O megainvestidor Warren Buffet tem uma frase célebre: “São necessários 20 anos para construir uma reputação e cinco minutos para arruiná-la”. Buffet disse essa sentença há muitos anos, mas jamais imaginaria que ela poderia servir perfeitamente para definir a situação vivida pelos seus sócios na Heinz, o trio Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira.
O escândalo envolvendo os três controladores do grupo 3G é de proporções inéditas no Brasil: um rombo de operações de crédito não contabilizadas no balanço da Lojas Americanas no valor de R$ 20 bilhões (podendo chegar a R$ 25 bilhões, segundo o colunista Lauro Jardim, de O Globo). O endividamento total da empresa superaria, assim, os R$ 40 bilhões – uma quantia impagável para uma companhia que apresentou lucro de R$ 3 bilhões.
A Americanas tem vários credores: bancos, fornecedores e debenturistas. Neste imbróglio, o BTG Pactual conseguiu congelar R$ 1,2 bilhão que estava depositado na conta da empresa, depois de um recurso impetrado contra a varejista.
O tamanho da fraude assustou a todos. E, talvez pela primeira vez em muitos anos, na disputa entre Americanas e BTG, a comunidade empresarial ficou ao lado de um banco em sua disputa contra uma companhia.
A pendenga serviu também para fustigar a imagem dos três homens mais ricos do país. Um meme que circulou adoidado nas redes sociais mostrava uma publicação (grafada como o livro de cabeceira de Marcel Telles) que ensinava os leitores a atrasar ao máximo os pagamentos de seus fornecedores para turbinar os lucros – assim como seria a gestão de caixa das empresas de Lemann, Telles e Sicupira.
Os próximos passos do caso, agora, são três.
O primeiro: verificar quanto os três principais acionistas da empresa vão aportar para salvar a companhia. O lance inicial foi de R$ 6 bilhões, insuficientes para sanar o caixa da empresa. Os controladores, portanto, serão chamados a colocar mais dinheiro. A expectativa dos analistas de mercado é a de que a trinca de acionistas injete pelo menos R$ 20 bilhões.
O segundo passo vai depender da reação dos investidores americanos – já que a Americanas também tem papeis negociados na Terra do Tio Sam. Trata-se de um solo fértil para ações coletivas que podem pedir indenizações bilionárias.
Por fim, o que fará a Justiça brasileira? Contabilidade é um assunto conhecido por pouquíssimas pessoas. Quantos especialistas no tema devem existir nos tribunais nacionais? Pior que isso: quantos juízes, de fato, podem dizer que entendem os números expostos em um balanço?
Para piorar, a história mostra que as acusações de fraudes contábeis são tratadas a passo de tartaruga pela Polícia Federal ou pela Justiça – por falta de conhecimento ou de interesse em casos do tipo.
A sede por notoriedade que enxergamos nos últimos tempos pelos magistrados, no entanto, pode fazer a diferença nesse caso, que ganhou as manchetes internacionais e colocou na berlinda três dos homens mais ricos do mundo.
Para finalizar, uma dúvida que assola os analistas de mercado: como uma fraude gigantesca, acobertada durante anos, foi descoberta tão rapidamente pela nova gestão da empresa?
Uma resposta
Excelente artigo .
Realmente surpreendente nos tempos atuais.
O que fizeram os Auditores?
Aonde estavam os principais acionistas?
Tá quando achavam que nada seria descoberto?
Quais outras empresas, lógico com rombos menores, estão na mesma situação?