Empresa investe R$ 30 milhões em nova fábrica para enfrentar concorrência asiática e fortalecer presença na América do Sul
Conforme informações do site NeoFeed, a Lupo, tradicional fabricante de meias e roupas íntimas, anunciou a construção de sua primeira fábrica fora do Brasil. A nova unidade será instalada em Ciudad del Este, no Paraguai, ampliando a lista de empresas brasileiras que apostam no país vizinho para reduzir custos e aumentar a competitividade. O investimento de R$ 30 milhões reforça a estratégia da companhia para enfrentar o crescimento das importações de produtos asiáticos e fortalecer sua presença no mercado sul-americano.
Competindo com as importações
O avanço das meias importadas no Brasil tem sido um desafio crescente para a Lupo. De acordo com Liliana Aufiero, CEO da empresa, as importações já representam 52% do mercado nacional. “Nosso objetivo com a fábrica no Paraguai é competir diretamente com esses produtos importados e garantir preços mais competitivos no Brasil”, afirmou Aufiero em entrevista ao NeoFeed.
A nova unidade terá capacidade para produzir até 20 milhões de pares de meias por ano e deve começar a operar em plena capacidade na segunda metade de 2026. Atualmente, a Lupo já conta com fábricas em Araraquara (SP), onde fica sua matriz, além de unidades em Itabuna (BA) e Pacatuba (CE), totalizando uma produção de 90 milhões de pares anuais.
Paraguai como destino de investimentos
A decisão da Lupo acompanha uma tendência entre indústrias brasileiras. Nos últimos anos, diversas empresas têm expandido suas operações para o Paraguai, aproveitando benefícios fiscais e custos operacionais mais baixos. Dados do Ministério da Indústria e Comércio do Paraguai indicam que, em 2024, das 332 indústrias operando no país sob o regime da Lei de Maquila, 223 eram brasileiras, representando 69% do total.
Essa legislação garante incentivos como isenção de impostos para produção voltada à exportação e uma taxa reduzida de apenas 1% sobre a receita de exportação. Além disso, o Paraguai oferece energia elétrica mais barata e uma ampla disponibilidade de mão de obra, fatores determinantes para a escolha do país, segundo Carlos Mazzeu, diretor-superintendente da Lupo. “O Paraguai tem uma vocação têxtil e um ambiente de negócios favorável, o que torna o investimento ainda mais atrativo”, explicou.
Impacto no setor têxtil brasileiro
O setor têxtil brasileiro enfrenta um cenário desafiador com a concorrência de produtos asiáticos, especialmente da China, que dominam o mercado global com preços mais baixos. Segundo Fernando Valente Pimentel, diretor-superintendente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), o chamado “custo Brasil” leva empresas nacionais a buscar alternativas para manter a competitividade. “Enquanto o Paraguai oferece um ambiente de negócios amigável, o Brasil continua sendo um país caro para a produção”, afirmou Pimentel.
A situação se agrava com a recente redução das importações chinesas pelos Estados Unidos, o que aumenta a oferta de produtos asiáticos em outros mercados, como o brasileiro. Enquanto o Brasil exporta produtos têxteis a um custo médio de US$ 20 por quilo, os chineses conseguem vender a preços entre US$ 11 e US$ 13 por quilo.
Expansão internacional e futuro da Lupo
Embora a fábrica no Paraguai tenha inicialmente um papel defensivo no mercado de meias, a Lupo também vê na unidade uma oportunidade para crescer na América do Sul. No entanto, segundo Aufiero, a internacionalização da marca ainda não é uma prioridade. “Exportamos, mas em volumes baixos. Não vemos as exportações como um motor de crescimento no curto prazo”, afirmou a CEO.
A companhia, porém, já ensaia seus primeiros passos fora do Brasil. No final de 2024, a Lupo inaugurou sua primeira loja própria no exterior, em Portugal, e abrirá uma segunda unidade no país ainda este ano para atender principalmente o público brasileiro.
Quanto a novos investimentos, a postura da Lupo é cautelosa. “Queremos evoluir com a fábrica no Paraguai e entender qual será o caminho natural dessa operação”, afirmou Mazzeu. Em relação a um eventual IPO, Aufiero sinalizou que a empresa não tem planos concretos de retomar a abertura de capital, suspensa em 2021. “O entusiasmo com o mercado não está grande”, concluiu