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Recuperar pastagens jogaria R$ 76 bilhões na economia sem derrubar árvores

Brasil tem 28 milhões de hectares degradados que podem ser convertidos à agricultura, reflorestamento ou voltar à pecuária, ampliando o agro enquanto carbono seria capturado e florestas, preservadas

Em um momento crucial para a pecuária brasileira, marcado pela intensificação das discussões sobre o uso sustentável da terra, a Embrapa lançou “Políticas Públicas para Pastagens: da degradação ao uso sustentável”. Elaborado por 13 especialistas, o estudo apresenta recomendações e alternativas para a recuperação de pastagens degradadas, criando uma opção de expansão que evitaria comprometer ainda mais áreas de Cerrado, Pantanal e Amazônia. Em vez disso, fazendas inteiras desgastadas poderiam ser reocupadas no Sudeste, Sul e, claro, Centro-Oeste e Nordeste. Boa parte delas apresentariam a vantagem relativa de maior proximidade de rodovias e distâncias encurtadas dos centros de logística exportadora, reduzindo custos e impactos, enquanto terras inóspitas voltariam a valorizar.

O Brasil possui 160 milhões de hectares de pastagens distribuídos desigualmente (ver mapa abaixo). Destes, estimados 28 milhões são pouco produtivos ou foram abandonados. É uma área total maior que Tocantins e só pouco menor que o Rio Grande do Sul.

A conta não está fechada, porém a recuperação de um hectare severamente degradado custaria entre R$ 1,6 mil e R$ 2,2 mil. De acordo com o Observatório de Bioeconomia da Fundação Getúlio Vargas, a receita potencial seria de mais de R$ 76 bilhões resultando em um lucro de R$ 4 bilhões. Em um cenário menos otimista, a receita seria de R$ 46 bilhões, com lucro de R$ 2,5 bilhões. Em nenhum país economicamente racional dá para deixar tanta terra sem viabilidade.

Já para recuperar e reformar todas as áreas que apresentam algum nível de degradação seriam necessários uns R$ 390 bilhões. Isso só para manter bois no pasto. Porém, o esforço valeria. No Sudeste, “60% das áreas degradadas são de Mata Atlântica, onde os preços dos fertilizantes e corretivos são relativamente menores”, aponta o Observatório.

A iniciativa ganha relevância com o Programa Nacional de Conversão de Pastagens Degradadas em Sistemas de Produção Agropecuários e Florestais Sustentáveis (PNCPD). A intenção é incentivar mecanismos de reengenharia agrícola, fazendo parte do caminho inverso daquele adotado pela Embrapa desde que começou a tropicalizar a produção de grãos de clima temperado para o Cerrado, lá nos anos 1970. Experiente na lida com solos pobres e ácidos, a companhia de pesquisa quer se dedicar a recuperar o maior patrimônio de um país agrícola. E os pesquisadores não estão sozinhos. Iniciativas parecem aqui e ali.

Há pontos em comum com o plano da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) apresentado na COP26, em Glasgow, em outubro de 2021. Essa proposta e a nova ajudariam o Brasil a cumprir a meta de redução de 37% das emissões até 2025 e de 43% até 2030, além da neutralidade nas emissões de gases do efeito estufa até 2060, conforme estabelecido no Acordo de Paris, em 2015. Não seria pouca coisa.

Fonte: Embrapa


No Mato Grosso do Sul, o Instituto Taquari Vivo (ITV) apontou que a recuperação das pastagens na região do Alto Taquari, podem mitigar 42 milhões de toneladas de equivalentes em gás carbônico (MtC02eq/ha).

O rio Taquari é um dos principais formadores do Pantanal. Nascido em Mato Grosso, se estende por mais de 800 quilômetros até o Mato Grosso do Sul. O assoreamento do curso aumentou na década de 1970 com a ocupação de suas cabeceiras e afluentes. Bancos de areia acumularam-se por toda a calha, bloqueando a hidrovia e dificultando o transporte de pessoas, insumos e produção. A seguir veio do desgaste do solo, levado para o leito ou pisoteado pelos rebanhos. Para evitar perdas, desde 2021 produtores tentam criar o consórcio intermunicipal do Alto Taquari para recuperar que até alguns anos era mais produtivo.

Panorama desafiador

Apesar da expertise acumulada, a efetivação é um desafio. Cada área exigirá estudo local. O planejamento das ações “deve levar em consideração informações sobre o ambiente biofísico, a infraestrutura, o meio ambiente e questões socioeconômicas. Além disso, será preciso avaliar o histórico de evolução pecuária no local e entender quais fatores condicionam a adoção dos sistemas vigentes”, descreve o livro.

“Durante as discussões que realizamos junto com o Banco Mundial ficou clara a necessidade do componente educacional e da captação de recursos para o desenvolvimento do Programa de Conversão de Pastagens”, explica a pesquisadora Patrícia Menezes Santos, presidente do portfólio de Pastagens da Embrapa.

A partir do planejamento, será necessário criar condições para o reaproveitamento das áreas: crédito, capacitação dos produtores e assistência. “É preciso integrar políticas públicas, fazer com que os produtores rurais tenham acesso ao crédito, ampliar o serviço de educação no campo, e dar assistência técnica e extensão rural para a estruturação de projetos e para haja um trabalho contínuo e não uma coisa pontual”, assinala o engenheiro agrônomo Eduardo Matos, superintendente de Estratégia da Embrapa.

Essa conversa vai além do Brasil e não envolve, necessariamente, trocar pastagem por plantações. No livro “Cows save the planet”, a pesquisadora e jornalista Judith D. Schwartz mostra cenários alternativos positivos para a degradação ambiental e como o gado, o vilão ambiental nacional junto com os desmatadores, pode ajudar a melhorar a qualidade do alimento. “Em cada caso, nossa capacidade de transformar essas crises em oportunidades depende de como tratamos o solo”, diz.

Oportunidades na conversão

A conversão de pastagens degradadas em sistemas agrícolas ou na recomposição da vegetação nativa apresenta diversas vantagens, como:

  • Aumento da produção e produtividade: a recuperação das áreas permite a intensificação da produção agropecuária, com maior retorno econômico para os produtores.
  • Maior competitividade: a adoção de práticas sustentáveis contribui para a competitividade do agronegócio brasileiro no mercado internacional, cada vez mais exigente em relação à responsabilidade ambiental.
  • Geração de renda e emprego: a recuperação das pastagens gera novas oportunidades de trabalho no campo, impulsionando o desenvolvimento das comunidades locais.
  • Redução da pobreza e das desigualdades: o aumento da renda e a geração de emprego contribuem para a redução da pobreza e das desigualdades sociais no campo.
  • Benefícios ambientais: a recomposição da vegetação nativa e a adoção de práticas agrícolas sustentáveis auxiliam na preservação do meio ambiente, na conservação da biodiversidade e na mitigação das mudanças climáticas.


Caminhos para fazer funcionar

Para que o PNCPD alcance seus objetivos, a Embrapa propõe um conjunto de medidas, como:

  • Padronização do conceito de pastagens degradadas: é fundamental estabelecer uma definição clara e uniforme do que caracteriza uma pastagem degradada, facilitando a identificação e o monitoramento das áreas.
  • Criação de um banco de dados: a construção de um banco de dados abrangente e atualizado sobre as pastagens brasileiras é essencial para subsidiar a tomada de decisões e direcionar as ações de forma eficiente.
  • Aprimoramento de métodos de identificação: o desenvolvimento de métodos mais precisos para identificar pastagens degradadas, utilizando sensores e geotecnologias, é crucial para otimizar o direcionamento dos recursos do programa.
  • Estabelecimento de métricas e indicadores: a definição de métricas e indicadores específicos para avaliar a sustentabilidade da conversão de pastagens permitirá acompanhar o progresso do programa e identificar áreas que necessitam de maior atenção.
  • Priorização de áreas para conversão: a seleção criteriosa das áreas prioritárias para conversão deve considerar aspectos como a vulnerabilidade econômica e social dos territórios, além do potencial ambiental e produtivo das áreas.
  • Estudos sobre as causas da degradação: o aprofundamento do conhecimento sobre as causas da degradação de pastagens, tanto agronômicas quanto não agronômicas, é fundamental para a definição de estratégias mais eficazes de recuperação.
  • Ampliação da educação no campo: o acesso facilitado dos produtores a serviços de educação no campo, assistência técnica e extensão rural é essencial para promover a adoção de práticas sustentáveis de manejo das pastagens.
  • Desenvolvimento de programas de capacitação: a criação de programas de capacitação específicos para cada região e tipo de produtor é fundamental para garantir a efetividade da transferência de conhecimento e a adesão às práticas recomendadas.
  • Captação de recursos: a captação de recursos financeiros para viabilizar o PNCPD é crucial para o sucesso do programa, incluindo a criação de mecanismos inovadores de financiamento para incentivar a conversão de pastagens em sistemas sustentáveis.
  • Expansão da extensão rural: a ampliação dos serviços de extensão


Confira a publicação completa aqui

O que prevê o tópico sobre pastagens no plano de ação agrícola da CNA, de 2021

“[…] Brasil tem sido citado como referência em práticas agrícolas sustentáveis. A experiência gerada ao longo das discussões sobre agricultura dentro do Acordo de Paris mostra a importância e o reconhecimento de que a agropecuária é parte da solução para o enfrentamento das mudanças climáticas globais […] De 2010-2018, a implementação do Plano de Agricultura de Baixo Carbono permitiu a redução de até 170 milhões de toneladas de CO2 eq com a adoção de recuperação de pastagens, plantio direto, fixação biológica de nitrogênio, integração lavoura-pecuária-floresta [imagem de destaque], tratamento de dejetos, entre outras tecnologias. Mais importante, as tecnologias abarcam até 52 milhões de hectares, melhorando a fertilidade e manutenção do solo, permitindo o aumento da produtividade, recuperando áreas degradadas, resultando na produção de mais alimentos na mesma área, adaptando a agricultura para o enfrentamento de impactos das mudanças climáticas.”

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