Nos Estados Unidos, onde boa parte do capital das empresas é pulverizada nas bolsas de valores, o chamado take-over hostil, uma aquisição do controle de uma companhia feita à revelia dos gestores, ocorre com uma certa frequência. Aqui no Brasil, contudo, é algo raro, até porque o mercado de ações ainda não se desenvolveu como deveria. No passado recente, por exemplo, houve duas tentativas de “hostile take-over” na bolsa, ambas frustradas. A da Energisa contra a Eletropaulo, este ano, e em 2006, quando a Sadia tentou adquirir a Perdigão na marra (depois, em 2009, as empresas se fundiriam para formar a BR Foods). Nesta semana, o mercado, em meio ao marasmo do feriadão que emendou Proclamação da República com o Dia da Consciência Negra, foi surpreendido por mais uma tentativa de se comprar uma empresa através do mercado de ações.
Estamos falando da Sapore, que através de sua holding, anunciou que fará uma oferta pública de ações (OPA) para comprar ano mínimo 40% do capital votante da IMC – International Meal Company, que controla redes de fast food como Viena e Frango Assado. O movimento da empresa comandada por Daniel Mendez é feito contra a vontade da diretoria executiva da IMC. Por isso, essa operação é chamada de “hostil”.
As empresas já haviam tentado uma fusão consensual no primeiro semestre e o negócio chegou a ser anunciado. Razões para isso não faltavam. A Sapore, líder no mercado de restaurantes corporativos, no qual a margem é muito baixa, tem forte know-how em processos que reduzem custos na compra e preparação de matéria-prima. A IMC, por sua vez, possui marcas fortes e precisava elevar seu EBTIDA. Ou seja, seria um casamento perfeito na avaliação dos analistas financeiros.
Em setembro, porém, a IMC emitiu um comunicado à Comissão de Valores Mobiliários que estaria desistindo do negócio. No texto, afirmou que “não houve consenso com os representantes da Sapore quanto a certas questões identificadas na auditoria”. Na prática, a IMC levantou suspeitas quanto ao percentual de EBITDA apresentado pela Sapore para que o negócio fosse concretizado – apesar de o balanço da empresa ser auditado pela KPMG, uma das “big four” companhias de auditoria do mundo.
Ao insistir no negócio e partir para o raro mecanismo do take-over hostil, a Sapore mostra que não quer perder um negócio que pode catapultar seus resultados. E, a julgar pela coragem que teve ao partir para a briga aberta, não parece ter nada a esconder do mercado.
Uma resposta
Muito bom.