Malcolm Gladwell realizou, desde 2000, um sonho dos jornalistas de sua geração (ele tem 56 anos): largar as notícias do dia a dia e viver apenas escrevendo livros. Ele é o CEO Improvável de Money Report na semana em que lança sua sexta obra, “Talking to Strangers”. Este livro tem tudo para ser mais um sucesso de vendas, já que os cinco anteriores permaneceram por semanas na lista das publicações mais vendidas compilada pelo jornal New York Times.
Gladweell tem três características comuns a todos os CEOs: a resiliência, a capacidade de ver o que os demais não enxergam e o talento de explorar positivamente novos mercados.
Seus livros são pensatas muito bem construídas relacionadas a vários assuntos, daquelas que muitos repetem sem questionar ou provocam discussões intermináveis na mente de inúmeros leitores.
Filho de um professor universitário, ele descobriu as bibliotecas da escola onde seu pai ensinava e começou a carreira de leitor voraz aos 11 anos. Suas notas, no entanto, deixavam a desejar. Ao terminar a faculdade, tentou trabalhar em publicidade e logo percebeu que poderia se dar melhor no jornalismo. Em 1987, entrou no Washington Post, onde ficou até 1996. Persistiu na carreira até dominar as artes da escrita e da análise. Gladwell acredita que precisou de 10 anos para isso – ou cerca de 10 000 horas.
Curiosamente, seu primeiro livro – Outliers – ficou conhecido justamente por utilizar a teoria das 10 000 horas para explicar o sucesso de uma pessoa. Segundo essa teoria, levantada por Gladwell e baseada num estudo de 1993, de autoria dos psicólogos Andres Ericsson, Ralf Krampe e Clemens Tesch-Römer, o talento natural não é exatamente uma ferramenta certeira para o sucesso profissional. O que difere alguém mediano daquele que é excepcional seria a prática de 10 000 horas.
Esta experiência seria vital para que a técnica em um determinado campo de atuação seja dominada. Após este domínio, o virtuosismo surgirá inevitavelmente. Um dos exemplos utilizados pelo escritor é o período em que os Beatles foram tocar em Hamburgo, cerca de dois anos. Nestes meses, os músicos teriam passado pelas tais 10 000 horas de experiência que os catapultaria mais tarde ao sucesso mundial.
Gladwell afirma ter passado, ao longo deste período de 10 anos, por uma experiência semelhante. E, a julgar pelo volume de livros vendidos, deve estar certo.
Esta teoria é também um exemplo de como o escritor exerce como poucos a capacidade de enxergar valor naquilo que passa despercebido aos olhos alheios. O estudo que resultou a tão propagada teoria das 10 000 horas era de domínio público desde 1993, mas ninguém havia visto valor naquelas 43 páginas até “Outliers” ser lançado em 2008. Gladwell não só enxergou o potencial daquelas ideias como a batizou com um “catchy name” e ainda buscou vários exemplos que corroborariam a sua tese. O resultado? Mais de 2 milhões de livros vendidos nos Estados Unidos.
Por fim, Gladwell é um autor que não se repete. Está sempre olhando novas abordagens e encontrando explicações para fenômenos do cotidiano que desafiam o senso comum. Em um de seus livros, por exemplo, trata sobre questões relacionadas a educação. E prova, por A mais B, com exemplos práticos, que classes com menos estudantes não necessariamente produzem uma educação de melhor qualidade – desafiando quase que um dogma que é frequentemente pregado pelos educadores. Em outra passagem, mostra que muitas vezes pode ser mais vantajoso, nos Estados Unidos, contratar pessoas que se formaram em universidades de segunda linha do que aqueles que tiraram seus diplomas na chamada Ivy League. Segundo ele, os primeiros alunos de uma faculdade de segunda têm melhor resultados que os piores estudantes de uma escola de primeira. Portanto, não é o caso de se impressionar com um diploma de grife – e sim pesquisar quais foram os resultados universitários dos candidatos a uma vaga.
Em seu último trabalho, “Talking to Strangers”, o nosso CEO Improvável disseca interações entre pessoas e desconhecidos, como por exemplo, o caso de Bernie Madoff, que cometeu uma fraude de US$ 64,8 bilhões, atingindo quase 5 000 clientes, numa espécie de pirâmide financeira que os americanos chamam de “Ponzi Scheme”. Gladwell teoriza sobre a confiança em Madoff depositada, apesar de ganhos incompatíveis com os parâmetros mais agressivos do mercado. E qual seria a explicação? Bem, não vamos estragar a surpresa. Melhor ler diretamente da fonte.