionista. Esta semana, dois fundos escandinavos ligados ao Danske Bank excluíram Cargill, Bunge e ADM, por suas atuações pouco convincentes para conter o desmatamento na Amazônia, Cerrado e Pantanal.
Com todos esses problemas, demonstrar comprometimento aos investidores e consumidores do exterior é um desafio para o governo e as empresas brasileira. De olho na guinada consciente do mundo, a B3 aprimorou seus critérios e lançou o Índice S&P/B3 Brasil ESG, para medir a performance de títulos que cumprem critérios de sustentabilidade e é ponderado pelas pontuações ESG da S&P DJI. O índice exclui ações com base na sua participação em certas atividades comerciais, no seu desempenho em comparação com o Pacto Global da ONU (UNGC, em inglês) e também empresas sem pontuação ESG. Os principais são:
Os 10 primeiros por peso no índice
Constituinte | Ticker | SETOR* |
---|---|---|
Itausa Investimentos Itau S.A Pref | ITSA4 | Financials |
Banco do Brasil | BBAS3 | Financials |
Itau Unibanco Holding SA Pref | ITUB4 | Financials |
Cielo SA | CIEL3 | Information Technology |
Lojas Renner SA | LREN3 | Consumer Discretionary |
Banco Bradesco Pref | BBDC4 | Financials |
Cia Energetica de Minas Gerais Pref | CMIG4 | Utilities |
Natura &Co Holding SA | NTCO3 | Consumer Staples |
Telefonica Brasil S.A. | VIVT3 | Communication Services |
Cogna Educacao S.A. | COGN3 | Consumer Discretionary |
O Tesouro Nacional também deu largada para colocar o Brasil no mapa das emissões de títulos públicos com o selo ESG. Esta é uma garantia de que o país e suas instituições respeitam as normas e de forma documentada. O governo brasileiro segue mapeando as despesas do Orçamento que se enquadram no ESG para atrair investimentos. Até o momento, 22 países já emitem títulos públicos com o selo, porém a entrada do Brasil, que abriga a maior porção da floresta amazônica, é considerada tardia e passível de alguma intromissão.
A Organização das Nações Unidas (ONU) está fazendo a sua parte com os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) por meio da Agenda 2030, que abarca 169 metas. O Banco da América (BofA, na sigla em inglês), olha com interesse para este mercado e não é à toa. Sua pesquisa divulgada em agosto de 2020 apontou que ele tem potencial para US$ 20 trilhões em investimentos, equivalente a 80% do valor de mercado das 500 maiores empresas dos EUA. Além disso, o BofA apontou que os millenials e a geração Z são os mais interessados no assunto, inclusive acima de segmentos como álcool, carnes, carros e viagens.
Em nota, o secretário do Tesouro Nacional do Ministério da Economia, Bruno Funchal, enfatizou que o ESG é um ativo intangível aos investidores externos. “Essa é uma agenda de futuro”, afirmou Funchal. Vale destacar que em 2006, a Iniciativa Financeira do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEP FI, na sigla em inglês) deu início aos incentivos financeiros relacionados de desenvolvimento sustentável para diversos países.
Alguns dos fundos
- O BTG Pactual tem o ESGB11, primeiro ETF, fundo de índice negociado em bolsa que considera aspectos ESG;
- O Constellation Asset Management incentiva empresas e investidores a adotar o ESG e outras boas práticas;
- O Fama Investimentos tem como critério aceitar empresas que tenham o ESG já na cultura das empresas;
- O VRB Fundo só utiliza a taxa de administração para suas despesas e encaminha os investimentos para o bem-estar social.
Em 2018, o Banco Mundial divulgou um documento completo sobre os fatores de incorporação do ESG e investimentos. Confira: