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Investidores exigem mudanças na Rio Tinto após denúncias de estupro e racismo

Consultoria ouviu mais de 10 mil trabalhadores, que revelaram uma cultura interna de abuso, machismo e arrogância que permeia setor de mineração na Austrália

Um relatório interno divulgado na terça-feira (2) revelando casos de agressão sexual, racismo e bullying na mineradora anglo-australiana Rio Tinto faz com que investidores exijam grandes mudanças de conduta interna. O documento de 85 páginas expôs uma rotina de cultura tóxica que frequentemente descaba para atitudes criminosas por parte de gestores de diferentes níveis. A denúncia também destacou que estes comportamentos são constantes e tolerados no setor.

“Queremos ver a normalização de uma abordagem de tolerância zero para agressão sexual e práticas discriminatórias, da mesma forma que temos para zero fatalidades no local de trabalho”, afirmou Camille Simeon, diretora de investimentos da ABRDN, uma das 30 principais investidoras nas ações da Rio Tinto, que está listada em Londres.

Dois outros grandes investidores informaram que planejam falar com a empresa sobre o relatório, mas se recusaram a tecer comentários com antecedência. O fundo de pensão Health Employees Superannuation Trust Australia também disse que estava escrevendo para empresas de mineração para questionar como potenciais problemas semelhantes são abordados diantes de denúncias.

Diante da escassez de mão de obra, as empresas há anos tentam mudar a cultura interna masculina e machista para atrair trabalhadoras. Maior mineradora global, a BHP tem o “objetivo ambicioso” de alcançar o equilíbrio de gênero globalmente até 2025. Investidores e participantes do setor deram crédito à Rio Tinto por divulgar as conclusões condenatórias, alertando que outros também precisavam agir. “Isso não deve ser deixado para a Rio Tinto. É um problema da indústria, da sociedade. Não adianta eles resolverem o problema do lado deles e isso continuar em outros lugares”, exclamou Greg Busson, secretário do Sindicato de Mineração e Energia da Austrália Ocidental.

O episódio é um desdobramento mais amplo das revisões internas da Rio Tinto, promovidas desde que o CEO Jakob Stausholm assumiu, após uma reação contra à destruição das cavernas do Desfiladeiro Juukan, na Áustrália. As formações continham pinturas aborígenes de 46 mil anos que foram dinamitadas para a expansão de uma mina de ferro. Como resultado, 142 pessoas foram punidas e 38 tiveram seus empregos rescindidos.

O grupo de investidores ativistas Market Forces expôs que o caso do Desfiladeiro Juukan resulta de uma cultura de arrogância que vem à tona por meio do relatório.”As conclusões demonstram a necessidade de um maior e mais forte escrutínio dos investidores sobre a Rio Tinto e suas práticas de governança”, disse Will Van De Pol, ativista de gestão de ativos da Market Forces. “Claramente, há uma necessidade de melhorar culturalmente a Rio Tinto e este é mais um momento que precisa catalisar mais mudanças. Seria algo que gostaríamos muito de ver se infiltrar em toda a Rio Tinto”.

Cultura tóxica

O relatório de terça-feira, que levou quase um ano para ser concluído por uma consultoria externa, envolveu respostas de quase um quarto dos 45 mil funcionários da Rio Tinto, que forneceram um visão detalhada das práticas tóxicas no local de trabalho.

Uma trabalhadora descreveu ter sido solicitada a fazer sexo oral em um colega do sexo masculino. Quando o pedido foi relatado, um supervisor disse ter certeza de que o homem estava brincando e que a empresa iria “certificar-se de que você não estaria sozinho com ele”. Outro trabalhador revlou que xingamentos pejorativos cpntra pessoas de cor são rotineiros e aceitos como brincadeiras normais no local de trabalho. Uma funcionária disse que não recomendaria a nenhum amigo trabalhar na empresa. São acusações graves contra uma empresa que afirma publicamente pretender aumentar a diversidade. As mulheres representam 19% da força de trabalho do Rio.

“Outras empresas precisam entender isso como um sinal de que o elemento humano não pode ser ignorado”, disse Katie Mehnert, da Ally Energy, um grupo de networking profissional do setor de energia renovável. “Você pode ter os melhores ativos do planeta, mas se a cultura é um lixo, quem vai querer trabalhar para você?”

Grupos de defesa das mulheres na indústria extrativa saudaram cautelosamente o relatório, que reconhece tacitamente o que muitos na mineração têm sussurrado há anos na Austrália. “Esperamos que este exemplo que a Rio Tinto está dando promova o diálogo e faça com que outras empresas de mineração sigam o exemplo”, disse Barbara Dischinger, diretora da International Women in Mining, com sede em Londres, uma organização sem fins lucrativos que promove a igualdade de gênero na indústria de mineração.

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